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October 1, 2017 | Author: Gleyson Starpp | Category: Classical Guitar, Pop Culture, Time, Brazil, Death
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Henrique Pinto O mundo do violão homenageia o mestre

VIOLAO Ano 2 - Número 14 - Outubro 2016 www.violaomais.com.br

Luizinho 7 Cordas Simpatia, competência e personalidade

E mais:

Os destaques da Expomusic 2016 O amigo cavaquinho Jam Origin Midi: tecnologia para cordas Mutirão de viola Movimentos básicos do Flamenco “Tocando em Frente” e “Naquele Tempo”

Geraldo Ribeiro Um dos mais destacados violonistas do país

editorial

Renovação! Neste mais de um ano de caminhada, construímos uma história muito bonita. Na busca pelo melhor conteúdo, vamos nos esmerando, acertando, errando... Mas, sempre fazendo! Aqui, não se peca por omissão. A busca pela melhor matéria, pela coluna que mais atenda à sua necessidade, pela entrevista que lhe traga o novo ou que resgate o que não deveria estar esquecido, tudo isso é feito, vivido, todos os dias. Nesta edição, trazemos o grande Luizinho 7 Cordas, considerado por muitos o melhor do Brasil (não gosto deste tipo de ranking, mas muita gente gosta!), que está completando 70 anos de idade, com grande vitalidade, tocando, dando aulas, gravando, levando seu alto astral a todos que convivem com ele. Na seção Retrato, um resgate importante: Geraldo Ribeiro - grande violonista baiano responsável, ele sim, pelo resgate das obras de Garoto e Armandinho Neves, entre outros - em entrevista de nossa colaboradora Marcia Braga. Trazemos, também, uma homenagem mais do que merecida: há seis anos, perdíamos Henrique Pinto, o homem que revolucionou o ensino de violão no Brasil e formou gerações seguidas de violonistas, com sua didática que pude experimentar por três anos como aluno e o resto da vida, na amizade e em conselhos vitais. Nas colunas técnicas, duas estreias: Saulo Van der Ley e Felipe Coelho. Um, sempre metido em novidades tecnológicas, vai nos trazer este assunto aplicado ao violão. No outro, vi, pela qualidade do trabalho, a medida certa para trazer o Flamenco de volta às nossas páginas. Também falamos sobre a ExpoMusic 2016, e quais foram as nossas impressões. Se você foi, compare com as suas! Esperamos ter acertado mais do que errado, que a revista esteja sendo útil e importante para você o mesmo tanto que é para nós. Luis Stelzer Editor-técnico

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VIOLAO Ano 2 - N° 14 - Outubro 2016

Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados.

Editor-técnico Luis Stelzer [email protected] Colaboraram nesta edição Eduardo Padovan, Fabio Miranda, Felipe Coelho, Luisa Fernanda Hinojosa Streber, Marcia Braga, Reinaldo Garrido Russo, Ricardo Luccas, Rosimary Parra, Samuca Muniz, Saulo Van der Ley, Valéria Diniz e Thales Maestre

índice 4 Você na V+

66 Iniciantes

6 Em Pauta

68 Tecnologia 75 Viola Caipira 78 De Ouvido

10 Retrato

26 Luizinho 7 Cordas

16 Henrique Pinto

40 Mundo

54 Sete Cordas

44 História

58 Em Grupo

82 Flamenco

48 Expomusic

64 Siderurgia

84 Coda

Publisher e jornalista responsável Nilton Corazza (MTb 43.958) [email protected] Gerente Financeiro Regina Sobral [email protected] Diagramação Sergio Coletti [email protected]

Foto de capa Stela Handa Publicidade/anúncios [email protected] Contato [email protected] Sugestões de pauta [email protected]

Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34 Jardim Previdência - São Paulo - SP CEP 04159-000 Telefone: +55 (11) 3807-0626

você na violão+ Edição 13 Mais um número da pesada! (Conrado Paulino, em nossa página no Facebook)

Encordoamento Gostaria de saber se em todas as edições da revista há alguma matéria específica sobre Encordoamento. Tenho pesquisado a respeito de encordoamento de Titânio e Carbono e os melhores fabricantes para corda de nylon. Agradeço e fico no aguardo. (Samuel Maia, por e-mail) R.:Caro Samuel, esse é um dos temas que, frequentemente, abordamos em nossas entrevistas. Temos a certeza de que muitas informações importantes podem ser obtidas nas diversas edições. Mas a sugestão é ótima e vamos abordar esse assunto em breve.

Mostre todo seu talento! Os violonistas do Brasil têm espaço garantido em nossa revista. Como participar: 1. Grave um vídeo de sua performance. 2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço [email protected] 4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com direito a entrevista e publicação de release e contato. Violão+ quer conhecer melhor você, saber sua opinião e manter comunicação constante, trocando experiências e informações. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail [email protected] 4 • VIOLÃO+

você na violão+

vIDA LONGA Não é segredo que comando uma Orquestra de Violões em São Paulo, já há muitos anos (27, para ser exato). Então, tenho alguma experiência no assunto e conheço muitas orquestras de violões pelo Brasil afora. Fiquei muito feliz ao receber o contato da Orquestra de Violões de Brasília, que acaba de completar 25 anos de existência. Além de dar os parabéns aos fundadores, violonistas, e àqueles que já passaram ou que estão no grupo, não tenho como deixar de comentar sobre a qualidade e a competência de todos. Ouvi, depois ouvi de novo, e adorei! Qualidade nos arranjos, equilíbrio nas sonoridades, delicadeza e agres-

sividade bem combinadas. É um trabalho maduro. Que dure muitos e muitos anos. Para exemplificar, escolhi, entre diversas faixas,”Loro”, de Egberto Gismonti, meu compositor favorito. Ela está no segundo CD do grupo, À Moda Brasileira, exclusivamente dedicado à música brasileira, com arranjos próprios, em uma nova viagem pela diversidade sonora dos violões. A direção esteve sob batuta dos violonistas Jaime Ernest Dias e Paulo André Tavares, a quem foi dedicado o disco. A Produção Executiva é de outra integrante da Orquestra, Simone Lacorte. A apresentação do CD, inserida no encarte, é assinada pelo violonista carioca Guinga.

VIOLÃO+ • 5

EM PAUTA

ENTRECUERDAS O músico catarinense Ricardo Pauletti se apresentou na 17ª edição do Festival Internacional de Violão Entrecuerdas, no Chile, considerado um dos maiores festivais do instrumento das Américas. Pauletti foi o representante do violão brasileiro e do choro, fazendo cinco apresentações em diferentes cidades daquele País. O violonista, compositor e arranjador estudou violão erudito no Brasil e na Espanha e, após receber orientação de Luiz Otávio Braga e Maurício Carrilho, passou a se dedicar ao choro e ao violão de 7 cordas. Com dois álbuns (Variações Brasileiras e Choro de Faia) e um DVD (Ricardo Pauletti Trio) lançados, o músico desenvolve também carreira acadêmica atuando como professor de violão, arranjo, prática de choro e prática de conjunto no Conservatório de Música Popular de Itajaí, desde 2009. Como produtor cultural é um dos idealizadores do Seminário de Violão de Itajaí, que já contou com a participação de alguns dos principais nomes no Brasil como Yamandu Costa, Marco Pereira, Paulo Belinatti, Duo Siqueira Lima, Marcus Tardelli, Daniel Wolff, Conrado Paulino, Paulo Porto Alegre, Alessandro Penezzi, Henrique Pinto, Marcus Llerena e Glauber Rocha, dentre outros.

6 • VIOLÃO+

EM PAUTA Almir Sater e Renato Teixeira foram indicados ao Grammy Latino em duas categorias: Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras por Ar, e Melhor Canção em Língua Portuguesa, por “D de Destino”. A cerimônia de premiação será realizada em Las Vegas, no dia 17 de novembro.

INDICADOS

No dia 31 de outubro, o mestre Luizinho 7 Cordas (veja matéria nesta edição) comemora 70 anos de idade, e o Espaço Uirapuru - centro de ensino musical onde Luizinho leciona e está à frente em parceria com os músicos Euclides Marques e Zé Garcez - celebra a data com atrações musicais que fazem jus à grandeza do mestre. Entre as apresentações, o consagrado duo Euclides Marques & Luizinho 7 Cordas - bastante elogiado pela crítica musical, relembrando o trabalho do CD Remexendo - e o Quarteto Roda de Choro, do qual Luizinho faz parte há nove anos.

LUIZINHO 70

VIOLÃO+ • 7

ESTREIA

EM PAUTA

Formado por Everton Gloeden, Tadeu do Amaral, Luiz Mantovani e Gustavo Costa, o Quarteto Brasileiro de Violões faz, no mês de outubro, sua estreia na Sala São Paulo, com a OSESP, sob a regência de Marin Alsop, e também toca no MASP – Museu de Arte de São Paulo. Vencedor do Grammy Latino de 2011 na categoria Melhor Álbum De Música Clássica, o Quarteto Brasileiro de Violões consolidou-se como um dos principais conjuntos violonísticos no cenário internacional. Aclamado pelo jornal Washington Post por seu “gusto virtuosístico” e “beleza sedutora”, o grupo se diferencia pela presença dos violões de oito cordas de tessitura estendida que, aliados aos instrumentos tradicionais de seis cordas, permite a exploração de um repertório inédito e inusitado dentro do universo das cordas. Em seus mais de dez anos de existência, o Quarteto já realizou mais de 250 concertos nas Américas, Europa, Ásia e Oceania, frequentemente conquistando reações arrebatadoras das plateias, críticas entusiasmadas da imprensa e teatros lotados.

8 • VIOLÃO+

SETE

O violonista e compositor portoalegrense Marcos Davi está lançando Sete, seu novo CD, gravado entre Brasil e França, que deriva de vários trabalhos, pois, por critérios diversos, algumas faixas deixaram de entrar em outros projetos. “Eleanor Rigby”, gravada com Ulisses Rocha, por exemplo, era parte de um DVD. Apesar de ser um trabalho essencialmente instrumental, o álbum traz uma música cantada pela cantora francesa Lucie Etienne (“Prá Dizer Adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto).

CONCURSO

Dias 12 e 13 de novembro de 2016, a Faculdade e Conservatório Souza Lima irá realizar seu já tradicional Concurso de Violão, agora em sua edição de número 27. Com Coordenação Artística de Sidney Molina, o concurso será franqueado a violonistas de ambos os sexos, de quaisquer nacionalidades e tem entre as premiações três violões Samuel Carvalho. As inscrições deverão ser feitas até o dia 4 de novembro de 2016 impreterivelmente, no site da instituição, onde podem ser encontradas todas as informações: http://souzalima.com.br. VIOLÃO+ • 9

RETRATO

Uma grande história

Por Marcia Braga

Violonista, compositor e arranjador, Geraldo Ribeiro é um dos mais destacados violonistas do país. Compôs cerca de 300 obras para violão solo e diferentes formações – violão e orquestra, duos e quartetos - e destaca-se por seu pioneirismo no resgate de obras de importantes violonistas e compositores e por performances memoráveis que marcaram a história do País

Baiano de Mundo Novo, Geraldo Ribeiro interessou-se pelo violão desde pequeno, quando ouvia os violonistas da região. Ainda na infância, ganhou um disco do mineiro Mozart Bicalho e, ao ouvi-lo, seu interesse pelo instrumento se consolidou. Em São Paulo, teve seu primeiro contato pedagógico com o violão por meio de método prático do célebre violonista Américo Jacomino (Canhoto). Autodidata, passou a conhecer as obras de outros nomes importantes como Dilermando Reis, Aníbal Augusto Sardinha (Garoto) e Abel Fleury. Ao receber aulas do professor Oscar Magalhães Guerra, o mesmo lhe apresentou a obra de Francisco Tárrega, entre outros importantes compositores. Geraldo Ribeiro faz parte do seletíssimo grupo de violonistas que tocou no Teatro Municipal de São Paulo, onde apresentou 10 • VIOLÃO+

o célebre “Moto Perpétuo”, de Paganini, em transcrição para violão de sua autoria (em primeira audição mundial). Suas gravações são referência para quem é concertista. Como professor, lecionou na Universidade Nacional de Brasília (UNB) - tendo sido o primeiro violonista brasileiro a lecionar em uma universidade – e no Conservatório de Tatuí (de 1983 a 2008). Mesmo assim, quando se fala de Geraldo Ribeiro, muita gente não o conhece. Seu olhar pioneiro sobre obras de Garoto, Armando Neves e outros, inspira os que o seguem, mas pouco se diz. Nas homenagens a Garoto, recentemente, por ocasião do seu centenário de nascimento, um documentário lançado e...nenhuma citação. VIOLÃO+ quer ajudar a mudar essa história, que não merece o esquecimento.

RETRATO Geraldo Ribeiro

VIOLÃO+ • 11

RETRATO

Violão+: Como teve contato com a obra do Garoto? Geraldo Ribeiro - Meu pai comprou um radinho e eu ficava fuçando até que consegui pegar. Primeiro, um violonista com uns sons bonitos: era o Dilermando Reis. Me parece que ele tinha um programa na Rádio Clube do Brasil, quintas-feiras à noite, às 21h. Uma vez por semana e ao vivo. Só depois encontrei Garoto, que tinha um programa na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Era uma hora por semana, se me lembro bem, todas as segundasfeiras às 13h. Então, você Dilermando... 12 • VIOLÃO+

começou

Acontece que, nessa época, o mais famoso era Dilermando. Era assim o prefixo do Garoto: ele tocando as cordas soltas do violão, da sexta a primeira e vice-versa, em um acelerando. Finalizava com a canção, “A Voz do Violão”, de Francisco Alves. Os programas eram ao vivo e Garoto tocava não só composições próprias, como outras de célebrescomo Tárrega. Garoto estudou com Atílio Bernardini.

E qual foi a trajetória até a gravação do disco? Como conseguiu os originais? Tirou de ouvido? Somente depois de muitos anos (pois ouvindo naquela época eu nem sabia escrever música, devia ter uns 12 ou13 anos),

RETRATO quando já estava em São Paulo, lá por volta do finalzinho dos anos 70, que transcrevi umas 15 composições do Garoto, muitas dadas diretamente pelo Ronoel Simões, que pagou para um profissional em gravações gravar o próprio Garoto. Depois de transcrevê-las, em uma conversa com Olavo Rodrigues Nunes - um escritor que depois se tornou advogado - fiquei incentivado a gravar um LP somente com músicas de Garoto. Isso aconteceu em 1980, ou seja, 25 anos após a morte do compositor. Qual foi para você a grande contribuição do Garoto compositor? Foi ter modernizado a música popular brasileira, utilizando um material harmônico novo, baseado em acordes dissonantes, extraídos do jazz. Acho que ele vislumbrou não só a bossa nova, pois ela é bem mais fraca do que suas composições (risos).

Sem contar com as gravações que você está fazendo agora, o disco do garoto foi que número? Foi o sétimo que gravei, lembrando que o “Noite de Gala” era um álbum duplo e foi gravado ao vivo na apresentação que fiz no Teatro Municipal de São Paulo. Você chegou a dar concertos tocando Garoto? Somente Garoto, não. Eu sempre colocava algumas músicas conforme o concerto. No último concerto que fez na cidade do Rio de Janeiro, você se lembra qual composição de Garoto você apresentou? Acho que a “Debussyana”. Quem promoveu essa apresentação foi meu amigo Sérgio de Pina, violonista querido, já falecido.

VIOLÃO+ • 13

RETRATO Você fez uma citação no início desse nosso bate-papo das palavras de Jesus: “Batei e abrir-se-vos-á”. O que você quis dizer com tão sublimes palavras? Como foi a história da sua passagem pelos Estados Unidos? (Geraldo deu a entender que suas portas não foram nada fáceis de abrir quando estava em sua plenitude. Que, mesmo assim, ele voltou-se totalmente para o violão e as foi abrindo sozinho, até que aos 40 anos de idade, tentou abrir uma grande porta, indo residir na América do Norte, no bairro de Queens, em Nova Iorque, onde lá viveu por quase dois anos, morando primeiro na casa de um casal de portugueses e logo depois na casa de um casal americano). A minha finalidade em Nova Iorque

14 • VIOLÃO+

era fazer um teste para a RCA Victor, mas enquanto estive morando com os portugueses, não me era me permitido estudar. Já na casa dos americanos, fiquei por pouco tempo, pois logo fui morar no Hotel Savoy. Depois de uma temporada que fiquei por lá, tive de voltar ao Brasil para resolver problemas com minha casa, que eu havia vendido e a pessoa não me enviava o dinheiro como o combinado. Devia ter ouvido o conselho de deixar essa casa para lá e ter continuado com meus propósitos de realizar minhas gravações. Tive assim de voltar ao Brasil e, em 1982, fui convidado a dar aulas no Festival de Inverno em Campos do Jordão. No ano seguinte, fui novamente convidado a dar aulas também em Tatuí, onde permaneço até hoje.

RETRATO

Você saberia dar sua interpretação do fato de, apesar de toda a sua vontade, de todo seu talento e de toda sua competência como músico violonista e compositor, tão poucas pessoas saberem quem é Geraldo Ribeiro? Não culpo ninguém e não é uma questão de injustiça. Aí é o seguinte: se nem meus próprios parentes me valorizaram, o que dirão os que estão fora? É uma arte difícil, a música erudita. A popular tem mais abertura, mas eu não estou tão isolado. Os meus discos estão aí, e uma hora dessas alguém pode estar ouvindo algum deles. Se não me convidam para tocar é porque não querem, mas eles sabem da minha existência. E tenho de respeitar isso. É um direito que eles têm e o meu é prosseguir como sou e como sinto as coisas.

E como é isso? Devo continuar estudando e tocando como sinto. É como Jesus disse: “Ninguém pode esconder um alqueire debaixo de uma mesa”. Se a pessoa tiver valor, ele vai aparecer, quer queira, quer não. Eu acredito nessa possibilidade. Por isso, insisto e continuo tocando. Quando uma pessoa desiste do que quer é porque não crê em si mesma. Eu sempre procuro acreditar naquilo que faço, sem medir as dificuldades que normalmente surgem no decorrer da vida. O que você mais deseja que se realize? O que sempre foram os meus propósitos: aquilo que fiz desejo continuar fazendo e, espero, todos os dias fazer o melhor possível. VIOLÃO+ • 15

ESPECIAL henrique pinto

Por Luis Stelzer

O mestre dos mestres Ao relembrar seis anos do falecimento de Henrique Pinto, Violão+ convidou violonistas, professores e luthiers para falar sobre sua importância para o desenvolvimento do violão brasileiro

“Henrique Pinto para mim, foi um enorme norte, mesmo não tendo sido aluno direto dele - fui aluno de alunos dele como Isidoro Cordeiro e Angela Muner, por exemplo. Violões que tive de alguma forma passaram pelo olhar crítico dele, como meus C3 e C7 da Giannini e até o Sergio Abreu. Foi além de grande violonista e didata do violão, alguém que unia, em São Paulo, os violonistas em torno da cultura do instrumento. Participei desde adolescente, no início da década de 1980, dos Seminários e Concursos de Violão promovidos por ele e era uma grande oportunidade de troca de conhecimento e experiências, encontros estes que deixam saudade, pois, lá vimos aparecer grande parte dos nomes ligado ao violão até os dias de hoje, desde professores, luthiers e concertistas até amantes do instrumento - papel que ninguém ainda conseguiu assumir e que faz falta ainda em nosso meio.” Ricardo Luccas – violonista, professor e pedagogo 16 • VIOLÃO+

“Que Henrique Pinto foi um grande professor, músico, trabalhador incansável, todo mundo sabe. Tive o privilégio de ser seu aluno desde o segundo ano da Faculdade de Música na Universidade São Judas Tadeu, em 1986. Me formei no ano seguinte e fiz aulas com ele até 1989. Nesse meio tempo, participei do Violão Câmara Trio, ao lado de Henrique e Giacomo Bartoloni, meus dois mestres. Essa convivência me deu oportunidade de conhecer outros aspectos de sua personalidade: seu bom humor, seu vício em salgadinhos (pastéis e coxinhas eram os preferidos), sua risada, sua belíssima caligrafia. Quis o destino que eu não me tornasse um grande violonista, mas valeu a pena ter conhecido Henrique e aprender com ele o valor do esforço, da perseverança. Já são seis anos sem ele, e ainda sou capaz de detectar seus traços nos gestos e falas de seus ex-alunos com que ainda convivo. Valeu, Henrique.” Paulo de Tarso Salles – compositor, arranjador, violonista, professor

ESPECIAL henrique pinto “A amizade começa com amor ao primeiro encontro. Era professor de música na Faculdade São Judas Tadeu onde Henrique dirigia o curso de violão. Na primeira reunião, percebi o porte e a envergadura de quem conhecia pelos livros e métodos. De primeira, ficamos amigos, pois o mesmo pensamento musical nos aproximava e os objetivos eram afins, afora a impressão que tive quanto à personalidade forte e bondosa. Bem, tratava-se de um titã. Ele, como toda pessoa intuitiva que era, observou em mim muitos aspectos que eu mesmo não havia detectado e convidou-me a participar, como jurado, dos concursos que promovia, e também como professor dos cursos de nível nacional que produzia e dirigia. Henrique, Ângela Muner e eu formamos um grupo para estudar com o professor Ricardo Risek, o que nos aproximou ainda mais. Não é necessário dizer sobre a gratidão que tenho em ter trabalhado e ter sido amigo do maior e melhor professor do instrumento que tanto amo. Aprendi com o mestre por seis meses que valeram para a vida toda. Henrique tinha visão global e era um produtor. O dom de ver economia e progresso financeiro era enorme nele e isso teve um impacto muito grande em muitos discípulos e eu não estava fora dessa turma. Infelizmente, conheci ingratos, hoje doutores, que negligenciam o nome do mestre em seus currículos, pelo simples fato de Henrique Pinto não ter feito o mestrado. Precisava de um mestrado, de um doutorado? Hoje mesmo, assistindo no Youtube alguém falar sobre gratidão, e com o impulso do espírito, repliquei a postagem escrevendo o nome do mestre Henrique Pinto, pois a saudade é a palavra de efeito maior em meu coração.” Reinaldo Garrido Russo, violonista, professor, maestro, regente de coral, compositor e arranjador. “Henrique Pinto foi um dos mais importantes professores de violão da história. Figura de carisma ímpar, centrou seus ensinamentos e obras didáticas na escola de Abel Carlevaro, formando várias gerações de violonistas profissionais no Brasil. Conheci o Henrique por meio da excelente violonista Ana Bedaque, no início dos anos 80. Generoso, ele imediatamente se prontificou a me orientar e nunca me cobrou um centavo pelas aulas que me deu. Sua influência na minha vida pessoal - e musical - é sem precedentes. Creio que suas principais características como professor eram: desenvolver no aluno uma sonoridade limpa e bela, um senso estético musical sempre centrado na ideia do compositor, e o pleno conhecimento das possibilidades técnicas do instrumento. Entusiasta do violão, ele criava oportunidades profissionais para seus alunos por meio de séries de concertos e festivais. Henrique era uma figura muito humana e carinhosa e, literalmente, adotava seus alunos. Aqueles que tiveram a sorte de fazer parte desta família, certamente sentem sua ausência com pesar e saudades.” Paulo Martelli – concertista internacional, idealizador o diretor do Movimento Violão VIOLÃO+ • 17

ESPECIAL henrique pinto “Conheci o Henrique em 1996, em Varginha, Minas Gerais, no Conservatório Estadual Marciliano Braga, onde eu estudava na época. Foi um momento incrível. Eu iria fazer meu primeiro recital de violão, e na plateia, estava ninguém menos que Henrique Pinto. Depois disso, voltaria a reencontrá-lo no X Concurso Nacional de Violão Souza Lima em 1999 e daí em diante me tornaria seu aluno, pimeiramente com aulas particulares e, depois, na Faculdade de Artes Alcântara Machado. Nos anos seguintes eu começaria minha carreira profissional e, além de um professor dedicado, Henrique me deu total apoio e incentivo, emprestandome um de seus melhores violões (um Sergio Abreu, de 1987, que mais tarde eu compraria e que está comigo até hoje). Sob sua orientação, formei com Cecilia Siqueira o duo Siqueira Lima, trabalho que ele acompanhou de perto, nos aconselhando tanto tecnicamente como na escolha do repertório. Também nos abriu os primeiros espaços para recitais nos inúmeros eventos que organizava. Entre tudo que aprendi com o mestre, creio que o

que mais me influenciou foi a busca pelo perfeccionismo e pela sonoridade ideal. Ele dizia que “música é som” e, portanto, a sonoridade deveria ser nossa principal preocupação. Em resumo, Henrique fez parte de todos os passos importantes de minha vida musical e se tornou um amigo para todos os momentos. Foi, inclusive, padrinho de casamento. Atualmente, ocupando seu lugar na Faculdade Cantareira - cargo que me transferiu pouco tempo antes de sua morte - me sinto com uma responsabilidade imensa por estar dando continuidade nesta pequena parte de seu trabalho pedagógico. Seu legado seguirá por muitas gerações por meio de seus inúmeros alunos espalhado por todo mundo. Portanto, só temos a dizer: obrigado, Henrique!” Fernando de Lima – violonista, concertista, arranjador – Duo Siqueira-Lima

“Henrique Pinto é meu avô musical, foi professor do meu pai e mestre Giacomo Bartoloni por mais de dez anos. Também fui aluno dele por um período relativamente curto, de 18 meses, entre 1998 e 2000. Aprendi muito mas, mais do que isso, sem o Henrique minha vida seria completamente diferente. Na verdade, minha existência está relacionada ao fato do meu pai ter se tornado violonista e todo o direcionamento que o Henrique ajudou a dar em sua vida. De qualquer maneira, com o Henrique eu aperfeiçoei minha sonoridade, e aprendi a ser um professor melhor tendo ele como modelo. Mais que isso, eu devo minha vida a ele.” Fábio Bartoloni – violonista, professor, mestre em música. 18 • VIOLÃO+

ESPECIAL henrique pinto “Henrique Pinto se preparou muito bem para ser o melhor professor de violão de seu tempo. Em primeiro lugar, porque ele, de fato, estudou com Abel Carlevaro tempo suficiente para absorver consistentemente os princípios de sua técnica, que era, então, revolucionária; em segundo lugar, porque não ficou restrito a ela: em uma época em que havia surgido também o Duo Abreu com quem ele conviveu e a quem observou com olhar de especialista, principalmente no que se refere à mão direita e sonoridade - chegou a uma abordagem que acabaria por se tornar a marca registrada do violão clássico brasileiro, uma contribuição sua que certamente ajudou no destaque de um grande número de concertistas e grupos de câmara brasileiros que começaram a ter uma inédita projeção internacional a partir dos anos 1990 a 2000. Exemplos são Fabio Zanon, Angela Muner, membros do Quaternaglia e do Brazilian Guitar Quartet, Paulo Martelli, Brasil Guitar Duo e Duo Siqueira Lima, entre muitos outros. Em terceiro lugar - e isso é o mais decisivo - porque Henrique não focou a sua atividade pedagógica apenas em formar concertistas, já que trabalhava com adolescentes, jovens e diletantes com a mesma paixão. Ainda assim, foi um dos pioneiros do ensino universitário do instrumento: como professor do FIAM FAAM desde 1974 - o mais antigo curso superior de bacharelado em violão de São Paulo ainda em atividade - preparou o terreno para a (tardia) incorporação do violão

nas universidades públicas do Estado. Paralelamente, sabia que os alunos precisavam de espaços e situações para tocar, e por isso criou seminários, cursos e concursos. Se for para citar uma única qualidade de sua didática, diria que ele tinha uma leitura profunda e direta das características mecânico-musicais de seus alunos, o que lhe permitia escolher, sempre, o melhor conjunto de peças para eles. Simplesmente os seus alunos evoluíam mais do que os outros, a prática funcionava, gerava motivação para o estudo. Henrique Pinto foi o melhor professor de violão de sua geração.” Sidney Molina - violonista do Quaternaglia, professor do FIAM FAAM em São Paulo, do Instituto Carlos Gomes em Belém (PA) e crítico de música da Folha de S. Paulo. É coordenador do Concurso de Violão Souza Lima. VIOLÃO+ • 19

ESPECIAL henrique pinto “Me lembro bem da primeira vez que me encontrei com o Henrique Pinto. Sim, por um motivo simples: esse encontro mudou definitivamente a minha vida, tendo sido importante por vários motivos. Foi por uma jogada da sorte. O ano era 1988, e eu estava entrando na Estação Vergueiro do Metrô (São Paulo), quando recebi e comecei a ler o jornal Metro News. Na seção de anúncios, estava a informação de um curso gratuito de violão clássico a ser realizado na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, no Centro da capital, sob direção do Henrique Pinto. Eu, obviamente, já o conhecia pelos seus métodos (que nunca utilizei, já que passei minha infância estudando os métodos de Isaías Sávio, mestre de Henrique Pinto, aliás), e essa era a oportunidade de ver como ele era como professor, e como eram seus alunos enquanto concertistas. O curso estava lotado. A Biblioteca respirava violão, e todos os participantes estavam eufóricos. Entre as atrações estavam alunos de destaque, como Paulo Pedrassoli Jr (ele ainda assinava o “Jr.”), Breno Chaves (que naqueles mesmos dias concorreria pelo Prêmio Eldorado, o mais importante do Brasil naquela época) e o aluno que eu mais gostei, Paulo de Tarso Salles, que além de excepcional violonista era (ainda é) também excepcional compositor. A grande atração foi a apresentação do Violão Câmara Trio, que faria sua última performance tendo como integrante Giácomo Bartoloni. Por ter acabado de assumir a vaga de 20 • VIOLÃO+

professor na UNESP, com dedicação exclusiva, ele teria que deixar o grupo e seguir essencialmente uma carreira acadêmica (ou pelo menos com menor quantidade de recitais). A aula didática (masterclass) de Henrique Pinto foi inesquecível. Ele passava a impressão de saber tudo relacionado ao instrumento - técnica, interpretação, história, o diabo. E também conduzia a Mostra com total propriedade, do primeiro ao último dia. Esse evento foi também importante por eu conhecer meu primeiro amigoviolonista que se tornou profissional: Flávio Apro, que, na época, era mais um talentoso discípulo de Henrique Pinto. Eu viria a assistir vários outros eventos organizados pelo célebre didata, tanto no Brasil quanto no exterior. Sua participação no Festival Agustin Barrios de 1994 (cinquentenário do violonista paraguaio) em Assunção, Paraguai, deixou uma excelente impressão em todos os participantes, especialmente nos violonistas estrangeiros. E eu pude também ver o nascimento e amadurecimento tanto do Concurso Souza Lima quanto do Seminário de mesmo nome, no início da década de 1990. Uma das grandes honras da minha vida,

ESPECIAL henrique pinto sem dúvida, foi ter sido jurado ao lado de Henrique Pinto em uma das edições do FENAVIP (Festival Nacional de Violão do Piauí). Nessa mesma edição, todos os participantes (eu, Ana Vidovic, Henrique Pinto, João Carlos Victor, Nonato Luiz, Erisvaldo Borges e Sebastião Tapajós) tocaram no encerramento uma música em conjunto, tendo como maestro – quem mais? – o próprio Henrique. Daí, pude observar, também, toda a sua lendária tensão e nervosismo para se apresentar. Mas mesmo assim ele foi fantástico, e sua presença deu um ar ainda mais digno à apresentação. Nos eventos que ele organizou (Violão no MASP, Seminário Souza Lima etc) era folclórica, também, a maneira que ele nos convidava para tocar: geralmente, ele telefonava por volta das 06:00 horas da manhã, pedindo resposta urgente se aceitaríamos ou não tocar em seus eventos. Então, tínhamos que enviar por fax (quando ainda não existia internet) o programa e o currículo, naquele mesmo dia, sem falta. Ele acordava cedo para aproveitar bem o dia, mas também para dar conta das dezenas de aulas diárias, tanto particulares quanto nas escolas públicas e universidades particulares que ele lecionou (FAAM, Universidade São Judas Tadeu etc). Quando criei o Concurso Nacional Musicalis, em 1997, a primeira atitude que tomei foi telefonar para o Henrique Pinto, com o intuito de pedir suas dicas para fazer dar certo o evento, mas, no fundo, para pedir sua benção em relação àquele concurso. Ele foi extremamente generoso, e já na primeira edição marcou presença na etapa final do certame, sendo sua

presença aplaudida pela plateia. A benção estava dada. Henrique Pinto foi importante em todos os aspectos em que atuou, seja na área didática, na interpretação, na organização de eventos e até mesmo na ampliação do repertório camerístico brasileiro para violão, especialmente nas obras para Trio de Violões (pelo Violão Câmara Trio) e nas de Flauta e Violão (por seu duo com o flautista Jean Noel Saghaard). No final de sua vida, Henrique também foi um exemplo de comprometimento com o violão por ser presença constante nos recitais do instrumento, numa época em que as salas de concerto estavam cada vez menos frequentadas, talvez por causa do Youtube. Henrique assistia a essencialmente todos os recitais que podia, seja na capital, seja no interior. Henrique Pinto faz falta. Mesmo que discípulos e amigos continuem seu legado na organização de eventos, nos recitais camerísticos ou nas universidades, sua maestria em ensinar pessoas de todas as idades a tirarem uma sonoridade expressiva e possante do violão não tem paralelo na história da didática nacional, mesmo com os vários e excelentes professores brasileiros. O trabalho de base da técnica tinha em Henrique Pinto um mestre insuperável. Tenho orgulho de ter sido contemporâneo, amigo e companheiro de profissão de Henrique Pinto. Onde quer que esteja, receba meu forte abraço, e minhas saudades.” Gilson Antunes - violonista, concertista, doutor em música, professor da Universidade Federal da Paraíba. VIOLÃO+ • 21

ESPECIAL henrique pinto “Não sei como nem em que ano o Henrique apareceu em casa... Naquele tempo, meu pai era relativamente moço e era o professor da moda, pois eu já tinha começado a dar concertos e me tornava muito conhecida. Talvez final dos anos 50, começo dos anos 60. A minha impressão era que o Henrique fosse uma criança, pois, além de pequeno, era extremamente magro, impressão essa que se revelou falsa, pois ele era mais velho que eu! Meu pai começou as aulas e logo se entusiasmou com o talento, a facilidade e a “paixão” que o novo aluno demonstrava. Assim se passaram os anos: o Henrique progredindo a largos passos, tanto na técnica como na musicalidade, e meu pai dando as aulas gratuitamente (pois havia dificuldades financeiras) para o aluno querido. O Henrique era muito meu amigo. Depois da aula, minha mãe sempre preparava algo para ele comer. Ele ficava lá em casa, como um filho do “violão”. Quando comecei minhas viagens para a Europa, era o Henrique quem me “substituia”, tanto em casa, como também ficava com meus “aluninhos”. Não sei em que ano o Henrique desapareceu de casa, nem qual foi o motivo do desaparecimento.... Meu pai ficou muito triste, mas como era pessoa que vivia com certa filosofia, continuou seu imenso trabalho com outros alunos talentosos. Algum tempo depois soubemos que foi ser discípulo de meu tio Savio. Em 2009, quando decidi fazer uma homenagem aos 100 anos de meu pai, entrei em 22 • VIOLÃO+

contato novamente com o Henrique. Ele tinha se transformado no professor de quase todos violonistas de São Paulo. Nos vimos na noite do célebre “apagão”. Após tantos anos (quarenta!), o menino franzino da minha infância tinha se transfigurado em um homem encorpado, cabelos brancos, mas com o mesmo brilho no olhar da juventude. Preparamos um concerto no MASP e nos lançamos na última “aventura violonística”. Preparei um recital solo e alguns duetos, algumas vezes ele parava e dizia que não estava mais em forma, mas, mesmo assim, a boa escola São Marcos estava intacta, posição da mão direita - tão importante para a sonoridade - e esquerda, no que diz respeito à segurança das mudanças de trastes. Lá estava o velho São Marcos! Para mim, foi uma verdadeira revelação constatar como o começo da aprendizagem de um instrumento é tão importante. Pouco tempo depois, um ano exatamente, partia meu amigo Henrique. Quem sabe foi encontrar meu pai e Savio em outro plano para continuar a falar de violão! Onde você estiver Henrique, seremos sempre amigos.” Maria Lívia São Marcos - violonista, concertista internacional

ESPECIAL henrique pinto “Conheci o Henrique na década de 1970. Ao ouvir uma apresentação de seus alunos na ProArte, em São Paulo, em 1975, me tornei seu aluno por 5 anos. Além de professor, Henrique foi um grande amigo, conselheiro e incentivador. Foi meu padrinho de casamento, em 1980, e de lá até seu falecimento foi uma pessoa imprescindível, sempre me apoiando em todas as minhas mudanças de caminho, Henrique foi uma personalidade marcante em minha vida. Devo muito a ele: o ensino, a entrada no mundo artístico, o conceito pedagógico e a importância da proximidade entre artista/público para a plena transmissão da mensagem artística. Mestre inesquecível! A lacuna que Henrique deixou com sua morte, ainda que sendo substituído parcialmente por vários de seus alunos, ainda não foi preenchida. Henrique tinha uma capacidade de trabalho impressionante. Seja como professor, editor, produtor, intérprete ou agitador cultural, poucas pessoas tiveram o espectro abrangente deste que foi o “mestre dos mestres”, como diz o título do disco lançado em sua homenagem.” Paulo Porto Alegre, violonista, compositor, arranjador e produtor. “Fui convidada a falar sobre Henrique Pinto e a primeira coisa que me vem à mente é ‘Professor: aquele que professa uma crença...’ (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Tive aulas com ele, assim como com muitos outros, de muitas matérias e em vários lugares. Aprendi muita coisa com muitos deles. Mas é o Henrique, ao meu entender, que detém e personifica o que é um professor. A música, um instrumento, o violão, no caso, é algo que ainda hoje vejo com espanto e encantamento. É sempre uma surpresa, uma descoberta, uma magia. O professor é aquele que, além da técnica, crê nisso e em cada aula abre uma janela para esse universo: tocar não é só mexer os dedos com precisão, realizar bem uma melodia/harmonia, mas, também, a generosidade de encantar e principalmente encantar-se com o outro, de pensar no outro, abrir caminhos de ajuda, de convivência, de empatia. Ele realmente acreditava nisso e eu também acredito. Acho que alguma coisa aprendi. Poderia falar muito mais sobre ele, tudo que fez, cursos, concursos, edições, os grandes alunos que teve e todo o vazio e saudade que deixou. Mas prefiro dedicar meu pensamento ao que o fez um grande e inesquecível professor: ensinar o que acreditava.” Norma Nacsa – violonista, guitarrista, professora VIOLÃO+ • 23

ESPECIAL henrique pinto “Ahh! Como o tempo passa.... Já se foram 30 anos de carreira. Será que estou ficando velho? Quantos anos eu teria se não soubesse quantos anos tenho? Pronto, me sinto com 25 anos! Mas, e meu amigo Henrique Pinto? Já se foram 6 anos que ele passou para a próxima dimensão. Sinto saudades. Lá estava eu com mais ou menos 10 anos, quando o Henrique apareceu em casa para uma visita a meu irmão Luiz Carlos, aluno do mestre no Conservatório Guiomar Novaes, na Vila Carrão, bairro vizinho ao nosso, Vila Matilde, em São Paulo. Bons tempos, mas o melhor estava por vir! Enquanto uns estudavam música, fui estudar desenho artístico, já que tinha queda pra habilidade manual, controle fácil das mãos, pelo menos a direita (risos) e, quando criança, gostava de desenhar e fazer esculturas em metal e madeira: destruí várias moedas de Réis esculpindo passarinhos, corações, chaves - para abrir o cadeado do portão e escapar para a rua (risos). Depois, fui estudar desenho publicitário com o grande mestre Otsu, na escola Cândido Portinari, no centro de São Paulo. Trabalhei em muitas agências de propaganda, por anos. Mas, o violão em casa era um show à parte: a música reinava. Meu pai, Angelo, e meu irmão faziam a festa. O mestre Henrique era, realmente, O Mestre. O desenvolvimento era vertiginoso. Claro, o aluno Luiz se dedicou bastante também. O tempo foi passando e comecei a perceber que o violão não parava de me olhar. Eu passava pela casa e ele lá, me olhando, parecia dizer ‘ô’, com aquela boca redonda, enorme. Um dia, peguei o bichinho, olhei, examinei por dentro, por fora, olhos de desenhista, trastes, cordas, tarraxas, verniz... “Sei não, estou vendo alguns defeitos aqui, acho que posso melhorar isso...” Falei com o Luiz, que falou com o Henrique, que falou com o Laurentino Pollis, e lá vou eu pra Carapicuiba, todo sábado, 41 kms e 43 semáforos! Era fevereiro de 1986. Essa chance parecia um presente de aniversário: eu completava 26 anos nesse mês. O grande Henrique deu a maior força e o Laurentino deu o maior apoio - grandes corações, sou muito grato. Amei a arte da lutheria, comecei a mostrar os primeiros instrumentos ao Henrique em menos de um ano, na verdade, em seis meses. Ele adorou o resultado, mas disse “dá para melhorar”. Então, depois que parei com o Laurentino, ele me apresentou o Sérgio Abreu, outro grande coração. Comecei a me encontrar com ele no Hotel em São Paulo, quando vinha para a Gianinni trabalhar nos violões C7 Modelo Abreu. Também fiquei um tempo no Rio de Janeiro, em seu atelier. Ah, que empolgante foi essa época, mas chega uma hora em que os amigos começam a mudar de planeta. Nada contra! Tudo tem uma ordem maior no controle, tudo retorna à Fonte, e seguimos em frente, por enquanto. Me lembro bem dos inúmeros encontros com o Henrique, tanto no seu estúdio como na minha casa em São Paulo e, depois, em Cerquilho, onde ele gostava muito de vir passear com sua esposa. Sempre trazia alguns violões para eu regular, e, às vezes, levava alguns meus para seus alunos. Nesses saudosos encontros eu percebia a disposição enorme em trabalhar que ele tinha: muita energia, muita determinação, viagens, seminários, concursos... Enfim, usou muito bem seu tempo de vida em divulgar o violão, o nosso querido violão.” Antonio Tessarin - luthier 24 • VIOLÃO+

ESPECIAL henrique pinto A coisa principal do Henrique é que a influência dele ainda se fará sentir por décadas. Todos os violonistas que tiveram contato com ele, quando se encontram em algum concerto ou festival, se entreolham com cara de “que será que o Henrique acharia disso?”. Ele parece um “espíritosanto” do violão brasileiro. A influência benevolente dele não diminui, mesmo já tendo passado algum tempo desde que morreu. Nunca um professor foi tão fã de seus alunos; ele não faltava nunca nos momentos mais importantes. O curioso é que só fui aluno dele por um ano, mas foi um ano em que resolvi tantas coisas de minha maneira de abordar o violão, que parece que ainda sou aluno dele. Tinha uma mística ao redor do fato de se tocar para o cara que tinha escrito Iniciação ao Violão, o método pelo qual todo mundo aprendeu a tocar. A gente se sentia na obrigação de se preparar melhor para tocar para o Henrique; em troca, ele nos brindava com uma vontade incontrolável de estudar; dava vontade de abrir o estojo ali na calçada mesmo para manter o pique da aula. Ele sempre casou uma honestidade total de julgamento com um desejo igualmente honesto de ajudar, de dizer algo que nos levasse a melhorar. Com o Henrique, a gente não tinha a sensação de que existia um teto para o desenvolvimento: ele nos tratava como se fôssemos um Segovia em potencial. Isso tirava muitas das inseguranças e incertezas que tanto prejudicam o desenvolvimento de quem está na

boca do gol. Devo também dizer que meu primeiro professor “ formal”, tirando meu pai, o Antonio Guedes, andava afastado do violão e, por influência do Henrique, voltou a tocar, dar concertos etc. E foi justamente nessa época que o conheci. A influência dessas três pessoas na minha decisão de me tornar violonista foi avassaladora. Ainda precisamos estudar mais a fundo a didática do Henrique. Todo mundo lembra dos muitos alunos dele que chegaram ao topo da profissão e, hoje, não só têm carreiras internacionais como também ocupam as principais posições de ensino do país. Mas a gente se esquecede que ele tinha uma taxa de desistência baixíssima entre iniciantes também; muitos de seus alunos que não tinham facilidade tão grande, ou que não tinham como se dedicar muito, ou que preferiram outra área musical, ainda assim conseguiram melhorar e hoje trabalham profissionalmente com música. Isso é uma coisa crucial no violão, e tem de ser estudado para que quem queira trabalhar com ensino no futuro possa fazer melhor. Fabio Zanon - violonista, concertista internacional VIOLÃO+ • 25

matéria de capa

Onde me chamam, eu vou! Luizinho 7 Cordas é uma figura! Gosta de uma prosa, sempre de bom humor. Concebido em Alagoas, nascido em Marília e criado em Santos, quase virou jogador de futebol. Desde pequeno envolvido com a música, conquista a todos pela extrema simpatia, mas muito mais pela competência de quem tem uma vida inteira dedicada ao 7 cordas. Suas histórias são deliciosas. Mas, por trás do bonachão, há muita personalidade. Personalidade para se impor em rodas difíceis como as dos músicos de choro do Rio de Janeiro. Personalidade para arranjar entre o tradicional e o moderno. Personalidade para tocar seu violão lendo partituras, que produz com extremo capricho, manualmente. Venha conhecer Luizinho 7 Cordas, que já extrapolou as fronteiras do Brasil com seus arranjos.

Por Luis Stelzer

Luizinho 7 Cordas

Cristina Azuma e Paulo Bellinati

Violão+: Você é um cara que veio do interior de São Paulo, de Marília, depois morou em Santos... Luizinho 7 Cordas: Nasci em Marília, mas na terceira mamada, já estava em Santos (risos). Não sei o que sou, veja bem: meus pais vieram de Alagoas. Meu pai se envolveu com política lá, e - até hoje é meio assim - quem ganha mata quem perde, quem perde quer matar quem ganhou, sei lá o que aconteceu. Minha mãe estava grávida de oito meses, e ele recebeu um aviso: ou sai, ou morre. Foram para Marília. Não sei se ele tinha um parente por lá, parece que foi isso. Trabalhou, plantou um pouco, daí foram pra Santos, onde havia 28 • VIOLÃO+

mais três irmãos dele. Aí, arrumaram para trabalhar no cais. Então, minha mãe veio grávida de Alagoas, nasci em Marília, depois de três meses fui para Santos, morei lá um monte de anos e agora estou aqui em São Paulo... No fundo, no fundo, o que eu sei é que sou brasileiro. Posso dizer que sou mais santista, morei lá por 50 anos. E time de futebol, também é Santos? Olha, treinei no dente de leite do Santos, joguei até na inauguração do Morumbi, foi um Santos x São Paulo. Naquela época, tinha o dente de leite, pessoal de doze anos. O Santos já tinha o Pelé, então a gente ia jogar. Enfim, teve a inauguração

Luizinho 7 Cordas do Morumbi, eu joguei! Não parece, mas joguei futebol, e até que era bom! Com tudo isso, sou corinthiano! É engraçado: morei esse tempo todo em Santos, que tinha o Pelé, tinha um timaço, mas aquela coisa de pai, de avô (se bem que eu nem me lembro se meu avô era corinthiano), tanta coisa para ser Santista, joguei no Santos, mas sou corinthiano. Quase virei profissional no Corinthians. Mas, na época, a gente pagava para jogar, praticamente. Hoje, é muito diferente. Se eu tivesse sido jogador de futebol, não estaria com nada hoje. Então, passei para a música. Os caras do Corinthians vieram me buscar, eu me escondi e não vim. Pensei: meu negócio é música, vou ficar lá em São Paulo, sem conhecer ninguém, no meio daqueles pernas-depau. Vou mais é ficar por aqui mesmo!

E que posição você era? Bom, eu sou destro, mas jogava de lateral esquerdo e meia esquerda. Eu driblava para dentro e ficava bom para chutar! Como lateral, eu não era lá essas coisas, mas o cara vinha, driblava a primeira vez, na segunda eu já dizia: olha, você vai parar lá no meio do mato (risos). E levava muita porrada também, mas aguentava bem, era forte. No fundo, eu não era lá essas coisas, mas era calmo, o que me ajudava a fazer as jogadas tranquilamente. Gol, só de bola colocada, tinha habilidade.

Essa história eu nunca tinha ouvido... Acho que nunca tinha contado pra ninguém, mesmo.

Voltando à música, você ficou em Santos, e aí? Bem antes disso, aos cinco anos, meu pai tinha um conjunto chamado Estrela de Ouro. Tinha uns dez caras no conjunto. Meu pai tocava cavaquinho. Tinha de tudo: clarinete, banjo, acordeom, pandeiro, timba, o cantor, um monte de gente. E eles ensaiavam duas vezes por

Luizinho com Dino 7 Cordas

Luizinho com Beth Carvalho VIOLÃO+ • 29

Luizinho 7 Cordas

semana lá em casa, uma casa grandona. Ninguém ganhava dinheiro com esse grupo, todos trabalhavam em outras coisas. Ensaiavam para tocar na casa de amigo, no aniversário de filho de fulano... E eu adorava, ficava assistindo o ensaio, que acabava de madrugada, minha mãe ficava falando: “vai dormir, menino!”. E meu pai falava: “deixa o menino aí!”. Um dia, meu pai perguntou: “você quer aprender cavaquinho?”. Eu disse: “quero!”. Aí ele me arrumou um que tinha lá, e me ensinou duas posições. Eu, molequinho, gostava dos violões. O grupo tinha dois violonistas (de seis cordas), que tocavam muito bem os choros. Tinha também os duetos que 30 • VIOLÃO+

eles faziam. Eu falava: “pai, que bonito, esses violões...”. Aí meu pai me deu um, me ensinou umas valsas, depois falou: “agora você vai tocar por aí, vai tocar com os seus amigos”. E eu fui. Fui para o Morro de São Bento. Lá, encontrei o Jacozinho do Bandolim, um bocado de gente boa junto, eles tocando aqueles chorinhos cheio de baixos, e eu ficava no 3/4 que meu pai tinha ensinado, nada a ver com o 2/4 do choro. Eu ouvia o que eles estavam tocando e achava que eu estava tocando certo. Aí, o Jacozinho virou para mim - eu tinha um sete anos, oito no máximo - e falou: “fala para o teu pai te por numa escola, para você estudar música, você leva jeito”. Eu fui

Luizinho 7 Cordas pra casa todo triste. Meu pai falou: “ué, já veio?”. Respondi: “o Jacozinho falou para o senhor me por numa escola, mas eu já não sei tocar, pai?. Ele me acalmou: “não filho, para tocar como eles tocam, tem que aprender, mesmo”. Então, ele me levou para o Conservatório, estudar com o maestro Inácio, da Orquestra Carlos Gomes, tudo lá em Santos. Estudei até aprender. Fiquei uns três anos sem aparecer na roda de choro. Meu pai disse: “vai lá na roda de choro, mas não toca, presta atenção”. Conheci o Maurício, que tocava 7 cordas. Não tinha ainda em Santos, mas já tinha em São Pauloa. O Maurício me levou num lugar para adaptar um violão para 7 cordas. Estudamos, estudamos... Fui lá no mesmo morro onde tinha ouvido que tinha que estudar. Eu já tinha uns doze anos, então. O pessoal me reconheceu, perguntaram porque eu sumi. Desconversei, disse que estava ajudando o meu pai. Eles falaram: “toca um pouco aí”. Quando eu tirei o violão da capa, eles não acreditaram: violão de 7 cordas, como é que é isso? Eles não sabiam o quanto que eu tinha estudado. Já peguei o violão e toquei uns graves, eles adoraram. Daqui a pouco, já corrigia algum deles: olha, esse acorde não tá certo, é assim...

do choro carioca, do Dino 7 Cordas. Meira, Canhoto... Foi quando houve os festivais da Bandeirantes, de 1977 e 1978. Eu já conhecia o Dino, ele estava sempre em Santos. O Arthur Moreira Lima comandava o festival, recebia fitas de gravações de todo o Brasil, para concorrer. Quando ele via que era de Santos, o regional era sempre o que eu tocava, o regional do Dadinho. O Arthur chamou o Dino e falou: “tem esse pessoal de Santos que é muito bom, esse violão...”. O Dino respondeu: “conheço ele, ele estudou e está estudando”. O Arthur e o Marcus Pereira (que tinha uma gravadora simplesmente fantástica) pegaram o telefone e ligaram para mim: “Alô, é o Luizinho? Aqui é o Arthur Moreira Lima. Eu e o Marcus Pereira vamos até aí em Santos conversar com vocês. Tem um projeto lá no Rio, eu quero fazer piano e regional”. Foi a primeira vez que se tocou piano com regional. No verso da capa do disco, ele cita isso tudo. Mas foi engraçado. Falei pro Dadinho da ligação, ele achou que os caras nunca viriam. Passou um tempo e ele foi lá! Chegaram os dois. Levamos eles

Você já se impôs ali... Falaram: “que moleque danado!”. (risos) Conquistou o seu espaço! Pois é... Aí fui tocando, virei adulto, com vinte e poucos anos, sempre estudando. Fui tocar com o regional do Dadinho, em Santos, mesmo. Um regional refinado. Tudo soava muito bem, parecia o pessoal

Luizinho com Baden Powell VIOLÃO+ • 31

Luizinho 7 Cordas certo! Se saí de Santos, é para viver de música. Ela tem que pagar o sustento meu e da minha família!”, porque a essa altura, eu já estava casado, só que ainda sem filhos. No começo, vim sozinho , depois deu para trazer a família. Já são mais de vinte anos aqui! Como é seu dia a dia? Como faz para se manter? Tem muitos convites de trabalho? Sim, até hoje! Nesta tarde, por exemplo, ensaiei com o Germano Mathias. Na próxima quinta-feira temos um show no Itaú Cultural, na Paulista.

Luizinho com Euclides Marques

para casa de um amigo que tinha piano. Tocamos. O festival ia começar em outubro. Fomos para o Rio em setembro. Tocamos Nazareth, Pixinguinha, Jacó, tocamos tudo. Quando teve o festival, no intervalo, quem tocou no show? Eu e o Arthur Moreira Lima. Depois do festival, minha carreira decolou em São Paulo. Eu ia tocar no Rio, mas o Evandro me convidou, sabia que eu era apegado à minha mãe, me convenceu dizendo que se tocasse com ele, não precisaria se mudar, pois Santos é pertinho de São Paulo. Então, fiquei com o Evandro. Toquei com ele até a sua morte, em 1994. Entrei em 1980. Fiquei 14 anos com ele, tocamos duas vezes no Japão. Mas não fiquei só na música: trabalhei de contador uns bons anos. Quando vim pra são Paulo, falei: “aqui, tenho que dar 32 • VIOLÃO+

Fica mais por aqui ou viaja muito? Já toquei em muitos países, com a Beth Carvalho. Há um grupo chamado Quarteto Roda de Choro, com grandes músicos, CDs gravados, que tem o Alexandre Ribeiro, clarinetista, Miltinho Mori no cavaquinho e bandolim, o Léo Rodrigues no pandeiro e eu. E juntamos aqui. Toco no conjunto Uirapuru... Onde me chamam, eu vou! São setenta anos bem vividos. Sou muito feliz com a música. Você toca muito, é muito requisitado... Não é que eu seja bom músico, é o meu jeito. Para mim tudo está bom! Não vem com essa (risos). O cara tem que se apresentar legal, ter ótimo ouvido, dominar o repertório, se virar em várias situações, mas, ao mesmo tempo, você é muito diferente de outros músicos de choro que conheço... Você quer dizer que eu sou mais bonito do que eles (risos)!

Luizinho 7 Cordas Você alia essa versatilidade do ter que se virar com o que todo mundo está tocando ali e agora, com a qualidade do cara que caneta, do cara que arranja, que escreve, que lê. Isso é uma coisa mais rara no meio, ou é impressão minha? Atualmente, estão aparecendo, alguns deles alunos meus, que estão escrevendo, fazendo arranjos. Quando vim tocar com o Evandro, nos anos 1980, lembro que só o Isaías e o Israel, que eram irmãos, escreviam. Mas tocavam sem escrever também. Eu tinha um repertório bom de choro em Santos, mas tinha um outro repertório que a gente não tocava lá. Aí, tinha que tocar tal choro, e eu não conhecia. Pegava o disco, tirava, escrevia. Ia tocar com o papel. Quase fui crucificado. Os caras

duvidavam que aquilo pudesse ajudar. Como o Dino (7 Cordas) estava sempre em Santos, o pessoal achava que eu era sobrinho dele. Falavam que eu era sobrinho dele, que aparecia na roda de choro com partitura, só queria aparecer. Fiquei sabendo dessa crítica. A gente se encontrava muito na Del Vecchio, na loja antiga. Lá, me falaram: “choro não se toca lendo!”. Eu respondi: “não sei onde você viu isso!”. Falei pra eles que, no Rio, o pessoal gravava os choros lendo. Era muito melhor, muito mais rápido. Que Dino, Orlando Silveira, Canhoto, tocam com A, B, C, D e Z todo dia. Gravam coisas que eles nunca ouviram. E como é que eles fazem para gravar tudo isso, tão rápido? Porque eles estão lendo partitura. O pessoal: “é?”. Continuei: “Se eles tem um show pra tocar, por exemplo,

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Luizinho 7 Cordas

Luizinho no Demônios da Garoa, com Waldir Azevedo e Altamiro Carrilho

com o Nelson Gonçalves, eles não vão ficar dias e dias ensaiando: o maestro dá as partituras, eles leem e pronto”.

“fomos nós”. Pegaram um papel e me escreveram a partitura na hora! Para me mostrar, tocaram em Ré, que era mais fácil. Lindo. Para escrever, o Meira A resistência é muito grande, mesmo... falou: vou te escrever em Fá, porque na O Evandro queria uma vez tocar a música flauta é melhor que seja em Fá. Peguei “Modulando”, que, como o próprio nome esse manuscrito, com a assinatura de já diz, seria difícil de se tirar sem ler. O todo mundo, guardei como uma relíquia. Dino, o Meira e o Canhoto estavam em Passei para um outro papel e trouxe São Paulo para gravar com o Benito de para o Evandro. O pessoal duvidou, mas Paula, mas o piano do estúdio estava eu cheguei tocando. Se não tivesse a desafinado. Então, estavam lá sem partitura, não ia chegar nem na segunda poder trabalhar. Eles desceram para parte, não ia lembrar. Santos... acho que o Altamiro Carrilho estava junto. Falei para eles do meu Mas esse tipo de estudo não é uma problema: não conhecia a música, nem tradição no meio do choro... quem tinha gravado. Eles falaram: Às vezes, o cara não tem onde estudar. 34 • VIOLÃO+

Luizinho 7 Cordas Mas tem que perder esse preconceito. Hoje já tem escola ensinando choro por partitura, mas na minha época não tinha. Fiz quatro anos de violão clássico, por isso aprendi a ler. Hoje, todo mundo gosta das minhas partituras, mas, na época, só não me crucificaram porque não acharam os pregos (risos). Já vi gente tocando com minha partituras em Portugal, na Espanha, no Japão. Nem me apresentava como o Luizinho 7 Cordas para não atrapalhar esses ensaios que assisti. Você usa cordas de aço? Sim. Tem uma corda que uso agora, extraflexível. Antigamente, você usava um jogo normal de seis cordas e comprava uma sétima. Depois, o Dino começou a usar um jogo com as duas primas de nylon e o resto do jogo em aço e, na sétima, uma quarta corda de violoncelo. E a gente ia atrás, o Dino era a referência. Mas hoje, uso as duas primeiras de

nylon, para não desequilibrar. As outras, uso desse jogo que te falei. O violão fica equilibrado, o timbre fica bonito. Mas você tem que fazer o jogo, comprando individualmente, ou já vem o jogo certo? Hoje, dá para encontrar desse jeito. O jogo fica bom de tocar, desenvolvido especialmente para o 7 cordas. E em relação às gravações? O que você tem feito ultimamente? Eu não posso me queixar. Tempos atrás, havia as gravadoras, então era mais fácil, se você já estivesse no meio. Hoje, está tudo independente, fora os cobrões, Chico Buarque, Beth Carvalho. Andei gravando no Rio, com o Sombrinha, com o Arlindo Cruz. O pessoal do Rio prefere trabalhar com o pessoal do Rio, eu entendo. Tem muito músico e menos trabalho nos dias de hoje. Mas furei esse bloqueio. Acabei ficando amigo de todos.

Luisinho deixou dois presentes para você, leitor de Violão+: o primeiro é uma partitura, um arranjo de acompanhamento para 7 cordas da música “Assanhado”, de Jacó do Bandolim. Mesmo que você não leia partituras ou não toque o instrumento, vale a pena ver o capricho da sua escrita! O segundo é um vídeo, onde ele toca em uma aula com seu aluno Lucas. Vale a pena ver!

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Luizinho 7 Cordas

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Luizinho 7 Cordas

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Luizinho 7 Cordas E esse negócio de você ler rápido vira um diferencial em estúdios? Claro! O pessoal me procura porque vou lá e dou conta. Já gravei até para o Emicida, e achei ótimo! Era uma coisa simples, uma sequência simples. O arranjador me chamou para gravar, fui lá e fiz. Me pagaram direitinho. Teve gente que reclamou, perguntaram se eu estava precisando de dinheiro. Para mim, não tem frescura: precisou, eu topo! Só não me ofereça pouco dinheiro. Vivo disso: seja justo com o meu ganha-pão. Prefiro que seja de graça, não me venha com cem reais para uma gravação, muito menos para um show. Porque você acaba virando

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refém do seu contratante. O cara passa a escolher a sua hora, o seu tempo. Então, tem que valer a pena do ponto de vista financeiro. Se não tiver dinheiro, se for meu amigo e se eu achar o trabalho legal, mas não tem dinheiro, posso até fazer de graça. Mas aí, quem faz o horário sou eu, só apareço no estúdio na hora que quiser. E o trabalho no Espaço Uirapuru, como está? Muito bem! O Euclides Marques é superlegal, a gente tem tocado junto já há um bom tempo. Ele é ótimo, como todo o pessoal da escola. E a procura de alunos está muito boa.

mundo

Por Luisa Fernanda Hinojosa Streber

O Cavaquinho O cavaquinho foi introduzido pelos portugueses continentais nas mais remotas paragens, que vão desde Ilha de Madeira, Cabo Verde e Moçambique ao Brasil e até mesmo Havaí e Filipinas Era uma tarde esplêndida em Lisboa, ar fresco da primavera envolvido por uma luminosidade clara de sol risonho. Meus passos rápidos se confundiam com as vozes e a algazarra das pessoas entrando e saindo de compras na bela Alfama, onde qualquer um se transporta no tempo. Ao fim, às quatro e quarenta e cinco,

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cheguei à loja de instrumentos que procurava, que fechava as cinco. Tinha só quinze minutos para concretizar um sonho que tinha havia mais de 12 anos: adquirir uma guitarra portuguesa. Mas, entrando na loja, meu ser inteiro ficou em estado de embelezamento atemporal ante a visão de vários cavaquinhos pendurados em uma parede. Se fez um

mundo silêncio em que, lentamente, escutavase apenas as ondas do mar e as notas musicais vindas dos instrumentos. Meu coração começou a bater rápido e isso me trouxe de volta à realidade. Percebi a beleza dos cavaquinhos, pois nenhum era igual ao outro: o tampo quase sempre de duas cores, as bocas todas diferentes, em formato de coração, de lua ou qualquer outra forma caprichosa com delicado acabamento. Ao ver meu assombro, o senhor do balcão perguntou se estava à procura de um cavaquinho, e falei que queria uma guitarra, porém um cavaquinho poderia ir comigo nessa tarde. Ali começou uma bela confusão entre uma mexicana e cinco portugueses. Um dos balconistas baixou o mais lindo dos cavaquinhos. Mas estava fora de meu orçamento. Outro trouxe umas três guitarras para eu escolher, além de estojo, cordas e palhetas, enchendo o balcão de coisas maravilhosas. Fui ao caixa pagar a guitarra, enquanto a empacotavam em uma grande sacola. Cinco da tarde mais um minuto, e eu estava de volta à rua. Ao chegar ao hotel, abri o meu tesouro e descobri que o cavaquinho veio junto! Ele me escolheu e não se separou de mim nunca mais, assim como tomou carona nos navios portugueses para ficar nos mais recônditos lugares, onde marinheiros acompanhavam suas travessias com ele e suas notas. Um pouco de história Se fala que o cavaquinho tem origem em Minho, ao norte de Portugal, chegando a seu esplendor na cidade de Braga, na corte dos Biscainhos, VIOLÃO+ • 41

mundo

mas se tem conhecimento de que ele tem precedentes em alguns outros instrumentos, como ressalta Gonçalo Sampaio, estudioso de música popular e folclore. Assim, se fala que tem origem nos modos helênicos na música minhota com influência grega, porém também se fala que tem influência do requinto espanhol. O etnólogo português Jorge Dias expressa que o cavaquinho devia ter vindo de Espanha, pois sua morfologia é idêntica à da guitarra, do guitarron, do guitarrico ou do chitarrino italiano. E o cavaquinho encontrou, em Minho, um próspero campo, pois acompanha rítmica e harmonicamente muitas danças populares, como viras, chulas, malhões, canas verdes e verdegares. O cavaquinho foi introduzido pelos portugueses continentais nas mais 42 • VIOLÃO+

remotas paragens, que vão desde Ilha de Madeira, Cabo Verde e Moçambique ao Brasil e até mesmo Havaí e Filipinas. No Brasil, o cavaquinho figura em todos os conjuntos regionais de choros, emboladas, bailes pastoris, sambas, ranchos, chulas, bumba-meu-boi, cateretês e outros, ao lado de viola, violão, bandolim, clarinete, pandeiro, rabecas, guitarras, flautas e outros, com caráter popular mas urbano. Mais ele está presente desde a gênese do Lundu. Com o surgimento do samba, na década de 1910, o cavaquinho passou a ser indispensável nos desfiles das escolas de samba, sendo a marca principal entre pagodeiros e sambistas. Entre alguns dos cavaquinhistas brasileiros que fizeram história, podemos destacar Waldir Azevedo e Canhoto do Cavaco, entre outros grandes nomes.

mundo Afinação e tipos O cavaquinho original tem quatro cordas, de aço ou tripa, braço raso como o tampo e dez trastes, afinado do grave ao agudo em Ré-Lá-Dó#-Mi). Já na Cidade de Braga, sua forma comum passa a ter 12 trastes e uma afinação em Ré-Lá-Si-Mi. Posteriormente, em Coimbra, continua do mesmo jeito,

sendo tipicamente popular e tocado para acompanhamento. Já os instrumentos citadinos ou burgueses como em Lisboa, Madeira, Algarve, se tocam ponteados. Há também outras afinações em Ré-SiSol-Sol, Mi-Dó#-Lá-Lá, Mi-Ré-Si-Sol. No Brasil, é afinado em Ré-Si-Sol-Ré ou, copiando as quatro primeiras cordas do violão, em Mi-Si-Sol-Ré.

Curiosidades • O cavaquinho chegou ao Havaí no século 19, com os madeirenses que foram trabalhar no cultivo da cana-de-açúcar, tomando o nome de Ukulele, que quer dizer “pulga saltitante”. • Atualmente, tem quatro tamanhos: soprano, concert, tenor e barítono. Existem também os menos comuns, como o sopranino, com uma escala mais curta do que a do soprano, e os ukuleles baixo, nos extremos do espectro. O soprano, com escala de 33 cm - também chamado de standard - é o original e também mais tradicional. O concert, com escala de 38 cm, foi criado na década de 1920, como uma modificação do soprano, com um braço mais longo. O tenor, que tem a escala com comprimento de 43 cm, foi desenvolvido logo em seguida. O barítono, que tem a escala de 48 cm foi o último a ser inventado, na década de 1940. • Em 1998, por ocasião da Exposição Mundial de Lisboa, organizou-se pela primeira vez em cem anos um espetáculo com músicos do Havaí e da Ilha da Madeira, no projeto Father and Son, apresentado nos palcos da EXPO’98 e organizado pela editora madeirense Almasud. • O músico havaiano Israel Kamakawiwo’ole também ajudou a popularizar o instrumento, especialmente com seu pot-pourri de “Over the Rainbow” e “What a Wonderful World”. VIOLÃO+ • 43

história

Por Rosimary Parra

A arte da canção acompanhada Parte VI Nesta edição, concluímos a temática da canção acompanhada, da qual temos tratado anteriormente, discorrendo sobre o repertório para canto e violão nos séculos 20 e 21. Os leitores puderam apreciar até aqui uma pequena amostra sobre o gênero composicional relacionado aos diversos instrumentos de cordas dedilhadas da família das guitarras, desde a vihuela até a guitarra romântica

Manuel de Falla 44 • VIOLÃO+

No século 20, o padrão de construção do violão já havia se estabelecido, a partir do modelo de instrumento construído no final do século 19, pelo luthier Antonio Torres (1817-1892). O instrumento de Torres se diferenciava da guitarra romântica em muitos aspectos quanto à construção, fazendo que sua sonoridade se tornasse mais potente. Assim, o violão iniciou uma nova fase na trajetória dos instrumentos de cordas dedilhadas, que o colocou definitivamente nas salas de concerto. O repertório solo e camerístico começou a ampliar-se com obras de compositores não violonistas. Neste aspecto, deve-se muito ao violonista Andrés Segóvia, que incentivou importantes compositores de sua época à criação de obras violonísticas relevantes para a produção musical do século 20. A vocação dos instrumentos de cordas dedilhadas para o acompanhamento ao canto continuou sendo trabalhada

história

Joaquim Rodrigo

pelos compositores nessa nova etapa, resultando em grande produção de música original ou importantes transcrições e arranjos para canto e violão. Na música espanhola, isto se revelou de forma quase natural, já que o violão estava intimamente ligado ao canto na tradição do flamenco. Canções espanholas antigas ou melodias e temas ciganos foram explorados por Federico Garcia Lorca e Manuel de Falla. Tais obras, embora originalmente escritas para canto e piano, ficaram muito conhecidas por meio dos arranjos ou transcrições para canto e violão. Joaquim Rodrigo, mais conhecido por seu famoso Concerto de Aranjuez, tem diversas peças originais para canto e violão: Coplas del Pastor enamorado (1935); Tres canciones espanholas (1951); Tres villancicos (1952); Romance de Durandarte (1955) e Folias Canarias (1958). Algumas de suas composições

tem como base textos, melodias antigas e gêneros, como vilancicos e romances, remetendo à tradição renascentista. O Romancero Gitano op. 152 (1960), do compositor italiano Mario CastelnuovoTedesco, é uma obra muito especial dentro do repertório camerístico para

Para ouvir Siete Canciones populares Españolas (1914-15) de Manuel de Falla, arranjo de Miguel Llobet, revisadas por Emilio Pujol (Max Eschig,1957). I. El paño moruño

VII. Polo

Canciones españolas antiguas Federico Garcia Lorca (1ª. publicação 1961), transcrição para canto e violão de Venancio Garcia Velasco (1930-1984). VIOLÃO+ • 45

história

Para ouvir Joaquim Rodrigo - Tres canciones espanholas

Joaquim Rodrigo - Tres villancicos

Joaquim Rodrigo - Folias Canarias

Mario Castelnuovo-Tedesco Romancero Gitano op. 152

Robert Gerhard - Cantares, sete canções espanholas para voz e violão Mario Castelnuovo-Tedesco

violão e canto. Trata-se de uma composição para violão e coro misto com temática musical espanhola a partir da obra poética de Federico Garcia Lorca publicada em 1928. Ainda de temática espanhola, temos a obra Cantares, sete canções espanholas para voz e violão, de 1962, do compositor catalão Robert Gerhard. Sua obra tem influências de Manuel de Falla no tratamento de elementos folclóricos espanhóis. Em meados do século 20, entre as décadas de 1960 e 1970, o trabalho do violonista Julian Bream junto ao tenor Peter Pears foi extremamente importante para o surgimento de novas obras para o repertório de canto e violão. O duo, que fez importantes 46 • VIOLÃO+

registros da música renascentista inglesa, trabalhou junto a compositores deles contemporâneos como Benjamin Britten, Matyas Seiber e William Walton. Tal colaboração resultou em importantes obras. Da produção latino-americana, compositores como Carlos Guastavino, Antonio Lauro, Leo Brouwer e Alfonso Broqua também escreveram para essa formação. Na música brasileira, encontramos composições para canto e violão de Guerra-Peixe, Ernani Aguiar, Ronaldo Miranda, Eduardo Escalante e E. Villani Cortes, para citar alguns. A violonista e cantora Olga Praguer Coelho (1909-2008) foi grande motivadora de Villa-Lobos para que transcrevesse peças para canto e

Para ouvir Benjamin Britten - The songs from the Chinese Op. 58

Matyas Seiber - Four French Folk Songs

William Walton - Anon in love

CD Afro-Sambas, de Paulo Bellinati e Mônica Salmaso

violão. Desse contato, resultaram as transcrições por ela encomendadas: • “Modinha” - peça que integra o ciclo das Serestas (1925/1926) com letra de Manuel Bandeira; • “Ária (Cantilena)” da Bachianas Brasileiras n.5 (1938); • “Canção do poeta do século XVIII” (1953) - estreia da versão para canto e violão por Jodacil Damasceno (violão) e Cristina Maristany (canto) em 1962; • “Canção do amor” (da obra Floresta do Amazonas, de 1958). Poesia de Dora Vasconcelos. É importante lembrar, também, do importante trabalho de arranjo para canto e violão realizado por Paulo Bellinati sobre os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com tratamento refinado da linguagem violonística e camerística. Esse trabalho está registrado no CD Afro-Sambas – Paulo Bellinati e Mônica Salmaso.

Antonio Lauro - Desando el viejo camino

Leo Brouwer - Poema

Referências bibliográficas AMORIM, Humberto. Heitor Villa-Lobos e o Violão. RJ: Academia Brasileira de Música, 2009. GARCIA, Cláudia Araújo. O violão na canção de câmara brasileira: um estudo de seus aspectos musicais e simbólicos. Dissertação de Mestrado: Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, 2011. LE ROY GLISE, Anthony. The guitar - In history and Performance Practice (from 1400 to the 21st Century).AEVIA Productions, 2016 WADE, Graham. The Art of Julian Bream. Ashley Mark Publishing Company, 2008.

Rosimary Parra Violonista com mestrado em Música pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professora de violão clássico na Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS).

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VITRINE

Por Luis Stelzer

33a Feira Internacional da Música Já estive em diversas feiras da música, chamadas de Expomusic, no decorrer dos anos. As feiras vão mudando ano após ano. Minha função em cada uma delas, também. Já fui como maestro de orquestra de violões, professor de conservatório de música, jurado de festival e autor de métodos. Já fui até como visitante. Nas duas últimas edições, em uma função diferente: editor técnico de revista especializada

Você tem um produto, uma revista digital especializada em violão e instrumentos acústicos de cordas. Você tem uma grande aceitação no meio (isso, nesta última edição da feira; na primeira, estávamos lançando a revista!). Então, deve expor seu produto, ir a campo, mostrar aos fabricantes de instrumentos, aos comerciantes de cordas e acessórios, aos próprios músicos o seu produto. Mas essa vivência faz que você perca um pouco do encantamento que uma feira como essa deve causar. Entender de estratégias de marketing é necessário. Fazer leituras mais profundas de cada estande, de cada conversa com cada representante, também. Mas não se pode perder a ternura, jamais, alguém disse, com muita propriedade. 48 • VIOLÃO+

33ª Edição A feira deste ano foi no Anhembi. Tirando as leituras de marketing e analisando como consumidor de música, instrumentos musicais e acessórios, achei a feira aconchegante, embora menor. Não se esperava outra coisa: passamos os dois últimos anos falando em crise. Então, logicamente, a feira diminuiu de tamanho. Os estandes não estavam tão suntuosos com em edições passadas. Mas estavam chamando a atenção dos visitantes, cada qual tentando ganhar um olhar diferenciado no meio daquela profusão de sons, cores e luzes. Outra sensação acaba registrando a feira na memória geral como um sucesso: como estava menor, estava sempre cheia, às vezes, lotada, quase intransitável. Um sucesso de público, para esse espaço.

vitrine Havia, principalmente, muitos sons, todos misturados! Era bateria, com baixo, com guitarra, com voz, na maioria das vezes, sem estar tocando juntos a mesma música...existe a aposta no músico bandleader, que toca seu instrumento supostamente melhor que todos os outros na face da Terra, que recebe um tratamento todo diferenciado, faz mini-shows em cabines fechadas ou em palcos altos. Não tão altos como de outras vezes. Às vezes, no chão mesmo. Até nisso, fiz a minha parte. Nosso estande trouxe uma programação de workshops. Como a mistura de tudo que contei acima estava rolando a milhão, decidi, então, que tocaria ali, nos horários marcados. Quem quisesse parar para ouvir violão de cordas de nylon no meio dessa profusão sonora toda, seria contemplado. E não é que deu certo? Muita gente parou para ver, ouvir e conhecer nossa revista! Até um representante de uma fabricante de cordas da Argentina, veio me presentear com vários jogos de cordas, que estão em fase de testes

que serão publicados na próxima edição de Violão+. Nos passeios que dei pela feira, vi alguns estandes muito interessantes. As tradicionais de violão, Giannini e Di Giorgio, com estandes grandes e lotados.

Di Giorgio Na Di Giorgio, pude constatar que praticamente toda a linha clássica de nylon está também com captação, pré-amplificação e afinador acoplado, buscando atender novas demandas. Também lançou uma nova linha de instrumentos de aço, com novo apelo visual. Realmente, é um instrumento muito bonito.

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VITRINE

Giannini O estande da Giannini estava muito bonito e grande, com atrações tocando quase o tempo todo. Existe também uma preocupação em oferecer violões em modelo clássico com captação e pré-amplificação.

Michael O estande da Michael, também era enorme, com várias modalidades de instrumentos. Conta, também, com uma linha de violões clássicos com captação e pré, além da seção infantil. Destaque para os violões que podiam ser testados com fones de ouvido.

Tagima A Tagima também apostou num grande estande.

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vitrine

Yamaha A Yamaha trouxe um violão diferente, de cordas de aço, com um simulador de efeitos que funciona sem que você ligue o mesmo a um amplificador. Ficou curioso? É, eu também! E só três botõezinhos externos controlam tudo. Será?

Fender No estande da Pride Music, chamaram a atenção os instrumentos para canhotos (preocupação que todos deveriam ter!).

Rozini A Rozini, mais famosa pelas violas, mas que tem também toda a linha de cordas dedilhadas, também estava presente com um belo estande e um palco onde rolavam shows inteiros. Aqui, destaque para Junior da Violla, que já apareceu nas páginas da Violão+. VIOLÃO+ • 51

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A feira é um lugar muito bonito e que nos deixa com vontades mil...mas não é lugar para se testar um instrumento! São muitos sons simultâneos, como ouvir só o que você está testando? Como estava preso ao meu estande, não pude curtir com visitante, não Teclas & Afins é compatível com passei em todos estandes, toquei em quase nenhum violão... computadores,não tablets e celulares Logo, aqui fica um paracompromisso: que você possa ter acesso à testarei, a cada mês, pelo onde e como desejar! menos uma dessas informação novidades que a ExpoMusic 2016 trouxe. DIGITAL DE TODOS OS INSTRUMENTOS DE TECLAS De preferência, numa loja, ouvindo AoREVISTA produto que está sendo oferecido ao consumidor, num ambiente mais propício.

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sete cordas

“Naquele Tempo” Salve, galera das baixarias! Para esta edição preparei um arranjo da música “Naquele Tempo”, do gênio Alfredo da Rocha Vianna Filho (Pixinguinha) e seu parceiro de outras tantas composições, Benedito Lacerda. A proposta deste arranjo é apresentar elementos musicais encontrados na linguagem do choro, baseados em experiências vividas por mim em rodas, gravações e encontros informais com outros músicos – sempre inspirados por uma boa xícara de café. Vale ressaltar que esse choro é dividido em três partes: a primeira (A) em Ré menor, a segunda (B) em Fá Maior e a última (C) em Ré Maior. O desafio de escrever um arranjo para o violão 7 cordas está em interpretá-lo de maneira menos artificial possível, já que a técnica da baixaria está associada à improvisação (na qual o músico executa livremente elementos assimilados, como arpejos, escalas e frases). Nele, utilizo com frequência o movimento escalar no conteúdo melódico, arpejo dos acordes e cromatismo. Por exemplo: 1) No compasso 8 utilizo a escala de Ré menor harmônico, partindo da nota Lá em um movimento descendente até a nota Dó sustenido na sétima corda;

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Samuca Muniz

[email protected]

sete cordas 2) No segundo tempo do compasso 12 utilizo um cromatismo descendente, partindo da nota Si (Sexta Maior de Dm) até chegar a nota Lá (fundamental do acorde do próximo compasso – Am7(b5)). 3) Outro elemento muito usado nesse arranjo (e em geral na técnica do violão 7 cordas) são os ligados da mão esquerda. No compasso 23, há um ligado ascendente de três notas e ligados descendentes aplicados sobre cordas soltas. Espero que vocês gostem do arranjo. Bom divertimento para todos! Nos vemos na próxima edição!

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VIOLÃO+ • 57

em grupo

30 Peças Fáceis para dois violões Nas edições anteriores de Violão+, venho apresentando obras originais para camerata de violões. Na edição de número 13, o compositor em destaque foi Paulo Porto Alegre, com suas três peças para camerata. A obra em questão nesta edição é a série de 30 Peças Fáceis para dois violões, dedicada aos jovens do Programa Guri e encontrada facilmente (e gratuitamente) no site do compositor. Minha intenção é auxiliar no propósito de divulgá-la em razão do seu imenso valor didático. As obras didáticas são relativamente recentes na produção desse compositor. Paulo Porto Alegre passou a escrever com o objetivo de atender às necessidades dos alunos ainda em fase de formação, após o envolvimento com as obras para a camerata. Antes disso, toda sua produção didática é considerada complexa e somente violonistas em estágios mais avançados do domínio técnico e de compreensão musical preenchem os requisitos para executá-la. Aqueles que trabalham com ensino coletivo de violão ou atuam como professores de música de câmara encontrarão nas 30 Peças Fáceis um conteúdo bem estruturado tecnicamente e rico em elementos musicais, fundamental para proporcionar aos alunos uma vivência musical consistente nos estágios iniciais do aprendizado do instrumento. Essa vivência consiste em aproximar o aluno de elementos como forma, fraseado, timbres, dinâmicas e articulações por meio de uma linguagem contemporânea, com harmonização mais sofisticada, não tão óbvia e previsível como a que é encontrada em materiais didáticos que muitos ainda prestigiam demasiadamente em seus cursos, por exemplo, a produção do século 19. Acrescentemos a rigorosa preocupação com os elementos técnicos que Paulo imprime nessa obra - o que não poderia ser diferente, 58 • VIOLÃO+

Thales Maestre

[email protected]

em grupo pois trata-se de um violonista e professor que conhece profundamente a técnica de Abel Carlevaro (violonista e compositor uruguaio que revolucionou o estudo da técnica do violão na segunda metade do século 20) e que se preocupa em difundi-la, filtrando e oferecendo o que de fato considera mais eficaz. E o mais interessante é que tudo isso se dá no limite da primeira posição do violão. O professor que quiser obter maior êxito com a utilização das 30 Peças Fáceis deverá preocupar-se em conhecer pedagogicamente os conteúdos musicais e técnicos que poderá extrair de cada peça com o propósito de tornar o aluno consciente de tais conteúdos e assim proporcionar um desenvolvimento apurado da percepção dos elementos musicais e sua associação com os meios técnicos necessários para expressar-se. Tenho usado esse material em minhas aulas e procuro adequá-lo de acordo com a quantidade de alunos. São duas vozes que funcionam muito bem em um óbvio duo, mas podem ser usadas como vozes de dois blocos de naipes. É incrível como essas peças funcionam de acordo com a concepção de naipes de uma camerata de violões, resultando em uma interessante massa sonora. Tratase de uma boa maneira de começar a estruturar uma camerata pedagógica, por meio de uma divisão elementar com apenas duas vozes, mas com exigências de padrões técnicos e musicais que servirão de preparação para estruturações mais complexas. Destaques A primeira das 30 Peças Fáceis funciona bem com a articulação em staccato no segundo tempo. A peça 2 apresenta a ocorrência da terminação feminina nos motivos do naipe 2. Já a peça 3 é desenvolvida por meio da imitação, e a execução das dinâmicas pode ser apresentada um pouco mais forte no primeiro compasso e mais fraco no segundo, com esse modelo se repetindo por toda a música, garantindo o destaque para o início das frases de um naipe e as imitações. Na peça 4 surge um elemento técnico destacado na obra de Carlevaro: a união por contato. O duo 5 trabalha com notas repetidas com frases que devem ser feitas em um grande crescendo, do piano ao forte. Na 6, temos uma melodia acompanhada. VIOLÃO+ • 59

em grupo O acompanhamento fica a cargo do violão 2, lembrando um samba canção. Um elemento técnico chamado movimento transversal aparece no violão 2 do duo 9. A peça 11 apresenta uma melodia em Fá que se repete, porém com diferenças na harmonia quando ocorre a repetição. Na peça 12, é possível fazer um interessante trabalho com dinâmicas, formando ondas, com as intenções se dando em crescendo e decrescendo constantemente a cada dois compassos. A 13 é um “bolerinho” e o professor pode sugerir o acréscimo de oitavas na melodia. No duo 14, o violão 2 apresenta o elemento ostinato, enquanto o violão 1 deve ser executado sempre forte. A peça 15 também trabalha com ostinato no segundo violão, que acompanha uma rica melodia em que se pode abusar das intenções dinâmicas baseando-se no relevo das frases. No final da série temos a peça 25, que remete a uma “chanson”, em uma clara forma em ABA com o violão 1 responsável pela melodia na parte A, que se dá nos agudos da primeira posição, e o violão 2 na parte B, nos graves. Na 27, a sugestão fica para o andamento, que deve ser bem rápido para a música funcionar. O duo 29 traz o Fá lídio no primeiro violão, acompanhado por um claro Lá menor. A série termina com um vibrante blues onde os violões 1 e 2 se alternam na execução da melodia. A peça 26, com a partitura em destaque, traz uma introdução que apresenta a harmonização que se dará por toda a peça. Os acordes se repetem com variação de ritmos acompanhando uma bela melodia que permite dobras de oitavas. A execução pode se dar considerando as tensões e relaxamentos da harmonia, e é interessante explorar as possibilidades de articulações do segundo violão. Essa breve descrição traz informações recorrentes nas demais peças. Caberá ao leitor-professor explorar a riqueza da obra no ambiente pedagógico, sabendo explorar com os alunos os objetivos técnicos e musicais que apresenta. Destaco aqui um vídeo com alunos de diferentes estágios do desenvolvimento técnico, que fazem parte de uma mesma turma do polo Pêra Marmelo (Projeto Guri) no, executando o duo 26. Trata-se de um registro bem informal do decorrer da aula, feito com equipamento amador, de um 60 • VIOLÃO+

em grupo trabalho que ainda está por amadurecer. Justamente por isso coloco-o como exemplo, para que o leitor tenha uma ideia da aplicação desses duos nas práticas cotidianas de aula. Mostra também a possibilidade da prática com seis executantes divididos em dois blocos de naipes, o que torna possível a apreciação da citada diferença de massa sonora em relação a um duo normal. Agradeço aos queridos alunos pela participação nesse registro e agradeço ao brilhante Paulo Porto Alegre pela valiosa contribuição para o repertório didático violonístico. Até a próxima!

VIOLÃO+ • 61

em grupo

“XXVI - Lento”

das 30 Peças Fáceis para dois violões Paulo Porto Alegre

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em grupo

VIOLÃO+ • 63

siderurgia

Tríades

Eduardo Padovan [email protected]

Olá, leitores de Violão+! Nesta edição farei uma breve revisão do assunto sobre o qual venho tratando: as tríades. Insisto nele por acreditar que trará novas possibilidades para o seu jeito de tocar e de entender música. Não importa se o seu maior interesse é por melodias, solos ou acompanhamento: as tríades estarão direta ou indiretamente presentes. Nesta revisão, vou demonstrar as formações das tríades maiores e menores, suas inversões e como elas podem ser aplicadas em acompanhamentos de melodias. Sempre utilizarei fragmentos de shapes (formatos) de acordes bem populares no violão (C, A, G, E, D) como referências. Com isso quero, primeiramente, fazer você entender que as três notas das tríades maiores e menores são as notas que formam os acordes maiores e menores, sem sétimas. Depois, quero que você seja capaz de perceber a simetria existente no braço do violão. Para realizar esse estudo, é importante saber a harmonia e a melodia de uma canção, qualquer uma, não importando o estilo musical. Mas é importante lembrar que, como estamos estudando tríades maiores e menores, devemos escolher canções que tenham harmonias menos sofisticadas, ou seja, apenas acordes maiores e menores, sem extensões (sétimas, décimas terceiras etc.). Escolhi a canção “Tocando em Frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira. Observe a partitura! Perceba que a canção possui só quatro acordes (E, D, A, Bm) e que estou acompanhando a melodia com notas que fazem parte das tríades desses acordes. Assim, enquanto soa o acorde E (Mi Maior), me preocupo em adicionar as notas que formam sua tríade: Mi, Sol# e Si. O mesmo se aplica aos outros acordes da música: D (Ré Maior) com as notas Ré, Fá# e Lá, a tríade de A (Lá Maior) com Lá, Dó# e Mi e o acorde Bm (Si menor), que possui as notas Si, Ré e Fá#. Em alguns momentos, escolho adicionar apenas uma nota da tríade junto à melodia, mas, na maior parte da 64 • VIOLÃO+

siderurgia peça, estão sendo tocadas todas as notas que formam o acorde. Assim estamos reforçando a harmonia da música sem que seja necessário outro instrumento. Compreendendo isso, abrimos um grande leque de possibilidades de arranjo para violão. Aproveite! Um grande abraço!

“Tocando em Frente” Tocando em Frente

Almir Sater - Renato Almir Sater e RenatoTeixeira Teixeira

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iniciantes

Rotina de estudos

Ricardo Luccas [email protected]

Olá, a todos! Como foi tocar “O Samba da minha terra”? Fácil? Difícil? Compartilhem conosco suas impressões. Ainda aguardo mais gravações. Na edição anterior finalizamos uma parte importante e básica para o desenvolvimento da mão esquerda em termos de precisão e sonoridade. Nesta edição, faremos uma revisão que é, ao mesmo tempo, um depoimento sobre a minha rotina de estudos. Vamos à mão esquerda com os exercícios de Toque Frontal (edições 3, 4, 5 e 6 de Violão+ revista), Toque Oblíquo (edição 7), Ligados (edições 8, 9, e 10) e Saltos (edição 11). Em cada edição, apresentei alguns exercícios. Acompanhe no vídeo a forma como faço aquecimento diário, combinando todos eles. Faça comigo: metrônomo com pulsação a 72 (lembrando que não adianta correr na frente, pois esses exercícios funcionam se executados lentamente). Agora, abordaremos novamente a técnica para a mão direita nos mesmos moldes que trabalhamos a técnica para a mão esquerda, com foco na prática diária, que envolve a rotina de desenvolvimento da sonoridade, precisão rítmica, clareza de ataque e velocidade. Algumas fórmulas compõem uma revisão, mas a maioria é novidade. Vamos começar tocando lentamente e, gradativamente, aumentar a velocidade sem perder a Técnica sonoridade, sem tensionar a mão.Para Mão Direita

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Sugiro que executem, a princípio, em cordas soltas, para ter todo o foco na mão direita (ou na esquerda para quem é canhoto). À medida que adquirirem segurança no arpejo, podem testar sobre uma progressão harmônica, por exemplo: I-II-V. Se tocarmos em Sol Maior, teremos G, Am e D7. Se tocarmos em Dó Maior, teremos C, Dm e G7. Em Lá Maior, A, Bm e E7. Indico essas para vocês experimentarem os arpejos. VIOLÃO+ • 67

tecnologia

Jam Origin Midi Guitar A tecnologia chegou primeiro aos teclados, mas não tardou a alcançar as cordas, com foco direto nos instrumentos com trastes. Sequenciar, hoje, pode ser uma tarefa tão simples para violonistas – e até para quem toca outros instrumentos de cordas – quanto foi para os tecladistas décadas atrás. Isso nos leva diretamente para os programas de edição de partituras, que hoje dão a devida atenção aos que usam instrumentos de cordas para fazer a entrada de notas e acordes. Há algum tempo, os programas de computador com finalidades musicais se dividiam em três espécies: os sequenciadores MIDI, os gravadores de áudio e os editores de partitura. Essa divisão continua, em termos, porque já temos Digital Audio Workstations (DAWs) que executam a contento as três tarefas. Mas, para sofisticação, acabamos preferindo programas específicos para cada função. Não são raros os músicos que preferem sequenciar em editores de partitura, fazendo a entrada de notas em tempo real. Dentro desse tema começo esta seção, procurando fornecer aos instrumentistas de cordas as funcionalidades, novidades e características de softwares especializados. A cada edição vou abordar um produto, posto que as informações são muitas para generalizar procedimentos. Começaremos por um pequeno aplicativo que está revolucionando a entrada de notas no computador, pela competência e pelo custo-benefício, que mexe até com os fabricantes de hardware semelhante. Pequeno, versátil e fácil de usar Vem da Dinamarca o Jam Origin MIDI Guitar - ainda com a patente pendente - que permite ao instrumentista transformar a saída de áudio comum de uma guitarra, 68 • VIOLÃO+

Saulo Van der Ley [email protected]

tecnologia violão com captador ou até mesmo microfone em uma saída MIDI. Isso significa poder usar timbres de vários outros programas e transformar o áudio em MIDI, para tocar e escrever simultaneamente em software editor de partituras, por, no máximo, 100 dólares. E até sem interface MIDI, plugando direto no computador. O aplicativo é disponível para as plataformas Windows, Macintosh e iOS. Foi desenvolvido a partir da linguagem de programação Lua, uma criação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) usada, entre outros casos, no famoso Photoshop. Funciona melhor, como a maioria dos aplicativos de música, nos Macs. Tanto que uma versão para o GarageBand é gratuita e basta instalar o Jam Origin em um Mac, abrir o GarageBand ou o Logic Pro X e uma mensagem surge imediatamente dizendo que mais uma porta MIDI foi aberta (figura 1). Existem versões para guitarra, baixo e violino, que funcionam da mesma forma se usarmos um microfone para cantar e fazer a entrada de notas. Basicamente, tem como estrutura um banco de notas MIDI, associando a cada frequência uma altura cromática, mas capaz de reproduzir bending, com ajustes para ganho, sensibilidade e alguns timbres para quem não tem nenhum disponível para usar o programa. Até há alguns anos, isso só era possível via hardware e com custo muito maior. Está na versão 2, Beta 12 – sendo “Beta” a versão

VIOLÃO+ • 69

tecnologia ainda em desenvolvimento de um aplicativo. Pode ser baixado diretamente do site da Jam Origin (www. jamorigin.com). Em sua forma “demo”, funciona com algumas interrupções, mas pode ser avaliado. No próprio site existe uma seção de tutoriais (www.jamorigin.com/ docs/daw) para usá-lo em conjunto com outras DAWs tanto em modo standalone como via plug-in VST ou AU. A versão para desktop custa 100 dólares; para iOS, 20 dólares; e é gratuita para GarageBand. O modo standalone - sem outros programas Sua tela é simples (figura 2), começando por um ajuste de entradas e saídas de áudio e canais MIDI, controladores extras, sample rate e roteamento de saída MIDI no alto à esquerda. Ali você pode fazer seus ajustes se estiver usando uma interface. Se não estiver, nem precisa configurar nada além da saída MIDI “Virtual MIDI Output” em um Mac. No Windows, vai precisar de um outro app auxiliar, gratuito, configurado como saída MIDI, o loopMIDI (que pode ser baixado em http://www. tobias-erichsen.de/software/loopmidi.html). Abaixo de “Settings”, à esquerda, há uma janela que pode exibir a forma de onda do áudio, uma interessante “Chord Whell” com o círculo de quintas ou um afinador

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tecnologia esperto. Na coluna do meio da tela principal, começamos com alguns timbres do próprio app, que são Bass Strings, Default, Double Lead, Power Hi-Gain, Rhodes, Strum, I’ll Sig For You, Test Piano e Velocity Backing. Uma janela permite mudar a afinação da guitarra (ou violão com captador). Descendo mais, ainda na coluna do meio, ajustes de Velocity MIDI com Gain, Tone e Curve. Depois vêm os ajustes de Pitch Bend, After Touch e pedal de sustain, terminando com um lugar para configurar MIDI Machines. Estas são configurações que o usuário pode criar usando os controles MIDI. No app, há exemplos prontos, como arpejador, vibrato, harmonizer, microtonal e scale filter, entre outros. Se você é leigo em MIDI, experimente essas máquinas MIDI no modo standalone. Na coluna da direita, há um pequeno editor que começa com alguns efeitos FX. Logo abaixo, a opção para amplificador direto e até um Tube Amp. Continue descendo e escolha entre seis tipos de gabinete de falantes, reverb e todos esses ajustes com opção de ganho. Uma pequena janelinha de CPU Usage fica no topo desse editor ao lado dos comandos Edit, Save, Control e Share – este último, um script para compartilhar suas edições com outros usuários. Completam o topo da coluna da direita um botão de Help e outro de Check For Update.

VIOLÃO+ • 71

tecnologia Usando o Jam Origin com uma DAW Como vimos, o Jam Origin pode ser usado sozinho, sem nenhum outro programa – modo Standalone – ou como plug-in na sua DAW. Entretanto, basta abrir o app com o GarageBand, por exemplo, criar uma pista MIDI com qualquer timbre e pronto: você estará entrando notas para gravar. No caso do Logic Pro X, o mesmo procedimento: crie uma pista MIDI, arme para gravar e as suas notas estarão sendo escritas no editor de partitura e piano roll instantaneamente, o que não acontece se o Jam Origin for usado como plug-in AU, note bem. Aí vem a pergunta: e a latência? Como argumentou um colega de computer music, latência “zero” não existe, pois seria ouvir uma nota antes de ser produzida. O Jam Origin tem latência muito aceitável, principalmente se usado com uma interface de boa qualidade. Basta ajustar o Sample Rate experimentando vários valores. O Jam Origin exibe um triângulo amarelo de advertência se o ajuste estiver comprometendo o seu desempenho, em vários parâmetros de configuração. As doze versões Beta do Jam Origin 2 garantem o aperfeiçoamento de oito anos do aplicativo. Entrada de notas em editores de partitura O Jam Origin é compatível com as DAWs Live, GarageBand, Logic, Pro Tools, Sonar, Reaper, Cubase, Fruit Loops, Digital Performer, Samplitude, Reason,

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tecnologia Studio One e Usine (figura 3). Pode ainda ser facilmente configurado como MIDI Input de dentro do Sibelius (7.5 em diante): clique na aba “dispositivos de entrada” (primeira à esquerda no Sibelius) e depois no botão “encontrar novos dispositivos de entrada” com o Jam Origin também aberto. Procedimentos semelhantes podem ser feitos em outros editores de partitura. No Notion 6, por exemplo (figura 4), clique no menu superior em “Notion”, depois em “Preferences” e escolha “MIDI IO” na aba da janela. Pronto: ali está o “MIDI Guitar out” esperando, desde que o Jam Origin esteja também aberto, é claro. Como podem perceber, o Jam Origin MIDI Guitar é uma ferramenta poderosa e serve para muita coisa no dia a dia do violonista/guitarrista por um custo-benefício ínfimo. Um de seus desenvolvedores – Ole Juul Kristensen – se tornou parceiro e tenho feito alguns workshops sobre o aplicativo, que tem um pezinho brasileiro com a linguagem Lua de programação (https://www.lua. org/portugues.html). O Jam Origin pode ser a entrada de notas ideal para quem usa violão, guitarra, baixo, violino ou outros instrumentos de corda com captador de áudio comum. Na próxima edição, vamos entrar nos programas de notação propriamente ditos. Glossário Sequenciar: termo usado para designar sucessão de notas e acordes em pistas de gravação digital em programas ou aparelhos. DAW: estações de trabalho de áudio digital, programas de computador complexos e de custo significativo. MIDI: interface digital para instrumentos musicais, protocolo criado pelos fabricantes na década de 1980, que envolve linguagem de computador e aparelhos físicos. Windows: sistema operacional usado nos produtos da Microsoft. Macintosh: termo genérico para o sistema operacional denominado OS X, usado em produtos da Apple. VIOLÃO+ • 73

tecnologia iOS: sistema operacional para tablets e smartphones da Apple. Linguagem de programação: sistema usado para criar programas pelos desenvolvedores. Beta: quando um programa ainda está em desenvolvimento, suas versões 1, 2, 3 e assim por diante são numeradas, além da versão principal. Exemplo: o Jam Origin está na versão 2, Beta 12, isto é, não é mais a versão principal 1, mas a versão 2 na sua fase Beta 12. Sample rate: taxa de amostragem digital Velocity MIDI: indica a intensidade musical (piano, forte etc.). Não confundir com andamento musical. After Touch: capacidade de variar a dinâmica ou outros parâmetros de um toque de nota mesmo depois que ela é acionada, aumentando-se a pressão no dispositivo que a produz. Essencial no caso de cordas. Arpejador: dispositivo que cria arpejos a partir de notas com diversos parâmetros, como quantidade de oitavas, durações diferentes etc. Harmonizer: dispositivo que cria acordes a partir de notas, geralmente com opções de dissonâncias, inversões etc. Scale Filter: limitação de um sequenciamento a um tipo de escala, muito usado por principiantes para não tocar notas “na trave”… Standalone: modo de funcionamento de um programa sem interação com outros. MIDI I/O: o “I” indica IN e o “O” indica OUT, termo que indica a rota que percorre um sinal MIDI entre entradas e saídas, também conhecido como roteamento MIDI. Pode ser usado também para rotear sinais de áudio.

74 • VIOLÃO+

VIOLA caipira

Mutirão de viola

Fábio Miranda

www.fabiomirandavioleiro.com

O mutirão é uma prática ancestral no mundo rural. Surge da necessidade do camponês de promover relações solidárias com seus próximos a fim de estimular a ajuda mútua em casos de necessidade. E o que o mutirão tem a ver com a viola? Imagine que Seu Zé precisa preparar um terreno para o plantio, mas só ele, sua mulher e três filhos dificilmente darão conta de realizar o trabalho pesado em pouco tempo. Então, Seu Zé chama os vizinhos e compadres para ajudálos numa força tarefa a fim de quitar rapidamente o serviço. Em troca, pela ajuda, Seu Zé oferece almoço e janta, café com bolo e uma cachacinha pra quem é do bico. Daí, ao final do dia, com todo aquele povo reunido no terreiro de Seu Zé, é o momento perfeito pra botar o papo em dia, jogar truco, combinar e descombinar eventos, fazer cantoria, tocar e dançar: hora de os violeiros da região darem as caras! Há também o caso de Seu Zé ser surpreendido pelos benfeitores numa manhã qualquer, pois combinaram às escondidas chegar de surpresa no terreiro do compadre para ajudá-lo no roçado. E ainda chegam cantando na porta, tangendo violas!

VIOLÃO+ • 75

VIOLA caipira Em muitos mutirões há também o canto de trabalho, uma prática muito antiga, que une o trabalho braçal com o canto, acompanhado pelas próprias ferramentas, como a enxada, o pilão, a moenda, o carro de boi etc. O canto remonta aos primórdios da tradição agrária e serve para dar ritmo e vigor ao esforço repetitivo além de torná-lo mais prazeroso (e muitas vezes suportável). Também serve como forma de comunicação entre os trabalhadores, que jogam entre si versos conhecidos ou inventados na hora, alternando com o canto coletivo.

A lição de viola desta edição é pesquisar e conhecer um pouco mais sobre essas práticas. Seguem alguns documentários muito importantes que abordam tanto a prática do mutirão quanto a do canto de trabalho, fundamentais para que o violeiro entenda o seu ofício. Canto de Brão (SP)

Mutirão de tapagem de casa (Chã Preta, AL)

Canto das lavadeiras do Jequitinhonha

Mutirão do porco na serra da Canastra

76 • VIOLÃO+

VIOLA caipira Atualmente essa prática é bem menos frequente, já que o meio rural se transformou bastante com a mecanização do campo, as grandes monoculturas e o êxodo rural. Além disso, o pequeno sitiante, que ainda pratica e depende do mutirão, vem sendo impedido de realizá-lo sob a alegação de que sua prática causaria danos ao meio ambiente em áreas de preservação. Contudo, essa política busca proteger a natureza, mas acaba prejudicando uma prática ancestral da cultura do pequeno sitiante – ecologicamente inofensiva, já que não é feita em larga escala. Enfraquecida a prática do mutirão, perdem-se os laços estabelecidos entre esses indivíduos que necessitam da ajuda mútua não apenas para o trabalho, mas para reforçar os laços comunitários. Por outro lado, o mutirão enquanto prática adjutória ocorre em novos contextos, como nas periferias das grandes cidades. É comum a prática de organizar um mutirão para bater a laje do companheiro que quer terminar sua casa, que em retribuição organiza um churrasco para agradecer a ajuda. A prática do mutirão faz parte da história da música do caipira paulista e dos tocadores e cantadores brasileiros da tradição oral. Quem deseja aprender a tocar viola deve conhecer essa prática e lembrar que mesmo fora do contexto rural o espírito do mutirão pode acompanhar o violeiro em sua prática. Deve o aprendiz buscar entender como trazê-lo para o seu toque e seu canto. Como se canta nas rodas: Me ajude companheiro que eu não posso cantar só Eu sozinho canto bem, mas com você canto mió

VIOLÃO+ • 77

de ouvido

Dos intervalos naturais e alterados É extremamente necessária a leitura e releitura do artigo anterior (edição 13 de Violão+), que trata dos intervalos de uníssono até os intervalos de quinta, para compreender o que vem a seguir. Vimos que alguns intervalos, como os de 2 e 3, variam entre intervalos maiores e menores. Outros, como os de u, 4 e 5, têm denominação diferente por serem considerados, na Teoria dos Intervalos que adotamos, como justos, perfeitos – por razões históricas e razões baseadas na matemática e na física. Ainda não temos uma convenção internacional com terminologia e denominações que faça que todos sigam os mesmos princípios e códigos. Em consequência, não temos também uma única posição no que se refere às cifras dos acordes, o que é lamentável. No Brasil, há uma tendência de empregar as cifras utilizadas pelos songbooks do professor Chediak, que por uma boa razão emprega os ditames da Berklee School. Quando Tom Jobim foi procurado para o primeiro songbook, ele e Chediak tiveram que traduzir todo o cifrado usado pelo compositor para o que seria usado na publicação. Conhecer os princípios e o que rege as denominações de intervalos e acordes faz que não estranhemos os códigos utilizados nos países nórdicos, por exemplo, que têm em sua teoria a 5 Maior e 5 menor no lugar de 5 justa e 5 diminuta. Basta fazer a tradução com conhecimento de causa. Os símbolos são muitos, porém a interpretação depende do conhecimento pleno sobre o assunto. Dos intervalos naturais (continuação) Seria bem procedente se fizéssemos o mesmo raciocínio a respeito dos intervalos de u a 5 para os intervalos 78 • VIOLÃO+

Reinaldo Garrido Russo www.musikosofia.com.br [email protected]

de ouvido restantes, até 8. Mas, vamos abrir uma pequena janela e estudar sobre “inversão dos intervalos”. Tudo ficará mais fácil. Vejamos: Inversão do intervalo é o intervalo resultante de uma entre duas operações. 1. Transpor a nota mais grave de um intervalo para uma 8 acima. 2. Transpor a nota mais aguda de um intervalo para uma 8 abaixo. O intervalo resultante é chamado de inversão do intervalo original. Vejamos alguns exemplos na pauta no que se refere à quantidade intervalar: Exemplo 1

1

 4      3  5 6 6       3     transporte 8a acima

transporte 8a abaixo

transporte 8a abaixo

 6 4    3   u   8   5        transporte 8a abaixo

transporte 8a abaixo

transporte 8a acima

Como é fácil perceber, o intervalo tem como inversão um intervalo diferente. É possível fazer uma tabela como a exposta abaixo: Intervalo Inversão U 8 2 7 3 6 4 5 5 4 6 3 7 2 8 U VIOLÃO+ • 79

1

de ouvido Repare que a soma do intervalo original e sua inversão é igual a nove. Portanto, é possível saber a inversão de um intervalo tirando a quantidade intervalar do número nove. Exemplos: inversão da 3 é a 6 (9 - 3= 6); inversão da 8 é 1 ou uníssono (9 – 8= 1) e assim por diante. Escreva você mesmo as inversões dos intervalos dados na pauta do Exemplo 2. Exemplo 2

 5   4   ?   ?  ?    2      transporte 8a acima

transporte 8a abaixo

transporte 8a abaixo

  ?    ? u            7  transporte 8a abaixo

transporte 8a acima

Importante: existe inversão apenas dos intervalos simples (do uníssono até oitava). Os intervalos compostos (de oitava em diante) não têm inversão. Dos intervalos quanto à qualidade Da mesma forma que a inversão de um intervalo é diferente do intervalo original quanto à sua quantidade (resultado da subtração de nove), será diferente quanto à qualidade intervalar também. Basta observar a tabela a seguir: Intervalo Inversão J J M m m M dim aum aum dim Agora ficou mais fácil classificar os intervalos de 5 a 8. Basta ter em mão o artigo anterior e observar cada intervalo apresentado e como se dará a sua inversão. Acompanhe o conjunto dos intervalos abaixo e atente para o processo 80 • VIOLÃO+

transporte 8a acima

de ouvido 1 mnemônico (dicas que facilitam a memorização) que acompanha cada explanação: Inversão dos intervalos de uníssono - INTERVALOS DE OITAVA

       8j  8j 8j 8j 8j  8j 8j            PM: Sendo todos os uníssonos naturais intervalos justos, suas inversões são justas

transposição da nota mais grave do intervalo de U para 8a acima

Inversão dos intervalos de 3 - INTERVALOS DE 6 PM: Os intervalos de 3M tornan-se 6m quando invertidos, e os intervalos de 3m tornan-se 6M Sendo apenas três intervalos de 3M, os mesmos invertidos serão de 6m. Confira!

       6M 6M  6m 6M   6M  6m 6m         transposição da nota mais grave do intervalo de 3 para 8a acima

Inversão dos intervalos de 2 - INTERVALOS DE 7 PM: Os intervalos de 2M tornan-se 7m quando invertidos, e os intervalos de 2m tornan-se 7M Se guardarmos que há apenas dois intervalos de 2m, então há apenas dois intervalos de 7m

 7M          7m  7M 7m   7m  7m    7m   transposição da nota mais grave do intervalo de 2 para 8a acima

Na próxima edição exploraremos o aspecto sonoro de cada intervalo produzindo uma tabela que valerá para o resto de sua vida musical. Até lá!

VIOLÃO+ • 81

Flamenco e música brasileira

Movimentos básicos Olá Amigos! É uma grande hora iniciar este trabalho com vocês. Me chamo Felipe Coelho e desenvolvo trabalho autoral instrumental para violão solo ou em diversas formações, em que a música Brasileira tem um casamento forte com o flamenco. Estas duas vertentes musicais têm propriedades violonísticas distintas, e explorando o melhor de cada uma você pode potencializar seu violão. Esta coluna explorará técnicas do flamenco que serão aplicadas à criação de grooves brasileiros e suas variantes. Movimentos Básicos Não há necessidade de partitura nesta primeira aula porque apenas nos dedicaremos a aprender uma série de movimentos básicos, que só depois de dominados, serão aplicados à sequencias ritmicas. • Golpe agudo: Consiste em bater com o dedo indicador da mão direita no tampo do violão, acima da boca, no mesmo momento em que se ataca um acorde. (observar vídeo 1) • Golpe grave: Consiste aplicar uma batida na região perto do cavalete, logo abaixo das cordas, utilizando os dedos 1, 2, e 3 da mão direita, afim de obter um som grave, sendo uma espécie de bumbo. Há de se enrijecer os dedos afim de golpear o tampo, obtendo um “umpf”. (Observar vídeo 2) • Rasgueado de abanico: Consiste em tocar as cordas do violão em um ciclo de três movimentos. 1: polegar para cima, 2: dedos para baixo e 3: polegar para baixo. O punho gira seguindo o movimento do polegar e deve-se encontrar a posição onde o esforço é mínimo. • Rasgueado: Consiste em sequência de quatro ataques às cordas do violão utilizando os dedos: anular, médio 82 • VIOLÃO+

Felipe Coelho

[email protected]

Flamenco e música brasileira indicador, e retorno do indicador. Deve-se estudar um movimento por vez, mantendo em mente que, justo à execução de cada movimento, o mão deve também prepara a posição de ataque do próximo movimento e assim por diante. A clareza ritmica nas técnicas de rasgueio é crucial para um efeito musical. Deve-se estudar o movimento acentuando colcheias, tercinas, semicolcheias e até quintinas, afim de obter liberdade rítmica.

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VIOLÃO+ • 83

coda

Só acontece comigo...

Luis Stelzer

Quando está tudo por um fio, mas ainda parece que vai dar certo, vem o inesperado! E tudo, absolutamente tudo, dá errado, sai do controle, vai “pras cucuias...”. Já passou por uma situação assim? Tenho quase certeza que sim! Cada pessoa tem, lá no seu íntimo, lembranças de acontecimentos que são verdadeiros pesadelos. Vou contar mais um dos meus, aqui. A vantagem dele é que tem, sim, um final feliz Estava eu, feliz, assistindo a um workshop mais uma conversa sobre a vida e a no conservatório em que trabalhava. Se carreira desse grande músico que é posso falar de quem era o workshop? Menescal. Suas histórias são deliciosas, Claro, era do grande Roberto Menescal, principalmente as com Tom Jobim e com ícone da bossa nova, grande músico, João Gilberto. Mas essas, eu não conto. compositor e produtor musical. O Assista a um workshop dele, pergunte, conservatório era o Souza Lima, em São e se delicie. É muito bom, mesmo. E Paulo. Eu já era professor de lá havia divertido, você dá boas risadas. Tudo muitos anos. Então, muito leve. estava em casa. Chamei Nunca falei algo tão Ele também estava lá alguns alunos, falei com para divulgar um violão, sério em minha vida. alguns amigos. Como do qual era endorser. Era questão de honra. Tratava-se de um era um dia de semana, no final da tarde, não Se tocasse mal, não instrumento de cordas foi possível para muita de nylon, elétrico, com voltaria a tocar em gente ir. Mas estávamos captação MIDI. Eu tinha lá, felizes. Puxando pela um praticamente igual, o público. memória, minhas alunas Godin, que suei sangue Priscila e Thaís, meu aluno Nelson e para pagar. Não consegui comprar o sua esposa Denise, além da professora módulo MIDI, de tão caro que era. Mas Selma, de canto, e do professor Pollaco, toquei muito com esse instrumento: de guitarra. O Orlando, que era o faz-tudo muitos barzinhos e palcos de teatro o do Souza Lima, também estava lá. Tinha viram desfilar por aí. Me empolguei. bem mais gente, é claro, mas o auditório Menescal, depois de umas duas horas não chegou a lotar. de papo animadíssimo e demonstração O workshop seguia animado. Era muito do violão, chamou o Pollaco para tocar. 84 • VIOLÃO+

coda Foi bem legal, show de bola. Tudo certo, caminhando para o final sem sobressaltos, quando ele pergunta para a plateia: “alguém quer experimentar o violão?”. Quando vi, minha mão já estava levantada. Ele me chamou ao palco. Aí que o bicho pegou. Eu fiquei bem tranquilo, me apresentei ao Menescal. Comentei que tinha um violão com modelo muito próximo ao dele, que queria mesmo era testar o tal do MIDI, que eu nunca tinha feito. Tudo certo, tudo ligado, todos os controles funcionando, vamos voar, quando vi que o microfone que ele tinha usado estava bem na minha frente. Eu ia tocar instrumental, então, fui afastar o microfone. Quando soltei o pedestal, não reparei que o palco tinha acabado. Quando vi que o microfone estava caindo, me levantei rapidamente para evitar o tombo do mesmo. Consegui pegar, mas pisei no cabo MIDI que estava acoplado ao violão e...cabruuuummmm!: um som terrível de conexões se estragando, amplificadas nas caixa de som, feria os ouvidos de todos os presentes. Minha cara estava no chão. Em menos de dez segundos, Menescal e sua equipe estavam em cima de mim, tentando recolocar jaques do cabo de 12 pinos, que tinha simplesmente pulado do violão. Me senti como um motociclista que tinha caído em um acidente, sendo atendido por paramédicos. Via, entre as pessoas que estavam fazendo o socorro, a cara aflita dos meus alunos e da professora Selma, minha grande amiga. Após alguns minutos de tentativas - que para mim pareceram horas -, constatou-se que o cabo e o jaque precisariam de manutenção. Não sairia mais nenhum som dali naquele dia.

Foi quando lembrei: no meu violão, há uma entrada para cabo normal. Neste, também deve ter. Pedi ao Orlando que me jogasse um famoso cabo P10xP10. Teríamos som novamente. Eu precisava tocar, tirar aquela impressão de ser um total atrapalhado, que estava sendo passada a todos ali. Ele me jogou o cabo e fui plugar no violão, mas, por 30 centímetros, ele não chegava ao jaque P10 do instrumento. Todo mundo riu muito, até eu. Mas, de nervoso. Mudei de cadeira, para uma outra, mais próxima. O cabo, finalmente, chegou ao jaque. Toquei um Mi Maior. Dali saiu um som que julguei ser o mais maravilhoso que podia escutar naquela hora. Tem coisas que você pega e fala: só acontece comigo... Antes de tocar, falei para os presentes que, se depois de tudo aquilo, ainda por cima eu viesse a tocar mal, nunca mais pisaria num palco. Todos riram, o Menescal se divertiu, esqueceu um pouco que eu tinha estragado o violão dele. O que ninguém sabe é que eu nunca falei algo tão sério em minha vida. Era questão de honra. Se tocasse mal, não voltaria a tocar em público. Toquei. E bem. Tanto que pediram bis, duas vezes. No último, chamei a Selma para cantar uma bossa bem legal. Arrasamos. Tudo terminou bem. Ufa...

VIOLÃO+ • 85

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