Tipologia Bíblica

April 24, 2017 | Author: Dalberto Ribeiro | Category: N/A
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A da H ab ersh o n

MANUAL DE TIPOLOGIA BÍBLICA

Como reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras Sagradas

is/

Vida

A D A HABER-SHON

MANUAL DE TIPOLOGIA BÍBLICA Tradução

G o rd o n C h o w n

Virtual ôooks C o m o r e c o n h e c e i - e i n t e r p r e t a r s í m b o lo s , t ip o s e a le ç jo r iá s d a s E s c r it u r a s S a g r a d a s

©1957 e 1974, de Kregel Publication Título do original • Study o f the types, edição publicada pela K r e g e l p u b lic a tio n

(Grand Rapids, Michigan,

eua)

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por E d it o r a V id a

Rua Júlio de Castilhos, 280 * Belenzinho c e p 03059-000 • São Paulo, sp Telefax 0 xx 11 6096 6814 www.editoravida.com.br

P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e i o s , SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da

Nova Versão Internacional (nvi),

©2001, publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, S P , Brasil) Habershon, Ada R., 1861-1918 Manual de tipologiâ bíblica : como reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras Sagradas / Ada R. Habershon ; tradução Gordon Chown. — São Paulo : Editora Vida, 2003. Título original: The study ò f the types ISBN

85-7367-624-8

1. Bíblia I. Título.

NT

— Relação com o Antigo Testamento 2. Tipologia (Teologia)

02-5044 índice para catálogo sistemático 1. Símbolos bíblicos : Interpretação 220.64 2. Tipologia bíblica : Interpretação 220.64

S u m ár io

P r im e ir a p a r te

0 estudo dos tipos P refácio

9

In t r o d u ç ã o

11

R a z õ e s p a ra e s tu d a r o s t ip o s

17

T ip o s d u p lo s

23

O a g ru p a m e n to d o s t ip o s

31

T ip o s d o c a lv á r io

37

T ip o s da r e s s u r r e iç ã o

47

As h a b ita ç õ e s de D e u s

53

A ARCA DO ALIANÇA

61

A SÉPTUPLA PROVISÃO DE ÜEUS PARA A PURIFICAÇÃO

71

AS OFERTAS

85

C o r e s e s u b s tâ n c ia s típ ic a s

95

As ROUPAS d o c r e n t e

103

L u g a r e s típ ic o s

111

P e r s o n a g e n s típ ic a s

121

T ip o s de C r is t o c o m o o p a s to r

133

T ip o s d o E s p í r it o S a n to

141

A m a je s ta d e d o s cé u s

153

A p ê n d ic e s 1. Verbos típicos

161

2. Moisés, um tipo de Cristo

163

3. José, um tipo de Cristo

169

S e g u n d a p a r te

Sacerdotes e levitas In t r o d u ç ã o

179 187

1.

Os SACERDOTES

2.

0

3.

T o d o s OS TIPOS DE SERVIÇO

215

4.

R e p o u s o e s e r v iç o f u t u r o s

243

E OS LEVITAS SÃO TIPOS DA IGREJA

LUGAR DO SERVIÇO

209

P rimeira

parte

E S T U D O DOS T I P O S

P

O

refácio

conteúdo destes capítulos já foi apresentado em vários estudos bíblicos. O objetivo deles não é tanto a tentativa de explicar os tipos individuais, a respeito dos quais foram escritos tantos volumes, quanto despertar interesse pelo estudo como um todo e enfatizar a importância de comparar um tipo com outro. Além de esse método parecer ser o modo mais seguro de chegar ao significado dos tipos separadamente, também é valioso por oferecer evidências da presença de um só Espírito que inspira a totalidade. N ão foi possível fazer m ais que sugerir alguns dos vários métodos segundo os quais os tipos possam ser agrupados entre si, e oferecer amostras da grande variedade que existe entre eles. Esses estudos são leves esboços, muito imperfeitos, de uma vista geral. Em muitos casos, preencher pormenores em demasia teria envolvido a perda de vista dos contornos principais dos quadros; mas se alguns se sentirem induzidos a explorar por conta própria, descobrirão as belezas ilimitadas que os envolvem por todos os lados. Seria impossível reconhecer todos os canais através dos quais foram recebidas tantas coisas preciosas no tocante aos tipos. Lemos um livro ou escutamos uma preleção, e algum pensamento nos chamou a atenção; tomamos nota dele e se torna nosso. Outros pensamentos são acrescentados a respeito do mesmo assunto, e não demoramos para nos esquecer por meio de quem vieram. Se são dados por Deus, a identificação de suas origens não importa muito; isso porque, no estudo da Bíblia, qualquer coisa que seja realmente original, qualquer coisa que é simplesmente nossa, não

vale a pena passar para outra pessoa. Mas se, no decurso do nosso estudo, D eus abrir nossos olhos para contem plarm os coisas maravilhosas, é para nós contarmos aos outros o que vimos. Quando olharem por conta própria, e virem as mesmas coisas, logo se esquecerão de quem as indicou. Pode ser totalmente desconhecido o homem que achou ouro, ou seu nome pode ser logo esquecido; mas o ouro passa de mão em mão e outros são enriquecidos. Aquele que é prefigurado nos tipos não é um mero homem, mas é Iavé Deus — o grande Eu Sou; e o cenário principal que é prenunciado é o evento mais solene que aconteceu na terra. Ao considerarmos os tipos, portanto, e ao fazermos nosso fraco esforço para fala deles, a terra em que pisamos é terra santa. Seja perdoada qualquer coisa nestas páginas que porventura contraria os pensamentos de Deus e isso por amor ao grande sumo sacerdote que carrega sobre si a iniqüidade nas nossas coisas santas; e que ele use o que provém de si mesmo para estimular muitas pessoas a estudar de modo mais profundo e reverente sua Palavra, a fim de que o seu nome seja glorificado.

Introdução

A

consideração dos tipos no Antigo Testamento (at) é um dos assuntos mais interessantes e construtivos para o estu ­ do da Bíblia e, ao mesmo tempo, é totalmente necessário para entendermos corretamente a Palavra de Deus. O AT é freqüentemente tratado como se não passasse de uma coletânea de contos históricos, que apresenta a história do povo judeu, e que ilustra os modos e costumes orientais; útil como fonte de histórias de escola dominical para crianças, mas de bem pouca importância prática quanto ao ensino espiritual. A Bíblia pode ser comparada com aqueles volumes, lindamente ilustrados, que são tão freqüentemente publicados, e que possuem várias gravuras de pinturas selecionadas no com eço do livro, seguidos por capítulos de letras impressas que descrevem os quadros, que contam a história deles, ou que narram alguma coisa a respeito do pintor. Seria difícil conceber que alguém tentasse compreender semelhantes descrições sem se referir aos quadros propriamente ditos; mas é freqüentemente assim que a Bíblia é tratada. Deus nos ofereceu uma série de quadros nos primeiros livros da Bíblia. O N ovo Testamento (n t ) se refere a eles e os explica; entretanto, muitas pessoas se contentam em ler o NT sem qualquer referência aos tipos no AT. N ão acreditam no que A gostinho acredita: “O N ovo está contido no Antigo; o Antigo é explicado pelo N ovo”. “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil [...] para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” mas, apesar disso, existem tantas pessoas que se contentam

em saber pouco ou nada a respeito de partes da Bíblia que claramente nos foram dadas por Deus visando algum propósito. Temos o privilégio de viver em tempos de muitas atividades cristãs, mas embora exista tanta energia e zelo, é possível ocuparse com “ boas obras” sem estar “totalmente equipado” — e assim, as próprias obras sofrem. Maria fez uma “boa obra” quando quebrou seu vaso de alabastro cheio de ungüento, sendo que com este ungiu ao Senhor; mas isto era resultado da “boa parte” que escolhera quando “se sentava aos pés de Jesus e escutava a sua palavra”. Foi provavelmente ali que ficou sabendo do propósito de Jesus no to ­ cante à ressurreição, e percebeu que se não o ungisse para o sepultamento “de antem ão”, não teria outra oportunidade. Jesus ainda quer que seus filhos adotem aquela postura e, em humilde depen­ dência dele, descubram o que ele quer lhes ensinar. Ele não pretende que leiamos o A T conforme leríamos a história da Grécia ou de Roma antigas. Pelo contrário, mediante o estudo cuidadoso, orien­ tado pelo próprio Jesus, devemos descobrir seus motivos para levar os eventos a acontecer, ou permitir que acontecessem, e para nos transmitir o registro desses eventos. O desenvolvimento e sucesso dos empreendimentos cristãos é uma das características luminosas dos dias em que vivemos; mas não podemos fechar nossos olhos diante do lado escuro do quadro. Existem outras coisas que também estão crescendo e entre elas há o avanço m arcante da dissem inação da doutrina heterodoxa. Muitos estão abrindo mão das simples verdades da Palavra de Deus. A inspiração das Escrituras é atacada por todos os lados; a doutrina da expiação mediante a substituição é negada, ou levada em pouca conta. A o mesmo tempo, estão sendo pregadas outras coisas, que são contrárias à Palavra. Assim não aconteceria tão freqüentemente se os diferentes tipos do AT fossem estudados com mais cuidado e ensinados mais geralmente. A tipologia do AT é o próprio ab eced ário d a linguagem em qu e a doutrin a do NT é escrita. E, posto que m uitos dos n ossos gran des teólogos estão recon h ecidam en te ign oran tes qu an to à tipologia, n ão precisarem os n os sentir surpreendidos se n em sem pre são os exp ositores m ais seguros das d o u trin as.1 'Robert A n d e r s o n , The literal interpretation of Scripture.

Além disso, é grande a perda pessoal para quem não estuda por conta própria essa parte da Bíblia. Mesmo assim, é freqüente ficarmos conhecendo pessoas que são crentes durante anos e que nunca dedicaram atenção aos tipos. Muitas razões são apresentadas por essa negligência. Alguns acham que os tipos são difíceis; outros dizem que esse estudo é fantasioso; outros, que não é interessante; e assim, por um motivo ou outro, deixam desapercebido o rico tesouro que, de outra forma, poderiam obter. Nem todas as coisas preciosas afloram à superfície. Precisamos escavar a fim de achá-las. Assim como escavar o pri­ meiro poço, a obra pode ser laboriosa no início, e exigir diligência; mas quando alcançamos um rico filão de minério, somos bem re­ compensados ao descobrirmos que alcançamos uma mina de ri­ quezas inexauríveis. E muito importante entendermos qual é o significado de um tipo. Em ICoríntios 10 lemos no tocante às várias experiências dos filhos de Israel no deserto que “Estas coisas aconteceram a eles como exemplos [lit. de modo típico] ” e Paulo explica que o registro desses eventos nos é oferecido na Bíblia visando ao propósito especial, que é ensinar-nos certas lições. Essa passagem bíblica parece abranger tudo quanto aconteceu ao povo remido por Deus, na viagem do lugar da escravidão até à terra prometida. A partir daí, podemos também chegar à conclusão de que as demais porções da história também nos foram dadas com propósito semelhante. Mas esses incidentes, além de nos ensinar lições espirituais, realm ente aconteceram. Alguns que estão abandonando a sua fé na inspiração da Bíblia gostariam de nos levar a acreditar que, embora haja significado espiritual nessas histórias antigas, não passam de tradições e fábulas. N ão seriam registros de eventos reais, mas meramente alegorias, que não devem ser entendidas literalmente, como O peregrino de Bunyan. A nós, basta que o próprio Senhor e os escritores do n t os consideravam registros verídicos de eventos que realmente aconteceram. Certas personagens são claramente referidas no N T como tipos. Aquelas eram pessoas vivas e reais, e não mitológicas que nunca viveram; e fica claro que o registro da história delas foi dado para nos ensinar a respeito daqueles cuja vinda prenunciavam. A história de José é exemplo notável desse fato; e quando vemos na sua vida

um retrato dos “sofrimentos de Cristo e da glória que se seguiria”, e do livramento que Cristo levou a efeito, entendemos por que uma porção tão grande do livro de Gênesis é dedicada à história de José. Este é provavelmente o tipo mais completo do nosso Senhor que possamos descobrir; e, de modo diferente de tantos heróis do AT , parece não existir nenhuma mancha em sua vida que maculasse o quadro. Mas, além de incidentes típicos e personagens típicos, existe outra classe muito importante de tipos, isto é, todas as coisas que foram expressamente ordenadas por Deus em conexão com os sacrifícios no Tabernáculo e no Templo, os quais, em todos os seus pormenores foram claramente dados como tipos, sendo que “O Espírito Santo assim significava” — algumas lições a respeito do Senhor e da sua obra. Alguns gostariam de nos levar a acreditar que a religião hebraica, conforme é descrita nos livros de Moisés, foi m eram ente tom ada de empréstimo das religiões pagãs em derredor; mas o estudo cuidadoso dos tipos não deixa lugar para duvidarmos que a totalidade da economia levítica foi divinamente instituída para prenunciar a obra e pessoa do próprio Senhor Jesus Cristo. N ão poderemos declarar com certeza que algo é um tipo a não ser que tenhamos alguma justificativa para assim fazer. Se não pudermos indicar nenhum texto do N T com nossa autoridade, ou se não existir nenhum a expressão ou analogia que indique o antítipo, será mais seguro e mais correto chamá-lo ilustração. Enquanto visitávamos Northfield, alguns entre nós estavam admirando o belo modelo do Templo de Salom ão, projetado pelo sr. Newberry, que está na biblioteca do Seminário do sr. Moody; e uma senhora que escutara a nossa conversa disse não acreditar em nenhum dos tipos em si — achava tudo isso fantasioso. Pro­ curamos explicar-lhe que um tipo legítimo era algo que Deus projetou para nos ensinar uma lição; e se esse fato for comprovado genuíno no n t , não haverá nenhum receio de sermos fantasiosos. Perguntamos a ela se não existia nenhum tipo em que ela pudesse acreditar. — N ão — disse ela. — Nenhum. — Você não acredita que quando João Batista disse “Vejam o Cordeiro de D eus”, ele queria dizer que todos os cordeiros que

tinham sido oferecidos em sacrifício antes de então eram tipos do Senhor Jesus? — Sim — disse ela — consigo enxergar isso. — Você não acha que quando Pedro fala dos crentes em termos de pedras vivas edificadas sobre uma casa espiritual, e de sacerdócio real, podemos entender que as pedras do templo e o sacerdócio levítico são tipos dos crentes? — Sim, posso enxergar isso. — Então, já que Hebreus nos diz que o Senhor Jesus Cristo consagrou para nós um caminho novo e vivo, “através do véu, isto é, da sua carne”, não podemos dizer, sem receio, que o véu era um tipo da encarnação, e que o véu rasgado representava sua morte? Sim, isso ela conseguia ver. E assim, depois de ter sido obrigada a reconhecer cinco ou seis tipos muito evidentes, recomendamos que ela os estudasse com eficiência, e dissemos que tínhamos certeza de que ela desejaria estudar mais sobre eles. N ão demorou para ela se interessar muito por esse estudo. Nesses dias de muitas conferências, por que nunca ouvimos falar de uma delas para o estudo dos tipos? Existem cultos para a pregação do evangelho; existem conferências sobre as verdades fundamentais; sobre a inspiração da Palavra; sobre a segunda vinda do nosso Senhor e outros assuntos proféticos; sobre a união e privilégios da igreja, e convenções para “o aprofundamento da vida espiritual”. Todos esses assuntos estão incluídos no estudo dos tipos. Onde poderemos achar mais belos temas do evangelho que nas cenas do AT, tais como o levantamento da serpente de bronze, o sacrifício do cordeiro pascal, e muitos outros? A s verdades fundamentais são explicadas e ilustradas com clareza; isso porque doutrinas tais como a expiação, a substituição, o valor do sangue, são ensinadas com maior clareza nos tipos que em qualquer parte das Escrituras — excetuan do-se nos relatos do próprio C alvário, que os tipos prenunciavam. Nossa crença na inspiração da Bíblia não pode deixar de ser fortalecida por esse estudo. Acharemos retratos proféticos notáveis no A T ; pois é impossível enxergar a plena beleza de muitas das instituições levíticas à parte da verdade reveladora. N o tocante aos assuntos relacionados com os privilégios e a unidade da igreja, estes também estão prenunciados repetidas vezes pelos tipos. À s vezes é declarado que a igreja não é o assunto das

profecias no AT; mas mesmo se for assim, a igreja não precisa ser excluída dos tipos. Já no segundo capítulo da Bíblia, vemos a igreja sendo prenunciada, pois ali temos o relato da formação de Eva, e da sua união com Adão, a qual, segundo Paulo nos diz em Efésios 5, é um tipo do nosso relacionamento com Cristo. Citando Gênesis 2.24: “Os dois se tornarão uma só carne”, acrescenta: “Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja”. A maioria esm agadora das convenções realizadas visam ao “aprofundamento da vida espiritual”; e nos tipos, o assunto da santidade parece ser enfatizado mais do que todos os demais. Nos livros de Moisés, aprendemos com maior clareza que em qualquer outro lugar a termos um conceito correto da santidade de Deus e da nossa necessidade. Testemunhas oculares dos sofrimentos de Cristo nos têm oferecido, nos evangelhos, daquele grande antítipo, a cruz do Calvário; mas é possível que não possamos enxergar todos os seus variados aspectos sem a ajuda dos tipos. O s pormenores que nos apresentam nas instruções no tocante às ofertas e às instituições do Tabernáculo, nos ensinam muitas lições e enfatizam muitas verdades que, de outra forma, deixaríamos despercebidas. Como poderíamos deixar de aprender cada vez mais a respeito de como Deus abomina o pecado, e da nossa necessidade constante da purificação, ao vermos as provisões maravilhosas que ele tem feito para todos os tipos de contaminação? Assim, vemos prefigurada nos tipos “toda a vontade de D eus”. Sem as revelações mais plenas da verdade nas epístolas, não poderiam ser totalmente compreendidos; mas com esses ensinos percebemos significados que, por certo, estavam encobertos dos que viviam nos tempos do AT. Alguns têm dito que os tipos são um só pedacinho da Bíblia, e é provável que esta seja uma opinião geral; mas é correta? O s tipos não percorrem a Bíblia inteira, não envolvem no seu estudo uma familiaridade crescente com a totalidade da Palavra de Deus? N os livros de Moisés e nos livros históricos temos personagens, eventos, e instituições típicas; nos livros poéticos, temos declarações típicas de personagens típicas; nos Profetas, voltamos a ter personagens e eventos típicos, e o cumprimento dos tipos é predito; ao passo que n a totalidade do n t , são constantemente referidos e explicados, e o grande antítipo é apresentado.

Razões

E

para

estudar

os

tipos

xistem m uitas razões pelas quais, em nosso estudo da Palavra de D eus, não devem os negligenciar os tipos que ocupam uma posição de tanto destaque. O próprio Deus lhes atribui muito valor. Foi seu Espírito quem os projetou; H ebreus nos ensina, pois, que na construção do Tabernáculo todos os pormenores foram por ele planejados. Ao falar do véu que dividia o Lugar Santo do Santo dos Santos, o escritor diz: “Com isto, o Espírito Santo estava mostrando que ainda não havia sido manifestado o caminho para o Santo dos Santos, enquanto ainda permanecia o primeiro Tabernáculo”. Havia significado naquele véu; não era mera cortina divisória entre as duas partes do Tabernáculo, mas tinha o propósito de transmitir uma lição grandiosa. Outros pormenores do Tabernáculo e de todos os tipos devem ser de igual significância; e embora nem todos sejam explicados com igual clareza, nós podemos, com a ajuda do autor, procurar descobrir o que ele quer dizer. Sem semelhante Mestre, a dificuldade do estudo poderia realmente nos desanimar; mas temos a promessa do Senhor: “... lhes ensinará todas as coisas”, “Ele os guiará a toda a verdade”, “Receberá do que é meu e o tom ará conhecido a vocês”. Q uando lemos nos evangelhos a respeito do véu sendo rasgado, podemos nos lembrar do trecho de Hebreus a respeito do véu, e escrever na margem da nossa Bíblia: “o Espírito Santo assim mostra que o caminho para o Santo dos Santos” agora foi manifestado. A mão invisível rasgou o véu “de cima para baixo”; e não de baixo para cima, pois nesse caso poderia ter parecido que o homem tivesse algo que ver com o assunto. O próprio Deus completava o tipo, e acrescentava ao quadro os retoques finais.

A imensa importância que Deus atribui aos tipos é demonstrada por ele não se ter esquecido, num momento tão importante, de m arcar a sign ificân cia d aq u ele even to ao que tan to s tipos apontavam, de rasgar o véu e declarar que o caminho fechado foi aberto mediante a morte do seu Filho. “A partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém” tinha sido o assunto quando Moisés e Elias conversavam com o Senhor Jesus Cristo no monte da Transfiguração, e a partir de então, todo o céu deve ter se ocupado daquilo que acontecia no Calvário; mas nem por isso os tipos foram esquecidos por Deus. Todos os pormenores são tão exatos, que cada um deve ser cumprido pelo grande antítipo no seu advento. N ão somente são retratos de eventos que já se passaram em tempos distantes, que podemos comparar com aquilo que aconteceu depois, como também eram planos com os quais os eventos subseqüentes devem se corresponder. E por isso que lemos, no relato da crucificação em João: “Mas quando chegaram a Jesus, percebendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas... Estas coisas aconteceram para que se cumprisse a Escritura: ‘Nenhum dos seus ossos será quebrado’”. E essa Escritura está na ordenança da Páscoa, “nem quebrem nenhum dos ossos”. N osso Senhor tinha os tipos em alta estima. Repetidas vezes se referia a eles e dem onstrava como apontavam para ele mesmo. Que estudo bíblico maravilhoso ter dado àqueles dois discípulos no caminho de Emaús, quando “com eçando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” ; e pelas mesmas Escrituras respondeu à sua própria pergunta: “N ão devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória.'”’. O s sofrimentos e a glória foram preditos nos tipos, tanto quanto nas profecias diretas; e não era de se admirar que o coração ardia dentro deles naquela caminhada memorável, e mais tarde, ao anoitecer, quando “ lhes abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras”. O s eventos que tinham acabado de acontecer, estavam todos prefigurados nas Escrituras; mas não tinham compreendido os antigos textos familiares até Jesus lhes mostrar como era “necessário que se cumprisse tudo o que a respeito [de Jesus] estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos salm os”. Aqueles que negligenciam o estudo dos

tipo deixam de perceber o quanto de Cristo se acha na Lei de M oisés. Em Apocalipse, é como o antítipo de todos os sacrifícios que Jesus é visto principalmente. É referido como o Cordeiro nada menos do que 28 vezes. Mesmo no capítulo 5, onde o apóstolo está esperando que o Leão de Judá se apresente na sua força, este aparece como um Cordeiro; e o discípulo amado o vê de novo como o viu pela primeira vez naquele dia inesquecível quando João Batista o indicou como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Os tipos falam a respeito de Jesus. Se quisermos “crescer na graça, e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”, não podemos fazer nada melhor do que estudar o que eles nos contam a respeito da sua pessoa e da sua obra. Disse aos judeus, enquanto estava na terra: “Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito”. Com a exceção de algumas passagens tais como Deuteronômio 18.15-19, onde fica claramente predito o advento do Messias, era nos tipos que Moisés escrevia a respeito de Cristo. Todos eles falavam a seu respeito: o Tabernáculo, as ofertas, as festas, contavam a respeito de aspectos diferentes da sua obra em nosso favor; e assim como “no seu templo todos clamam ‘Glória’” ! assim também em cada um desses tipos anteriores. Os escritores do n t lhes dão destaque. São referidos como “a Escritura,” e sabemos que “a Escritura não pode ser desfeita”. Os tipos e sombras do a t precisam ser cumpridos no n t . Lemos, por exemplo, em ICoríntios 15.4, que Cristo “ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Porventura a ressurreição de Cristo não é profetizada nos tipos de modo mais claro do que em qualquer outro lugar? N o mover do feixe dos primeiros frutos “no dia seguinte ao sábado”, imediatamente após a Páscoa (Lv 23), o próprio dia é predito; e sabemos, por outro versículo em ICoríntios 15 que se trata de uma referência à sua ressurreição, pois Paulo fala de “Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem”. Varias passagens no n t não podem ser entendidas de outra forma. Hebreus consiste quase inteiramente em referências ao AT: Cristo, como a substância, revela ser melhor do que as sombras — melhor do que Moisés, do que Josué, do que Abraão, do que Arão, do que o primeiro Tabernáculo, do que os sacrifícios levíticos, do

que a totalidade da nuvem de testemunhas na galeria dos quadros da fé; e, finalmente, seu sangue revela ser melhor do que o sangue de Abel. A s vezes nos esquecemos de que os escritores do NT eram estudiosos do AT; de que era a Bíblia deles, e de que naturalmente se referiam repetidas vezes aos tipos e sombras, na expectativa de que seus leitores também tivessem familiaridade com os mesmos. Se deixamos de perceber essas alusões, perdemos boa parte da beleza dessas passagens, e não conseguimos entendê-las corretamente. Quando, por exemplo, em Atos 3, Pedro, ao falar da segunda vinda do Senhor, diz: “Ê necessário que ele permaneça no céu até que chegue o tempo em que Deus restaurará todas as coisas”, deixa­ remos totalmente de perceber o significado de ver o tipo ao qual ele evidentemente se refere. Lemos em Levítico 25 que, quando a trombeta é soada: “cada um de vocês voltará para a propriedade da sua própria família e para o seu próprio clã”. E: “N o ano do Jubileu as terras serão devolvidas àquele de quem ele as comprou” (Lv 27.24). É isso que acontecerá em Israel quando lhes aparecer o Messias. O país voltará a pertencer ao povo de Deus, e o Filho de Davi voltará à sua família e à sua terra. Essa expressão em Atos é um exemplo de como a interpretação primária de uma passagem pode passar desapercebida por falta de enxergar o tipo veterotestamentário ao qual a alusão está sendo feita; é freqüentemente usada, pois, como alicerce sobre o qual são edificadas as mais diver­ sas teorias que não se acham na Bíblia. N o evangelho segundo João existem referências constantes aos tipos. No primeiro capítulo, nossa atenção é focalizada no Cordeiro de Deus, e nossos pensamentos voltam imediatamente a todos os cordeiros que tinham sido sacrificados desde os tempos antigos, desde o cordeiro de Abel em Gênesis 3 até ao último a ser oferecido no templo. N o versículo final existe referência evidente à escada de Jacó. N o versículo 14, Cristo é mostrado como antítipo do Tabernáculo, pois nos conta como “A Palavra se fez carne e viveu [tabernaculou] entre nós”; ao passo que no capítulo 2, Cristo diz: “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias” (v. 19). N o capítulo 3, vemos Cristo como a serpente de bronze; na capítulo 4, ele se compara com o poço de Jacó; no capítulo 6, ele nos diz que era o maná verdadeiro; no capítulo 7 relembramos a rocha ferida,

pois Cristo mesmo era a rocha de dentro da qual fluiriam os rios de água viva. N os capítulos 8 e 9, Jesus é a luz do mundo; no capítulo 10, o antítipo de todos os pastores no AT; no capítulo 12, é o grão de trigo que produziu o feixe das primícias; no capítulo 13, temos a bacia; e no capítulo 15, a videira verdadeira por contraste com a videira que ele trouxe do Egito. Portanto, em quase todos os capítulos, um tipo veterotestamentário é trazido à nossa atenção. Se compararmos o evangelho segundo João a meramente um tipo, o Tabernáculo, houve quem indicou que parece se dividir em três pátios. Nos doze primeiros capítulos temos o ministério de nosso Senhor na terra, no pátio externo ao qual todo o povo era admitido; e temos suas últimas palavras dirigidas aos de fora nos versículos finais do capítulo 12. Assim como no Tabernáculo a primeira coisa a ser vista era o altar com o cordeiro, assim também temos no primeiro capítulo o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. N o capítulo 13, Cristo está preparando seus discípulos para o serviço no Lugar Santo mediante o emprego da bacia. N os capítulos 14, 15, e 16, vemos Cristo com eles no Tabernáculo; e ele lhes ensina muitas coisas a respeito do Espírito Santo, tipificado pelo azeite para o candelabro; e a respeito da oração em seu nome, tipificado pelo incenso no altar de ouro; ao passo que no capítulo 17 temos o sumo sacerdote sozinho no Santo dos Santos. Já vimos que parece que os tipos abrangem a gama total dos ensinamentos do NT. N ão somente os tipos são desdobrados no NT, como também o próprio n t está envolvido neles. Esse estudo oferece um antídoto seguro para o veneno da cham ada “alta crítica”. Se reconhecerm os a intenção divina em todos os pormenores dos tipos, embora talvez não compreendamos todos os seus ensinamentos, e se crermos que existe uma lição em cada incidente registrado, os ataques da crítica moderna não nos lesarão. Mesmo que não tenhamos a inteligência suficiente para compreender o que os críticos estão falando, nem para responder às suas críticas — se nossos olhos tiverem sido abertos para enxergar a beleza dos tipos, as dúvidas sugeridas por semelhantes autores não nos perturbarão, e teremos uma ocupação mais proveitosa do que ler as obras deles. Com tantas críticas destrutivas andando soltas, não podemos fazer melhor do que conclamar a todos — até mesmo aos cristãos mais novos — a adotarem o estudo típico da Palavra de

Deus; porque, embora Deus tenha encoberto essas coisas dos sábios e prudentes, ele as revela a criancinhas. A alta crítica e o estudo dos tipos não podem andar de mãos dadas; isso porque ninguém que aprendeu os ensinos espirituais dos retratos no AT creria, ou procuraria comprovar, que a Bíblia não é aquilo que ela declara ser.

2 T ip o s

O

duplo s

s tipos são mera “sombra dos bens que hão de vir, e não a realidade dos mesmos” (Hb 10.1); e, portanto, assim como todas as sombras, oferecem meramente uma representação imperfeita, de modo que freqüentemente precisamos olhar para vários deles juntos para obtermos uma idéia completa da própria substância. A maioria dos objetos lança sombras de formas diferentes, à medida que a luz incide sobre eles de várias direções; e ao fazermos uma comparação entre eles, poderemos delineá-los corretamente, ainda que o próprio objeto não esteja dentro do nosso campo de visão. Se as sombras variam entre si em alguns pormenores, ao passo que se correspondem em outros, podemos imediatamente chegar à conclusão de que, embora o objeto seja o mesmo, a luz é lançada sobre ele de direções diferentes, e revela sombras lançadas de lados opostos: assim acontece nos tipos. A s vezes, no mesmo tipo, vemos lados diferentes da verdade representados por duas coisas sem elhantes. Por exem plo: na purificação do leproso há duas aves: uma, sacrificada sobre águas correntes; a outra, solta para voar pelos campos — e tipificam, por certo, a morte e a ressurreição de Cristo. N o Dia da Expiação havia dois bodes: o primeiro, a parte de Deus, era sacrificado, e o sangue era levado para dentro do véu; e o outro, o bode expiatório, que levava embora a iniqüidade de Israel à terra desabitada — o primeiro simbolizava as exigências de Deus, e o outro, a necessidade humana. Em outros casos, a fim de completar o quadro, temos dois tipos estreitamente vinculados entre si, mutuamente semelhantes em

muitos aspectos, mas que enfatizam verdades diferentes. Por exemplo: na viagem do Egito para o C anaã, os israelitas tinham que passar pelo mar Vermelho e pelo Jordão, e, nos dois casos, foi feito um caminho para atravessarem em terra seca. Som os informados em Êxodo 13.17 que poderiam ter ido pela rota da terra dos filisteus, e assim não teriam tido a necessidade de passar pelo mar, nem pelo rio; mas recebemos a explicação de por que Deus não os guiou por essa rota, pois disse: “Se eles se defrontarem com a guerra, talvez se arrependam e voltem para o Egito”. Se o mar Vermelho não tivesse espumejado entre eles e o Egito, poderiam facilmente ter voltado; e parece claro que essa é a chave da verdade ensinada pela travessia do mar Vermelho. Tanto essa travessia quanto a travessia do Jordão nos falam da morte e ressurreição de Cristo; mas a primeira nos conta do livramento de dentro do Egito, e a segunda, da entrada para dentro da terra. D uas vezes, os israelitas, quando atravessaram o Jordão, receberam a ordem de levantar doze pedras como memorial: uma pedra por tribo; doze no meio do Jordão, e doze no outro lado. Parece que as pedras tipificam a posição do crente, no seu aspecto duplo. A quelas no meio do rio da morte nos contam que estam os mortos com Cristo; e aquelas na terra, que estam os ressurretos nele. D a mesma forma, temos o alimento de Israel, o maná e o trigo existente. Em João 6, o Senhor explicou que ele mesmo era o pão enviado do céu. O maná, portanto, claramente representa Cristo na carne, na sua encarnação, a provisão para as necessidades no deserto; ao passo que o trigo já existente na terra, e a colheita que já estava madura quando atravessaram o Jordão, da qual comeriam três ou quatro dias depois, uma vez apresentado, cerimonialmente movido, o feixe dos primeiros frutos, falam de Cristo na ressurreição. N o estudo destes tipos duplos, e de outros tantos, é necessário colocar os dois, lado a lado, para enxergarmos o significado integral; erros de interpretação surgem freqüentemente do não seguimento desse plano. Um desses tipos duplos não exclui o outro, pois em m uitos casos os dois são igualmente válidos ao mesmo tempo. Podemos alimentar-se do maná, embora tenhamos o trigo, também. Existem alguns mestres que somente tiram lições da experiência de Israel no deserto, e que não percebem que nossa posição também

está na terra como vencedores tomando posse, passo a passo, daquilo que é nosso em Cristo. Outros dedicam sua atenção inteiramente à sua posição na terra, e dizem que sequer devemos estar no deserto, de modo algum. N ão seria melhor ficar com ambos? Conforme disse alguém: “N ós estamos, quanto ao nosso corpo, no Egito; quanto à n ossa experiência, no deserto; e pela fé, na terra prometida”. Somos representados por Pedro como “estrangeiros e peregrinos” passando por um deserto; e ao mesmo tempos estamos, de conformidade com Efésios, na terra prometida, nos lugares celestiais em Cristo Jesus. N o devido tempo futuro, quando a fé for transformada em vista, estaremos na terra prometida, quanto ao nosso corpo e quanto à nossa experiência. N o sinal duplo que Deus deu a Moisés a fim de lhe dar confiança para comparecer diante de faraó, havia provavelmente um prenúncio do poder de Deus sobre o pecado e Satanás. A vara que foi trans­ formada em serpente e que, quando Moisés pegou firmemente nela, fala do poder de Deus sobre Satanás; mas a mão que se tomou leprosa e que depois foi curada, fala do poder sobre o pecado. O povo redimido por Deus seria livrado desses dois inimigos. O Tabernáculo e o Templo nos oferecem aspectos diferentes das habitações de Deus; e em Gênesis 22 temos um tipo duplo do nosso Senhor Jesus — primeiramente no próprio Isaque, e depois no carneiro que Deus providenciou. Existe uma cena típica notável em Deuteronômio 21, a qual, segundo tem sido indicado, é um retrato do grande inquérito feito por Deus a respeito do seu Filho. N o campo, alguém é achado morto, e precisa haver inquérito a respeito de quem é o culpado; depois de condenada a cidade mais próxima do cadáver, a novilha é morta para remover a culpa. Aqui, decerto, temos outro tipo duplo; pois a morte do Senhor é prenunciada naquele que foi achado morto, bem como na novilha: o primeiro conta a respeito da culpa dos seus assassinos; e o outro, como a culpa foi tratada. Se estudarmos os personagens no AT que tipificam nosso Senhor Jesus Cristo nos seus ofícios diferentes, descobriremos repetidas vezes que parecem estar vinculados aos pares. Temos, por exemplo, dois sum os sacerdotes, dois reis, e dois profetas, que tan to separadamente quanto juntos eram tipos, e que estavam estrei­ tam ente associados entre si durante sua vida. Arão e Eleazar

igualmente o tipificavam como o sumo sacerdote, e em alguns aspectos seus ofícios eram diferentes entre si. Mesmo enquanto Arão ainda vivia, Eleazar tinha certas coisas alocadas a ele no serviço do Tabernáculo. Em Números 20.26 temos o relato da morte de Arão, e de Eleazar recebendo as vestimentas para assumir o seu lugar; prefigurando o grande sumo sacerdote que agora vive segundo “o poder de uma vida infinda”. Eleazar, portanto, parece ser o o tipo do sumo sacerdote na vida ressurreta, no poder do Espírito Santo; pois tinha ligação muito especial com o azeite que tipificava o Espírito Santo. Eleazar ficou encarregado “do azeite para a iluminação, do incenso aromático, da oferta costumeira de cereal e do óleo da unção [...] de todo o Tabernáculo” (Nm 4-16). Era “principal líder dos levitas” (Nm 3.32), e nos faz lembrar de Jesus que, na ressurreição, é o Pastor Principal. A s duas ordens do sacer­ dócio, a de Arão e de Melquisedeque, são apresentadas diante de nós em Hebreus como tipos do sacerdócio do Senhor. Davi e Salomão nos apresentam aspectos diferentes do seu caráter real. Davi, o rei-pastor, que matou Golias, que passou a ser fugitivo e peregrino e, depois, o conquistador de todos os seus inimigos, nos fala a respeito dos sofrimentos e rejeição do Ungido de Deus, e finalmente das suas conquistas; Salomão, a quem o Senhor se refere em M ateus 12, como tipo dele mesmo n a sua glória, na sua sabedoria, nas suas riquezas, e no seu reinado de paz, tipifica o reino de nosso Senhor. Embora Salomão fosse príncipe de paz, ele tira do seu reino, ao assumir o trono, “todas as coisas que ofendem, e aqueles que praticam a iniqüidade”, nas pessoas de Adonias, Joabe, Simei, assim como fará aquele que é maior do que Salom ão quando vier na sua glória (Mt 13.41). N a conexão entre eles e o Templo, também precisamos do tipo duplo. Davi fez os preparativos para sua construção, e comprou o terreno; ao passo que Salom ão completou a obra. Se os estudarmos separadamente, apenas, o retrato fica incompleto. Temos, ainda, os dois grandes profetas, Elias e Eliseu, que tinham estreita conexão entre si durante a sua vida, sendo que ambos eram tipos de Cristo, conforme ele mesmo demonstra em Lucas 4.2527. Elias jejuou durante quarenta dias. Ressuscitou m ortos, e realizou muitos outros milagres. Subiu ao céu, e uma porção dupla do seu espírito veio sobre seu seguidor. Eliseu curou o leproso,

ressuscitou mortos, alimentou a multidão, e mesmo no seu sepulcro fez os mortos viverem. Diz-se que o nome de Elias significa o Senhor forte; e o de Eliseu: Deus meu Salvador. Seus nomes parecem, portanto, significar o caráter geral do seu testemunho — o primeiro, o do juízo, e o segundo, o da graça. Portanto, nos tipos de Cristo como profeta, sacerdote, e rei, achamos exemplos de como duas personagens estão ligadas a fim de nos apresentar lados diferentes do quadro. A estes poderíamos acrescentar muitos outros, tais como os dois líderes, Moisés e Josué; mas aqueles que já foram indicados já bastaram para demonstrar como é importante estudar juntos, bem como individualmente, tipos que estão tão obviamente associados entre si. Além de existirem muitos que assim formam pares, devemos nos lembrar em nosso estudo que numerosos tipos, e talvez até mesmo muitos deles, provavelmente têm um duplo sentido. Uma só interpretação não esgotará tudo quanto se possa aprender deles; isso porque descobrimos que, assim como tantas outras partes da Palavra de Deus, podem ser entendidos de várias maneiras. Por exemplo: entre as personagens que acabam de ser m encio­ nadas, quando Elias é o mestre, e Eliseu, o discípulo, Elias representa Cristo, e Eliseu, o servo; e cada um dos que prenunciaram Cristo também transbordam com ensinamentos como crentes individuais. Temos outra ilustração desse ensino duplo no Dilúvio e na arca. A salvação para todos dentro da arca é um assunto evangélico predileto; e isso com razão. Noé achou graça aos olhos de Deus, e segurança, não em si mesmo, mas no lugar de refúgio destinado por Deus. O primeiro “venha” na Bíblia é o convite de Deus a Noé, um “venha” da salvação; e pode muito bem ser comparado com a palavra amorosa do Senhor: “Venham a mim”. Entretanto, na base da referência de Jesus aos dias de N oé em M ateus 24, vemos que o juízo que veio naqueles tempos pode ser entendido em outro sentido: como representação dos juízos que sobrevirão à terra na sua vinda em glória. “Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do Homem (v. 3 7 )”. O Dilúvio era inesperado — assim também é a segunda vinda: houve destruição sobre todos aqueles que não estavam prontos para o Dilúvio — e assim será quando Jesus voltar a esta terra. “Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-

se em casamento, até o dia em que N oé entrou na arca; e eles nada perceberam até que veio o dilúvio e os levou a todos. A ssim acontecerá na vinda do Filho do homem.” N ão são mencionados grandes pecados; mas não estavam preparados. Depois, surge aquela frase freqüentemente citada: “U m será levado e o outro deixado” ; e examinando-a assim no seu contexto, vemos que aqueles que serão levados naquele dia, serão tirados pelo juízo como nos dias de Noé, e aqueles que ficarem, serão deixados para a bênção. N o seu significado primário, portanto, esse versículo parece não se referir à vinda do Senhor para levar sua igreja aos ares, mas à sua vinda subseqüente com seus santos para a terra. Podemos enxergar um terceiro significado, ainda, no Dilúvio e naqueles que passaram por ele com segurança; pois o cenário ilustra “o tempo da aflição de jac ó ”, e a preservação do remanescente crente. Lemos em Apocalipse 12 que “a serpente fez jorrar da sua boca água como um rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza” (v. 15). O primeiro versículo do capítulo nos faz lembrar o sonho de José: muitos entendem que a mulher representa Israel; e que o período da perseguição mencionado com tanta exatidão nos versículos 6 e 14 corresponde à grande tribulação antes da volta do Senhor à terra. Um remanescente de Israel será preservado durante a tribulação, assim como N oé e seus filhos foram preser­ vados durante o Dilúvio; ao passo que a igreja terá sido levada embora, assim como Enoque foi arrebatado antes de o Dilúvio ter vindo sobre a terra. M uitos acreditam ser este o ensino de Apocalipse 3.10; e que ser guardado da hora da provação deve significar ser levado embora antes de ela chegar. Outros tipos poderão ter uma interpretação dispensacionalista além da sua aplicação geral. Existe um aspecto judaico que percorre todas as instituições levíticas; e muitas delas, dessa forma, passam a oferecer ensinos proféticos, ao passo que, ao mesmo tempo, estão repletas de verdades preciosas para nós agora. Da mesma forma, ao considerarmos José como tipo de Cristo, vemos que todos nós podem os tirar suprim entos dos seus arm azéns; m as tam bém conseguimos perceber que seu tratamento aos seus irmãos pre­ nuncia o modo aos irmãos do Senhor segundo a carne finalmente reconhecerem que eram “realmente culpados” no tocante ao seu irmão.

Estêvão nos conta que “na segunda vez, José fez-se reconhecer por seus irmãos”. N a primeira viagem ao Egito para buscar trigo, não reconheceram aquele que lhes franqueara os armazéns; mas quando foram forçados pela fome de sete anos de duração a voltar à presença de José, este se fez reconhecer por eles. Quando chegou Jesus, de quem José era um tipo, seus irmãos não o reconheceram. “Veio para o que era seu, mas os seus não o reconheceram”; mas quando ele chegar pela segunda vez, “será removido o véu”; e ele diz: “olharão para ele, a quem traspassaram, e lamentarão por ele”. Assim, não somente temos tipos duplos — aqueles que precisam ser colocados lado a lado a fim de completar o quadro — mas descobrimos que esses próprios tipos têm duplo significado. Ver neles uma interpretação judaica ou dispensacional não lhes despoja, de modo algum, do seu profundo ensino espiritual, mas somente tende a demonstrar que a Bíblia é o Livro divino.

0 AGRUPAMENTO DOS TIPOS

E

xistem m uitas maneiras construtivas de agrupar os tipos. Por exemplo: freqüentemente descobrimos que aqueles que diferem entre si em muitos aspectos têm um único fator em comum; e quando assim acontecer, podemos tomar por certo que o ensino transmitido por aquele único fator é o mesmo em todos os casos, e por ligar todos eles juntos, esse ensino é enfatizado e impressionado sobre nós. Dessa forma, no Tabernáculo e seu serviço, e em outros lugares, vem os repetidas vezes os sofrimentos do Senhor Jesus Cristo tipificados pelo esm agam ento ou am assam ento de diferentes substâncias. N o próprio Tabernáculo, o ouro para a tampa e para o candelabro não era somente ouro puro, mas também ouro batido. A s especiarias para o óleo para as unções, para o incenso e para o incenso aromático, deviam ser moídas, porque, caso contrário, não liberariam o seu perfume; e o perfume assim preparado devia ser moído muito fino (Ex 30.36). O azeite com o qual se compunha o óleo para as unções, e o óleo para a oferta de cereais, era azeite batido; e para o candelabro “azeite puro batido para a lâmpada”. O trigo para a oferta de cereal era moído a partir dos grãos cheios; e a farinha para a mesma oferta, que nos fala do Senhor Jesus Cristo que oferece a Deus uma vida imaculada, era farinha fina, como também era a farinha para os pães da Presença. Nele não havia nada de desigualdade. O Autor da nossa salvação foi tornado “perfeito, mediante o sofrimento” (Hb 2.10). Em todos os seus seguidores, mesmo naqueles que são mais semelhantes a ele, existem muitas desigualidades: têm alguns belíssimos traços de caráter; mas o próprio fato de semelhantes traços se destacarem sugere que

provavelmente estejam faltosos quanto a alguma outra característica. Nosso Senhor não tinha um só atributo individual que se destacasse, pois era perfeito em todos. Era como a farinha fina, perfeitamente liso e homeogêneo; e ser esmagado e triturado serviu para comprovar isso. Em Isaías 28.28 lemos que “È preciso moer o cereal para fazer o pão”, e o maná precisava ser moído ou batido num morteiro. Todos esses quadros diferentes nos falam dos sofrimentos do nosso Senhor no decurso da sua vida. Ficamos sabendo que Getsêmani significa “prensa de azeitonas”; e que não foi apenas naquela última noite terrível que Jesus o visitou, pois lemos que “Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos”. Sua vida inteira era de sofrimento; e já que esse fato é apresentado diante de nós repetidas vezes nesses tipos, ficamos sabendo algo a respeito das palavras “agradou ao Senhor moê-lo”, e do desejo de Paulo: “Quero conhecer a Cristo [...] parti­ cipar de seus sofrimentos”. Ê interessante, também, ligar entre si tipos que, assemelhamse estreitamente uns com os outros, especialmente aqueles que representam aspectos diferentes da vida e da obra de Cristo. Por exemplo: Cristo é freqüentemente prefigurado pelo pão e pelo trigo nas suas várias formas. Já examinamos o maná e o trigo antigo, o feixe dos primeiros frutos, e também mencionamos o trigo e a farinha fina na oferta de cereal. Cristo era tipificado, também, pelos pães asmos que eram comidos na festa da Páscoa. N ão devia existir fermento em qualquer coisa que tipificasse Cristo; e por essa razão era proibido oferecê-lo na oferta de cereal, pois na totalidade da Palavra, sempre representa o mal. Em João 12, nosso Senhor se compara com o grão de trigo que permanece sozinho a não ser que caia na terra e morra; mas se morrer, produz muitos frutos. N a ceia memorial, partiu o pão, e disse: “Esse é meu corpo que é dado em favor de vocês” (Lc 22.19). No Tabernáculo o vemos em conexão com Israel, representado por doze pães; ao passo que é dito a respeito da igreja unida com Cristo: “Nós, sendo muitos, somos um só pão”. E finalmente, no Apocalipse, o maná escondido é prometido aos vencedores. Esses ,tipos que são tão semelhantes entre si parecem abranger a totalidade da vida de nosso Senhor, e até mesmo dar um a olhada para a eternidade passada. O m aná que caía em derredor do acampamento de Israel representa a encarnação do Senhor Jesus Cristo. Ele mesmo diz: “E meu Pai quem lhes dá o

verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo”. Mas também percebemos nesta passagem que, antes de ele se tornar maná para nós, era o pão de Deus; isso porque esses tipos não somente falam do Senhor Jesus Cristo como o alimento dos seres humanos, mas também nos contam a respeito daquele em quem o coração do Pai se deleitava em se alimentar. Esse pensamento ocupa lugar de destaque na oferta de cereal, na qual um punhado da melhor farinha era queimado no altar, para representar a porção de Deus, ao passo que o restante era dado aos sacerdotes; esse fato nos conta a respeito da comunhão do crente com Deus, tendo como base a pessoa do seu Senhor. N o salmo 78, é muito bela a descrição de como o maná foi dado, pois nos conta como Deus “deu ordens às nuvens e abriu as portas dos céus; fez chover maná para que o povo comesse, deu-lhes o pão dos céus. Os homens comeram o pão dos anjos”. O maná, antes de cair à terra, era “o pão de Deus” — “o pão dos céus”. É necessário abrir as comportas dos céus, e esvaziá-los a fim de que a terra ficasse cheia. Assim, percebemos que o maná nos fala primeiramente de Cristo, desde toda a eternidade, e depois, de Cristo na carne. A melhor farinha, conforme vimos no grupo anterior de tipos, nos conta da sua vida perfeita na terra, e dos sofrimentos que padeceu; o grão de trigo que cai na terra e morre, a fim de produzir muitos frutos, claramente tipifica o Calvário; e assim também o pão partido, que nos faz lembrar o seu corpo quebrado. O trigo antigo da terra, do qual os israelitas passaram a se alimentar quando cessou o maná, parece falar de Cristo ressurreto; ou pode relembrar Cristo, reservado desde toda a eternidade para ser a provisão do seu povo. O feixe dos primeiros frutos, que moviam no primeiro dia da semana, no dia depois do sábado, profetizaram com clareza a sua ressurreição. Esse mover dos primeiros frutos deve ter sido um dos primeiros atos dos israelitas depois de terem entrado na terra; e poderiam ter se alimentado do trigo velho da terra, por si só, por dois ou três dias, apenas. A narrativa nos conta que atravessaram o Jordão no período da colheita; acamparam-se em Gilgal no décimo dia do mês; sacrificaram o cordeiro da Páscoa no dia quatorze; e moveram o feixe dos primeiros frutos no dia seguinte ao sábado que se seguiu imediatamente após a Páscoa.

O feixe dos primeiros frutos também fala da sua segunda vinda, pois representa “Cristo, as primícias, e depois, os que são de Cristo na sua vinda” e os “muitos frutos” produzidos pela morte do grão de trigo também prenunciam aquele dia em que a igreja estará completa, e em que “Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito”. O pão que partimos na ceia do Senhor é o vínculo entre a sua morte e a sua segunda vinda; pois nos lembramos do seu corpo rompido e do seu sangue vertido “até que ele venha”. Entre a sua ressurreição e a sua segunda vinda, temos Cristo, o alimento do seu povo, na oferta do cereal, da qual os sacerdotes se alimentava, bem como na festa dos pães sem fermento depois da Páscoa. “Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado. Por isso, celebremos a festa” (IC o 5.6,7). O s pães da Presença, ou “pães dos rostos”, e o maná escondido prometido aos vencedores no Apocalipse, falam de Cristo, que a sua glória da ascensão, sempre está na presença de Deus em nosso favor. Portanto, nesse grupo de tipos, a totalidade da sua vida e obra é colocada diante de nós. O utros tipos podem ser acrescentados a essa lista, e especialmente as muitas cenas que retratam a provisão de Deus nos tempos de fome; mas talvez o mais belo desses retratos seja aquele do trigo nos armazéns de José. Tanto José quanto o trigo que armazenava são claramente prefigurações de Cristo — outro exemplar dos tipos duplos referidos anteriormente; e a história familiar está repleta de ensinos a respeito do suprimento maravilhoso que se acha em Cristo, Pão da Vida. O trigo que José armazenava era de tal quantidade “que ele parou de anotar, porque ia além de toda medida”, nos faz pensar nas “ riquezas inescrutáveis de C risto”. O s armazéns abertos, que supriam aos seus irmãos necessitados “tanto quanto conseguem levar” nos oferece, na forma tipológica, a plenitude daquele em quem habita toda a plenitude. N ão somente nos dará o quanto possamos levar, como também nos dará um suprimento abundante do trigo, para que nossos celeiros fiquem repletos de abundância, e que além de termos bastante para as nossas necessidades, possamos também suprir as necessidades dos outros. O trigo recolhido nos armazéns maravilhosos de José fornecia alimentos para os famintos, e também sementes para aqueles que,

depois de alimentados, pudessem sair para semear os campos. José lhes disse: “Aqui estão as sementes para que cultivem a terra [...] sem entes para os cam pos e com o alim ento para vo cês” (Gn 47.23,24). Acham os também nos armazéns que Deus nos provi­ denciou, na Palavra encarnada e na Palavra escrita, “sementes para o semeador e pão para quem comer”. Antes, porém, de José enviar os egípcios para fazerem esse serviço, eles precisavam comparecer diante dele, necessitados: “N ão temos como esconder de ti, meu senhor, que uma vez que a nossa prata acabou [...] nada mais resta para oferecer, a não ser os nossos próprios corpos e as nossas terras”. Tinham chegado ao fim dos seus próprios recursos; e justamente quando nós, como míseros pecadores, che­ gamos a esgotar nossas próprias capacidades que sobra lugar para a plenitude de Cristo. Foi depois de o filho pródigo “ter gasto tudo” que disse: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai”, sabendo que na casa do seu pai tinha comida de sobra. Foi quando a pobre mulher com hemorragia “gastara tudo” que chegou até Jesus e tocou na orla das suas vestes. Foi quando os dois devedores “não tinham com que pagar” que seu credor perdou totalmente a ambos. Devemos levar aos armazéns de José nossos vasilhames vazios. Da mesma forma que esses egípcios, nós, tampouco, não podemos semear antes de primeiramente termos sido alimentados; e somente podemos semear o mesmo tipo de grãos que satisfizeram a nossa própria necessidade. E do próprio José que precisamos obter o trigo, tanto para nossa mesa quanto para nosso cesto de semeador. Conforme disse Paulo aos santos em Corinto: “Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também lhes suprirá e multiplicará a semente” (2Co 9.10). Se quiséssemos continuar esse estudo, poderíamos acrescentar a esses tipos alguns dos incidentes que aconteceram em Belém — “a Casa do Pão”. Foi ali que nasceu Jesus, o Pão de Deus enviado do céu. “Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos an tigo s” (Mq 5.2). Foi até Belém que Noemi viajou, proveniente de país distante, e achou, não a fome, mas uma colheita abundante; e um parente rico, que de início permitiu que Rute respigasse nos seus campos, e depois a tornou em esposa, e fez dela a dona em conjunto

de todos os bens dele. Belém era a cidade de Davi, onde aquele a quem o Senhor dissera: “Você apascentará meu povo Israel”, foi ungido rei. Antes disso, alimentara e guardara as ovelhas do seu pai nos campos de Belém, os próprios campos onde aqueles outros pastores, muitos anos depois, estavam guardando os seus rebanhos quando o anjo anunciou, pela primeira vez, o nascimento do Filho de Davi, maior do que este. Existem muitas belas lições a serem aprendidas dos significados dos nomes bíblicos; e podemos ter certeza de que não foi por acidente que esses eventos, e outros tantos, aconteceram na cidade cujo nome significava “a Casa do Pão”.

4 T ip o s

N

do c a lv á r io

os presentes dias, nos quais a doutrina da expiação vicária é tão freqüentem ente n egada, o estudo dos tipos é da m áxima importância. Tem sido freqüentemente notado que a linha vermelha do sangue percorre a totalidade do AT, e que assim somos constantemente lembrados do sangue derramado, sem o qual não há remissão. N as muitas prefigurações da obra do Calvário, vemos uma vida entregue em lugar de outra, não meramente como exemplo do amor abnegado, conforme as pessoas agora procuram ensinar. Deve ter sido a partir desses tipos no AT que o Senhor respondeu à sua própria pergunta: “N ão devia o Cristo ter sofrido essas coisas”; e à medida que os estudamos, vemos as razões pelos seus sofrimentos. Se os discípulos tivessem entendido que ele era o grande antítipo que todos tinham prefigurado, sua fé não teria ficado tão abalada — pois teriam entendido que era somente através da sua morte que ele podia redimir os seres humanos. E, portanto, da máxima importância que tenhamos familiaridade com as cenas e instituições no AT que tipificavam a morte de Jesus, até mesmo a morte na cruz. Paulo nos diz em ICoríntios 15 que “Cristo morreu por nós, conforme as Escrituras”. A sua morte não precisava do testemunho das Escrituras; mas a razão da sua morte somente podia ser compreendida mediante o estudo das profecias e dos tipos do AT. Enumerar cada um destes últimos seria impossível; mas se forem estudados apenas os mais conhecidos, perceberíamos como todos eles prenunciam o grande evento que foi o centro da história do mundo: e, por outro lado, quão variado é esse ensino, pois cada tipo parece enfatizar alguma verdade específica em especial.

O s tipos que prenunciavam a morte do nosso Senhor podem ser divididos em vários grupos. Primeiro, temos aqueles nos quais houve, literalmente, der­ ramamento do sangue. A ntes de as ofertas terem sido instituídas em Levítico, muitos animais tinham sido mortos em sacrifício. E só virarmos uma única página na nossa Bíblia para ver como Deus ensinou, por certo, A dão e Eva a oferecer sacrifícios. As roupas de pele com que Deus os vestiu devem indicar esse fato, pois para fornecê-las deve ter havido morte; e assim as roupas que Deus nos fornece, somente podem ser nossas mediante a morte de Cristo. N a parte anterior do mesmo capítulo, Gênesis 3, vemos A dão e Eva juntando folhas de figueira para se cobrir, roupas indignas para usar na divina presença; mas Deus os veste de roupas que falam de Cristo. N o capítulo seguinte, o cordeiro oferecido por Abel, em contraste com os frutos da terra apresentados por Caim, ensina enfaticam ente, já no começo da Palavra de Deus, que “sem o derramamento de sangue não há remissão” e também demonstra que, assim como Abel, podemos saber mesmo agora que somos aceitos por Deus, por causa do Cordeiro que foi morto em nosso lugar. Tanto no terceiro capítulo do Gênesis, quanto no quarto, temos o contraste entre o caminho do homem e o caminho de Deus. A s folhas de figueira e as roupas de pele, os frutos e o cordeiro, nos contam que o melhor da parte do homem não é suficiente, mas que Deus deu do seu melhor. Decerto, Deus ensinara a Abel a necessidade do sangue; Hebreus 11.4 nos conta que “pela fé” ofereceu o cordeiro, e sabemos que “a fé vem pelo ouvir”. Deus deu testem unho das suas oferendas: mas a oferenda de Caim, embora fosse de aparência bela, e fruto de muitos trabalhos árduos, era uma oferenda falsa. Lemos em Provérbios 25.14 que “Como nuvens e ventos sem chuva é aquele que se gaba de presentes que não deu” ; e o apóstolo Judas, ao falar do caminho de Caim e dos seguidores deste, diz: “São nuvens sem água, impelidas pelo vento” (v. 9). A religião sem Cristo, sem a sua morte, é um presente falso. O belo quadro em Gênesis 22 enfatiza os pensam entos da provisão e da substituição; pois o carneiro preso nas ramagens foi oferecido em lugar de Isaque. Trata-se de outra exemplificação dos tipos duplos, pois tanto Isaque quanto o carneiro são tipos de Cristo no Calvário — Isaque, o filho bem-amado, a quem o pai não

poupou; e o carneiro, o substituto que o próprio Deus providenciou, e por causa de quem conquistou o título glorioso: Jeová-Jiré “O S e n h o r proverá”. Esse título é freqüentemente citado em conexão com o suprimento das necessidades temporais; mas embora estas estejam incluídas na dádiva maior, o nome Jeová-Jiré foi usado pela primeira vez na ocasião em que Abraão disse: “Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho”. È porque Deus “não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” que ele pode dar “juntamente com ele, gratuitamente todas as coisas”. Um dos tipos mais familiares é o do cordeiro pascal. A totalidade do capítulo doze de Exodo está repleto de ensinos; mas o pensa­ mento principal fica obviamente contido nas palavras: “Quando eu vir o sangue, passarei adiante”. Conta da redenção mediante o sangue, o único meio de livramento da ira; e nos fala da necessidade da apropriação pessoal, por não haver somente o sangue derramado, mas também o sangue aspergido. Além de o cordeiro ser sacrificado em favor de todo o Israel, o sangue deve ser derramado numa bacia e aspergido na viga superior e nas laterais das portas, em favor do primogênito de cada família individual. Existem muitas pessoas que acreditam no derramamento do sangue; acreditam que o Senhor Jesus morreu, mas não se apro­ priaram da obra dele, e por isso não estão colocando sua confiança no sangue aspergido. Ter confiado somente no fato de o cordeiro ter sido morto não teria produzido segurança; mas tendo feito o que Deus lhes mandara, os israelitas estavam em segurança. Nada, senão o sangue, poderia ter mantido fora das casas o anjo destruidor; as construções mais fortes no país são m encionadas de modo especial, nas nem o trono, nem a masmorra, estavam seguros — nem os guardas do palácio, nem os muros das prisões, podiam garantir a segurança. Lemos que “não havia uma só casa em que não houvesse um morto” e embora a referência seja feita prima­ riamente às casas dos egípcios, assim acontecia no país inteiro, inclusive nas casas dos israelitas; pois em cada lar devia haver morte — ou do primogênito, ou do cordeiro. Em Levítico, temos o relato completo da instituição das ofertas, que foram repetidas no decurso de todos os séculos que se seguiram, até chegar Jesus, o Cordeiro de Deus, o antítipo de todas elas.

O holocausto, assim como o sacrifício de A bel, nos fala da aceitação; a oferta da comunhão, conforme subentende o seu nome, fala da comunhão com Deus mediante a morte do sacrificado. A morte do Senhor Jesus leva à paz com Deus, e à comunhão com ele; pois os sacerdotes podiam se alimentar do sacrifício, sendo que uma mera porção era consumida no altar como a porção de Deus, sendo o restante reservado para A rão e seus filhos. Nosso tempo se esgotaria se nos concentrássemos em todos os pormenores da obra do Calvário que são trazidos diante de nós de modo tão maravilhoso nas ofertas. Eles, por si mesmos, formam um grupo de tipos inesgotáveis que devem ser estudados juntos. A palavra-chave em Levítico 1 no tocante ao holocausto parece se achar no versículo 4, onde lemos que a oferta será “aceita” em favor do ofertante; nos capítulos 4 e 5, onde o assunto é a oferta pelo pecado, a palavra central, freqüentemente repetida, é “lhe será perdoado”. Essas duas palavras: “aceito” e “perdoado” demonstram com clareza o pensamento nas duas ofertas; a primeira nos fala a respeito do sacrifício perfeito de Cristo a Deus como fundamento da nossa aceitação, a segunda, de como ele carregou o nosso pecado. Nos dois casos (1.4 e 4.4), o ofertante era ordenado a impor a mão na cabeça da oferta, e acontecia uma transferência maravilhosa, mas numa direção oposta. No holocausto, a aceitação da oferta passava ao ofertante, e este era aceito; na oferta pelo pecado, o pecado do ofertante passava à oferta, e o ofertante era perdoado. Existem muitos crentes que conhecem o Senhor Jesus Cristo como sua oferta pelo pecado, mas que parecem não possuir a alegria de conhecê-lo como seu holocausto, e de verem que realmente estão “aceitos no amado”. C ada vez que as ofertas eram repetidas, prenunciavam a morte de Cristo, e a doutrina é a mesma; mas algumas das cenas acres­ centam toques de beleza especial, como, por exemplo, em 1Samuel 7, quando Sam uel conduz os israelitas na sua volta ao Senhor. Tinham pecado, a glória do Senhor partira, a arca fora capturada; mas aqui, confessam o seu pecado, e derramam água diante do Senhor como reconhecimento do seu desamparo total. Então lemos que “Samuel pegou um cordeiro ainda não desmamado e o ofereceu inteiro como holocausto ao S e n h o r . Ele clamou ao S e n h o r em favor de Israel, e o SENHOR lhe respondeu”; e o versículo seguinte nos diz que o Senhor trovejou com fortíssimo estrondo contra os filisteus.

Essa foi a resposta de Deus ao povo que, reconhecendo a sua própria fraqueza, se identificou com a fraqueza do cordeirinho. O incidente tem sido comparado lindamente com a passagem em Romanos 5: “quando ainda éramos fracos”, tipificado pelo derramamento da água “quando ainda éramos pecadores” que corresponde à confissão deles: “pecam os” e “Cristo morreu por nós”, prefigurado pela oferta do cordeiro. A oferta pelo pecado e a oferta pela culpa, o grande dia da expiação, a purificação pela novilha vermelha, e a provisão pela purificação do leproso, todos falam do remédio que Deus oferece pela contaminação; e repetem, vezes sem conta, que a cruz de Cristo é o único fundamento para a purificação. Juntamente com dois ou três outros tipos, formam um agrupamento muito importante que deve ser considerado separadamente. N o último dos tipos a serem mencionados, a purificação do leproso, o pensamento de maior destaque parece o da justificação mediante a morte de ressurreição de Cristo (v. cap. 9). N ão era nenhuma oferta cara que se exigia. A s duas aves — estariam dentro do alcance dos mais pobres; e vêm à nossa mente as palavras do nosso Senhor: “N ão se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês” (Mt 10.29). O mesmo se pode dizer do passarinho que foi sacrificado como tipo do seu Filho. Era morto num vaso de barro, e nosso Senhor precisava de um vaso de barro no qual pudesse morrer. “Portanto, visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte”. A mesma palavra é empregada no salmo 22, onde ele diz: “Meu vigor secouse como caco de barro”. Referência já foi feita entre os tipos duplos àquele que foi achado morto no campo em Deuteronômio 21, e ao inquérito realizado a respeito da sua morte, o que nos ensina que Deus requererá a morte do seu Filho. O povo exclamou: “Seu sangue seja sobre nós, e sobre os nossos filhos”; e lemos em Números 35.33: “O derramamento de sangue profana a terra, e só se pode fazer propiciação em favor da terra em que se derramou sangue, mediante o sangue do assassino que o derramou”. Vemos, porém, que no caso em pauta, a novilha foi morta para cobrir semelhante culpa.

Existem muitas outras prefigurações da morte de Cristo, nas quais não há menção do derramamento de sangue, e várias destas são cenas que descrevem sua passagem pelas águas do juízo e da morte. Da mesma forma que tantas outras substâncias típicas nas Escrituras, a água tem vários significados, que podem geralmente ser descobertos com facilidade segundo o contexto. Q uando o pensamento em pauta era a purificação, a água, segundo parece, tipifica a “lavagem na água pela Palavra”, como no caso da Pai, e em João 13, e em outros lugares. Q uando há refrigério, e poder vivificante, assim como no caso da água que fluiu da rocha ferida, do poço em João 4, e de outros poços, dos rios em João 7, do rio de Deus, e das chuvas que refrescam a terra, sabemos que o Espírito Santo é prefigurado. Por outro lado, a instabilidade, o tumulto e o desassossego do mar freqüentemente simbolizam a inquietude nas nações da terra, assim com oem E zequiel31.4; Salmos 17.4; Apocalipse 17.15;m as quando “as torrentes levantam as suas ondas, o S e n h o r nas alturas é mais poderoso do que o som de muitas águas”. A água derramada no chão indica a fraqueza do homem, como no tipo ao qual aca­ bamos de nos referir (ISm 7), e em Salmos 14.14 e Salmos 22.14. M as as águas profundas são um elemento de perigo e de destruição, e nos falam da tristeza e da morte; e assim tipificam as águas de juízo através das quais o Senhor Jesus passou na morte por nós. E nesta última conexão que as águas são tão freqüentemente referidas nos Salmos, em muitos dos quais temos as declarações do nosso Senhor mesmo. “Tua ira pesa sobre mim; com todas as tuas ondas me afligiste” (SI 88.7); “Todas as tuas ondas e vagalhões se abateram sobre mim” (SI 42.7); “Salva-me, ó Deus, pois as águas subiram até o meu pescoço [...] Entrei em águas profundas; as correntezas me arrastam [...] liberta-me dos que me odeiam e das águas profundas. N ão permitas que as correntezas me arrastem, nem que as profundezas me engulam” (SI 69.1,2,14,15). Outro salmo nos diz que as decisões de Deus são “insondáveis como o grande mar” (SI 36.6); e parece claro que, assim, vários dos retratos no AT tipificam o Senhor Jesus Cristo no Calvário passando pelas águas do juízo e da morte, em nosso favor. Sabemos, pelos próprios lábios do Senhor, quejonas é um tipo dele mesmo, pois disse: “Pois assim como Jonas esteve três dias e

três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra” (Mt 12.40). A linguagem da oração de Jonas no capítulo 2 nos faz lembrar de muitas das declarações nos Salmos, quando o profeta exclama: “Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam um turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” (Jn 2.3). N oé foi conservado em segurança, e as águas do Dilúvio não tocaram nele, pois estava em segurança na arca; mas a arca precisa passar pelas águas, e as ondas precisam bater contra ela; e assim nos conta de Cristo, que tendo enfrentado a tempestade por nós, é nosso lugar de segurança. N o mar Vermelho e no Jordão, através dos quais passou o povo redimido de Deus, voltamos a ter retratos da morte de Cristo; aquele, conforme já notamos, nos ensina a respeito do livramento do Egito, e a travessia do Jordão, da entrada na terra prometida, no lugar da bênção. A travessia do mar Morto aponta aquilo que ficou para trás; a passagem do Jordão àquilo que está na frente. A arca do testemunho, que desceu diante de todos para dentro do rio, e ali permaneceu até todos terem atravessado, prefigurava Cristo, o Alfa e Omega da nossa salvação, que desceu até à morte por nós, e a enfrentou plenamente; pois a narrativa nos diz que o Jordão foi atravessado na estação em que o rio transbordava as suas riban­ ceiras. A s pedras que foram colocadas no Jordão, conforme vimos, falam da participação que os crentes têm na morte de Cristo; e aquelas na terra prometida, de terem sido ressurretos com ele das águas da morte. N o incidente em M ara, onde as águas amargas foram tom adas doces por meio da árvore que nelas foi lançada, provavelmente temos outra prefiguração da mesma coisa; conforme disse alguém: “Belíssimo tipo de Cristo, que foi lançado nas águas amargas da morte a fim de que aquelas águas passassem a nos render nada senão a doçura para sempre. Podemos dizer com verdade que a amargura da morte passou, e que nada permanece para nós senão os doces eternos da ressurreição”. A cena foi muito semelhante àquela que aconteceu nos tempos de Eliseu nas ribanceiras do Jordão, quando a cabeça do machado foi levada a flutuar; e, por analogia, ambas parecem ser mais do que meras ilustrações daquilo

que o Senhor tem feito ao descer nas águas da morte. N a primeira cena, o amargo tornou-se doce; em 2Reis 6, aquilo que fora perdido e afundado foi erguido e restaurado. Nos dois casos, foi por meio da árvore ou galho lançados nas águas. Existem outros tipos da morte de nosso Senhor que não podem ser incluídos em nenhuma das duas divisões anteriores, por não falarem do derramamento literal do sangue, nem das águas da morte. Entre eles, existem mais dois quadros do deserto que não devem ser omitidos. A rocha ferida foi fonte dos rios de água; assim como a morte de Cristo deve anteceder à descida do Espírito Santo. A o prometer os rios transbordantes de água em João 7, parece claro que o Senhor se referia a este tipo. Lemos: “Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado”. O apóstolo Paulo nos diz que “aquela rocha era C risto” ; mas precisava ser ferida uma só vez. Moisés, na segunda ocasião, foi ordenado a falar com ela; e pela sua desobediência a essa ordem, não recebeu licença de entrar na terra prometida. Deus tem seus retratos em alta estima, e não permitiu que uma mão apressada acrescentasse mais um golpe de pincel que estragasse o quadro inteiro e o tornasse uma representação incorreta daquilo que visava tipificar. Quando, longos séculos depois, a oração de Moisés foi atendida, e lhe foi permitido “atravessar e ver a boa terra além do Jordão, e aquela linda m ontanha”, quando ele e Elias ficaram ao lado do Senhor no monte da Transfiguração, o assunto da conversa foi a partida que Jesus levaria a efeito em Jerusalém — como antítipo da rocha ferida. Por certo, Moisés passou a entender plenamente o significado do tipo que estragara. A cena em Números 21, onde a serpente de bronze foi levantada, é bem conhecida por todos por causa da referência em João 3, como prefiguração do levantamento de Cristo no Calvário; e aqui a verdade enfatizada é que a morte de nosso Senhor é o antídoto para a picada do pecado. “H á vida em olhar para o Crucificado.” Tomou sobre si a forma daquilo que fizera o dano; foi feito “pecador por nós”. O antídoto era para todos quantos tivessem sido picados. Lemos (Nm 21.8,9) que era por todo e qualquer um; semelhante à

obra de Deus referida por Jó “que os homens contemplam, cada um pode vê-lo; o homem pode contemplá-lo de longe”. A prefiguração mais antiga da morte do Senhor parece ter sido dada no sono profundo que Deus fez cair sobre A dão quando formou Eva. Sabemos, baseando-nos em Efésios 5, que se trata de um retrato de Cristo e da igreja, e que foi mediante o sono profundo de Cristo que a igreja pôde ser edificada. Ser rasagado o véu do templo no momento em que nosso Senhor entregou o seu espírito foi o cumprimento dos tipos no AT. O véu que até então ficava dependurado entre o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo tinha servido para “dividir” entre os dois (Êx 26.33), e nos ensina que a encarnação de nosso Senhor, que é tipificada pelo véu, não podia, por si só, nos levar a Deus. O ’caminho só foi aberto quando aquele véu foi rasgado. Agora, pela fé, podemos entrar com ousadia para dentro, “para onde nosso Precursor já entrou por nós”. O véu rasgado deixaria aqueles que serviam no templo verem para dentro do Lugar Santíssimo; e esse é o nosso privilégio agora. Nosso Senhor disse: “O mundo não me vê mais, mas vocês me vêem ” ; e nós, pela fé, podem os contem plá-lo aparecendo como o grande sumo sarcedote “na presença de Deus por nós”. Em outro grupo de tipos, já mencionamos o grão de trigo, o qual, caindo na terra, morre, e assim produz muitos frutos. Aqui, o Senhor ensina que era necessário a sua própria morte a fim de que ele tivesse uma colheita gloriosa. Já foram escritos m uitos volum es a respeito desses tipos maravilhosos, e outros tantos ainda poderão ser escritos; mas nesse estudo breve vemos que, ao agruparmos juntos aqueles que nos falam da cruz de Cristo, colocamos diante de nós todas as bênçãos principais que ela tem comprado para nós. Temos, em Gênesis 3, uma cobertura que nos deixa em condições de comparecer na presença de Deus; temos a aceitação mediante o cordeiro de Abel e do holocausto; a substituição fornecida por Deus em Gênesis 22, bem como nas ofertas; livramento da ira, mediante o cordeiro pascal; paz e comunhão na oferta de comunhão; perdão e purificação nas ofertas pelo pecado e pela culpa, no grande dia da expiação, na novilha vermelha; e a justificação tipificada pela ave sacrificada para purificar o leproso.

Depois, também vemos o livramento dos nossos inimigos na travessia do mar Vermelho, e a entrada na bênção na travessia do Jordão; nas pedras, vemos a união do crente com Cristo na sua morte e ressurreição; o amargo transformado em doce em Mara; o afundado recuperado em 2Reis 6; o dom do Espírito Santo, na rocha ferida; a cura da peçonha do pecado, quando foi levantada a serpente de bronze; a edificação da igreja em Gênesis 2; o único meio de segurança na arca; acesso à presença de Deus no véu rasgado; e no grão de trigo, a colheita do plantio dos cereais. N a história de Jonas, temos prefigurado o período exato que decorreria entre a morte e a ressurreição de Cristo; e na cena em Deuteronômio 21 somos ensinados que Deus requererá a morte do seu Filho. Esses são apenas alguns dos pensamentos de maior destaque que esse rico conjunto de tipos nos apresenta; mas existe, em cada um deles, muitos pormenores que estão repletos de beleza. O Senhor, ao instituir a sua ceia, nos oferece um tipo, que é constantemente repetido, da sua morte — uma sombra que ele deixou conosco ao voltar à luz da casa do seu Pai. O fato de ele nos ter ordenado a nos lembrar do amor com que nos amou até à morte, através dos emblemas do pão partido e do vinho derramado nos conta que ele dá valor aos nossos pensamentos. Conforme disse o salmista: “Seja-lhe agradável a minha meditação” (SI 104-34). O coração de Jesus se alegra com nosso estudo quando, com coração grato, e através dos tipos, “contemplamos a maravilhosa cruz na qual morreu o Príncipe da glória”. Vale a pena, portanto, dedicarmos tempo ao estudo dos quadros ^ que, de modo tão maravilhoso, apresentam isso diante de nós; e se são tão preciosos para nós aqui na terra, onde percebemos o seu significado de modo ofuscado, certamente poderemos antegozar os tempos em que os entenderemos plenamente, onde o Cordeiro que foi morto será o centro da glória, e sua morte, o tema da nossa conversa.

T ip o s

O

d a r e s s u r r e iç ã o

s tipos da ressurreição do Senhor Jesus Cristo não são tão numerosos quanto os da sua morte; mas essa ressurreição foi claramente prenunciada no a t . Paulo nos diz em lC oríntios 15, como parte do seu evangelho, que Cristo “ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” e parece claro que se referia principalmente aos tipos que prefiguravam esse fato. Alguns destes já foram aludidos anteriormente, mas seria proveitoso agrupá-los entre si. Se, conforme já vimos, a arca passando pelas águas do dilúvio era um tipo da morte de Cristo, logo, a arca repousando no monte Ararate, com Noé saindo para andar na terra nova, prefiguraria a vida ressurreta futura. Todos os tipos são imperfeitos, e assim também a arca não basta; isso porque, diferentemente de Noé, nunca deixamos o nosso abrigo seguro — é “abrigo na tempestade”, e não existe segurança a não ser em permanecermos ali. E notável que é citada a data em que a arca repousou nos montes de A rarate; e aquela data provavelmente coincida com a m anhã da ressurreição. Tratava-se de alguma casualidade, de uma mera coincidência — ou não era, pelo contrário, uma indicação de que Deus já sabia o dia em que diria “Tu és o meu Filho; hoje te gerei” ? A Bíblia nos conta que a arca repousou no sétimo mês, e no dia dezessete desse mês. O sétimo mês era o mês Abibe; mas desde a data da primeira páscoa se tornou o início dos meses, e “o primeiro mês do ano” (Ex 12.2). O cordeiro foi sacrificado do dia quatorze do mesmo mês; e o terceiro dia depois era o dia dezessete — o dia em que a arca pousou. Muitos, portanto, acham que realmente prefigurava o dia da Ressurreição.

Outro tipo — o de mover ritualmente o feixe do primeiro cereal, o qual já foi referido — claramente profetizava o dia do semana em que aconteceria a ressurreição. Devia ser no primeiro dia da semana; pois lemos em Levítico 23.11: “O sacerdote moverá ritualmente o feixe perante o S e n h o r [...] no dia seguinte ao sábado.” O grão de trigo caíra na terra e morrera: tinha sido semeado “no campo” (Ex 23.16), no campo do mundo; e o feixe dos primeiros frutos era penhor da colheita gloriosa que brotaria daquele grão de trigo. “Cristo, as primícias; e depois aqueles que são de Cristo, na sua vinda”. A ressurreição de Cristo é a garantia da ressurreição do seu povo quando, então, na sua vinda nos ares, “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”; e na sua vinda à terra, serão ressuscitados todos os demais que estão incluídos na primeira ressurreição. Mas embora o dia da semana esteja claramente incluído nesse tipo, não somos deixados na dúvida quanto a qual sábado antecederia à manhã da ressurreição. Seria o sábado depois da Páscoa; e sabemos que assim aconteceu, “a fim de que sejam cumpridas as Escrituras”. Em Números 17, temos um belo quadro da ressurreição do S e ­ nhor Jesus Cristo, no florescimento da vara de Arão. A s doze varas foram depositadas diante do Senhor. Todas eram igualmente mortas, e não havia nelas nenhum sinal de vida; e quando raiou a manhã, acontecera um milagre maravilhoso — uma das varas, na qual estava escrito o nome de Arão, ficara cheia de vida: brotos, flores e frutos tinham aparecido, todos eles. Nenhum olho viu a transformação acontecer; mas quando Moisés veio de manhã, havia evidência abundante de vida, o que nos faz lembrar daquela manhã na qual as mulheres chegaram até à sepulcro quando o sol se levantou, e descobriram que aquele que procuravam não estava morto, mas havia ressuscitado. Em seguida, a vara com os brotos e flores foi m ostrada ao povo. O milagre foi atestado por muitas testem unhas; e assim lemos em A tos dos Apóstolos que nosso Senhor ressurreto “Depois do seu sofrimento, ele se apresentou a esses homens e deu-lhes muitas provas, provas indiscutíveis de que estava vivo” (At 1.3). “Deus, porém, o ressuscitou no terceiro dia e fez que ele fosse visto, não por todo o povo, mas por testemunhas que designara de antemão.” (At 10.40,41) A ressurreição é um dos temas principais de Atos, pois era a ela que os discípulos davam testemunho. N ão precisavam testificar

da sua morte, pois esta era conhecida em toda a cidade de Jerusalém; mas crer no fato da ressurreição era crer em Cristo como Messias, e na sua obra consumada. Deus fez a vara de Arão brotar, para comprovar que este era o escolhido por Deus; e Jesus Cristo, nosso Senhor “mediante o Espírito de santidade foi declarado Filho de Deus com poder, pela sua ressurreição dentre os mortos” (Rm 1.4). N ão poderia haver dúvida de que Jesus tivesse sido aceito por Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. Depois de a vara de Arão ter sido mostrada ao povo, foi guardada na presença do Senhor; da mesma forma, “foi visto durante muitos dias por aqueles que subiram com ele da Galiléia a Jerusalém”, e depois “se assentou à direita da majestade nas alturas”. A vara de Arão era “para a tribo de Levi”; e a ressurreição de Cristo, conforme vimos no tipo anterior, era a garantia de que seu povo seria ressuscitado: pois, “se o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês” (Rm 8.11). Este tipo é imperfeito porque a vara devia ser conservada como sinal contra os rebeldes. A ressurreição de Cristo, por outro lado, não nos relembra do pecado, mas da justificação; pois ele foi “entregue pelas nossas iniqüidades, e ressuscitado para a nossa justificação”. A vara, embora seja mencionada em Hebreus como um dos objetos contidos na arca, não se achava ali nos tempos de Salom ão; e a razão disso parece ser que no templo, que prefigura Cristo e sua igreja na glória da ressurreição, nada existia como lembrança do fracasso no deserto. E provável que haja uma referência à vara de Arão em Números 20, quando Moisés foi ordenado a pegar a vara e falar à rocha a fim de que esta jorrasse água. A rocha já fora ferida anteriormente, e isso nos fala da morte de Cristo; e Moisés devia segurar na mão o símbolo da ressurreição, e assim fluiriam as águas, assim como lemos em João 7 no tocante aos rios de água: “Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (v. 39). Lemos que Moisés pegou a vara que estava diante do Senhor; existe, sem dúvida, uma conexão entre esses tipos: a rocha que fora

ferida; a vara que brotara, e a partir de então estivera na presença de Deus; e as águas que jorraram. Pedro nos conta em Atos 2.23 a respeito da rocha ferida: “Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram, pregando-o na cruz”. Nos versículos 24 e 32, fala do antítipo da vara que brotara e que fora colocada na presença do Senhor, e dos rios de água: “Mas Deus o ressuscitou dos mortos; [...] Exaltado à direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou o que vocês agora vêem e ouvem”. N a purificação do leproso, conforme já mencionamos, existe uma prefiguração da ressurreição. Duas aves vivas e puras deviam ser apresentadas em favor do leproso curado. Uma das aves era morta num vaso de barro em cima de água corrente, e a ave viva devia ser mergulhada no sangue daquela, e deixada solta para o campo aberto. O sangue derramado da primeira ave fala-nos a respeito da morte de Cristo; e a segunda ave, da ressurreição de Jesus Cristo, que “foi para o céu e está à mão direita de D eus”. A ave levantou vôo em direção ao céu, com sangue nas suas asas; e o Senhor “pelo seu próprio sangue entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção” . Ao agruparmos os tipos da redenção, existe um deles ao qual já nos referimos, mas que não podemos omitir aqui: a entrada dos israelitas na terra prometida depois de passarem pelo rio Jordão. O Jordão nos fala da morte de Cristo, e a travessia desse rio nos fala da união dos crentes com Cristo na morte e na ressurreição. Colossenses nos apresenta essas duas verdades — “Vocês morreram” — que foi tipificado pelas doze pedras colocadas no Jordão, por cima das quais o rio fluiu imediatamente depois do o povo ter atravessado. “A li estão até ao dia de hoje.” Nossa união com Cristo envolveu um a união com a sua morte que nunca poderá ser mudada; mas existe o outro lado da verdade: “Portanto, já que vocês ressuscitarm com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus (v .l)”. Esse fato foi tipificado pelas pedras tiradas do meio do Jordão e colocadas na terra prometida; conforme lemos em Efésios 2: “Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (v. 6). Essas pedras representam a condição de todos os crentes — mortos com Cristo, e ressuscitados com ele.

Nosso lugar, aos olhos de Deus, está na terra prometida; pois “ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.2). Embora seja verdade que não devemos nos dar por satisfeitos a não ser que a nossa experiência corresponda com a nossa condição, a doutrina da Bíblia não parece justificar, conforme às vezes se ensina, que essas coisas são necessariamente uma experiência paulatina, ou que acontecem como segunda bênção à parte da conversão. Se, por falta de ensinamento, deixamos de perceber qual a nossa posição, não altera o fato de que, quando fomos unidos a Cristo pela fé, fomos participantes da sua morte e ressurreição, por estarmos em Cristo. A partir de então, nossa posição tem estado na terra prometida; e as lutas começaram a fim de tomarmos posse, passo a passo, daquilo que Deus nos tem dado. N ão precisamos nos mortificar ou colocar no sepulcro, conforme alguns ensinam; mas só reconhecer que em Cristo morremos, e que fomos ressurretos a fim de andarmos na novidade da vida. Três dias e três noites freqüentemente tipificam a morte e a ressurreição; assim como, por exemplo, na história de Jonas, cujos “três dias e três noites” são mencionados pelo Senhor como tipos do período que ele mesmo passaria no coração da terra. É provável que a morte e a ressurreição sejam tipificadas na resposta de Moisés ao faraó: “Faremos três dias de viagem no deserto, e ofereceremos sacrifícios ao S e n h o r , o nosso Deus” (Ex 8.27). O faraó queria que sacrificassem no país dele, ou que não se afastassem muito; mas o propósito de Deus é que haja um rompimento completo com o deus deste mundo, rompimento este que somente pode acontecer quando tomarmos a nossa posição em terreno da ressurreição. A arca da aliança do Senhor, em certa ocasião, foi diante dos israelitas durante uma viagem de três dias a fim de procurar um lugar de repouso para eles. Em Hebreus 11 vemos que Isaque, ao ser recebido de volta por Abraão depois de este o ter oferecido voluntariamente, era uma figura da ressurreição; e, posto que sabemos que Abraão é um tipo do Pai, que não poupou seu Filho, e que Isaque é tipo do Cordeiro fo rn ecid o por “Je o v á -Jir é ” , n ão po dem o s estar errad o s ao enxergarmos a cena como prenúncio da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. N em é destituído de relevância o fato de esse relato ser seguido em Gênesis 24 por um belo quadro do servo fiel saindo

para buscar uma noiva para o filho, que assim, figuradamente, passou pela vida e pela ressurreição. Existe uma cena profética no livro dos Reis na qual parece haver, no mínimo, uma referência à ressurreição. A filha de Jezabel, Atalias, procurara destruir toda a descendência da realeza; mas, embora ela pensasse ter conseguido, um “dentre os mortos” foi levado e escondido no templo do Senhor até ao tempo certo para a sua proclamação como rei. Era herdeiro do trono, mas uma usurpadora reinava; assim como agora o herdeiro do mesmo trono, o trono de Davi e o trono do Senhor (lC r 29.23), fica encoberto por algum tempo na presença de Deus, e não será visto pelo mundo até ao “dia da coroação que está para vir em breve”. O usurpador pensou ter destruído Jesus no Calvário, mas o Senhor ressuscitou dentre os mortos, e não demorará para assumir publicamente o seu poder e o seu reinado. Vemos em Apocalipse 2.20, 23 que Jezabel e seus filhos são evidentemente tipos do poder de Satanás e dos sistemas malignos que este tem introduzido; e o reinado de Atalias é um retrato notável da cristandade conforme ela é agora. A posição dos levitas, que são um tipo de igreja, nesta ocasião ilustram nossa atitude de esperarmos o sinal que nos chamará para o lado do Filho do Rei que “reinará”, a fim de que estejam os “acompanhemos o rei aonde quer que ele for”. Os levitas de todas as cidades de Judá, e os líderes dos batalhões de Israel foram informados pelo sumo sacerdote, do segredo que transformou-lhes a vida: “mostrou-lhes o filho do rei” (2Rs 11.5). Ficaram sabendo que não estava morto, mas vivo; e que quando chegasse o momento certo,/Seria proclamado rei. A fé na ressurreição do Senhor Jesus Cristo tem transformado a vida das pessoas desde quando aquela ressurreição ocorreu; pois lemos: “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que D eus o ressuscitou entre os mortos, será salvo” (Rm 10.9). Já não somos servos do usurpador, mas sabendo que seu domínio cessará em breve, esperam os o Filho proveniente do céu, quando, então, seremos arrebatados para nos encontrar com ele na sua glória. ‘“Sim, venho em breve!’ Amém. Vem, Senhor Jesu s!” (Ap 22.20)

6 AS HABITAÇÕES

U

DE DEUS

m estudo muito interessante é o de comparar entre si os lugares da habitação de Deus por todas as partes da Bíblia. O primeiro é o Tabernáculo, a respeito do qual ele disse: “Façam-me um santuário, a fim de que eu habite entre eles”. Foi esta a prim eira ocasião em que D eus habitou entre os seres humanos. Descia para visitar A dão no Éden, quando, então, andava no jardim no frescor do entardecer. Enoque e N oé andavam com Deus, que cham ava Abraão de amigo; mas nunca antes descera para habitar. Em Gênesis 9.27, onde é profetizado: “Habitará nas tendas de Sem ”, é possível que haja uma alusão ao Tabernáculo. Durante mais de quinhentos anos, era sua habitação na terra. A ndava “de tenda em tenda, e de tabernáculo em tabernáculo”, até dar instruções para Salom ão construir para ele uma casa, e o Templo passou a ser seu santuário, pois “o palácio não será feito para homens, mas para o S e n h o r o nosso D eus” (lC r 29.1). Estes dois, o Tabernáculo e o Templo, eram sucessivamente sua habitação nos tempos do AT. Mas depois de decorrerem muitos anos, veio o Senhor Jesus Cristo; e nele, na terra como também agora no céu, “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Lemos que “a Palavra tornou-se carne e viveu [lit.: tabernaculou] entre nós”. Era Emanuel, Deus conosco, o antítipo do Tabernáculo, e também do Templo; pois ele era “maior do que o templo” (Mt 12.6), e mais de uma vez se compara com este. Disse: “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias [...] mas o templo do qual ele falava era o seu corpo” (Jo 2.19,21). Durante 33 anos, andou por esta terra, e quando ascendeu, Deus veio habitar em outro templo. Agora habita na igreja, não meramente nos corpos

dos crentes individuais que são os templos do Espírito Santo, mas na “igreja, que é o seu corpo”. Conforme lemos em Efésios 2.20-22: “Tendo Cristo Jesus como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito”. Tem sido ressaltado que nesta passagem temos a igreja como antítipo do Templo e do Tabernáculo. N o versículo 22 há um edifício já completado no qual Deus agora habita — edifício montado como o Tabernáculo, nas areias do deserto. N o versículo 21, é referido um santuário que continua crescendo, que somente estará completo quando ele apresentar “a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante” (Ef 5.27). O Tabernáculo parece ser tipo de Cristo e da sua igreja agora; o Templo, de Cristo e da sua igreja na glória ressurretos, conforme lemos em Pedro: “Vocês também são pedras vivas edificadas numa casa espiritual”. Ainda não está terminada. Assim como o Templo de Salomão “foi construído de pedras preparadas antes de serem levadas para lá” — assim também cada pedra no Templo deve ser escavada da pedreira, cortada, e lavrada embaixo. O próprio Salomão adotou o plano que recomenda em Provérbios 24: “Termine primeiro o seu trabalho a céu aberto; deixe pronta a sua lavoura. Depois constitua família” (v. 27). Deus está fazendo isso agora. O campo é o mundo, e as pedras estão sendo preparadas aqui, uma por uma. Está escrito a respeito dos vasos do Templo que “na planície do Jordão o rei os moldou em terreno argiloso”; e assim também deve ser com “os vasos de misericórdia que antes preparara para a glória”. Toda a obra de moldagem e de corte deve ser feita aqui; e a cons­ trução não será completada até cada pedra ter sido totalmente acabada, e então “Ele colocará a pedra principal aos gritos de ‘Deus abençoe! Deus abençoe!’” (Zc 4-8). A pedra angular em Efésios 2.20 é a pedra fundamental, e fala do primeiro advento de Cristo; a pedra angular em Salmos 118.22, e a pedra principal referida em Zacarias 4, refere-se à sua segunda vinda. Existe menção de uma habitação futura em Ezequiel 37.26,27, e em outras passagens semelhantes, onde Deus promete que seu santuário estará no meio de Israel. Em Apocalipse 15.5 João vê “no céu o santuário, o tabernáculo do Testemunho”; e em 21.3

ouve uma voz dizendo: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá”. N ão sabemos a que ponto estas são referências à igreja glorificada; mas sabemos que quando ele vier e os mortos em Cristo forem ressuscitados, e nós, que estivermos vivos e permanecermos, seremos “arrebatados para nos encontrar com o Senhor nos ares”, nunca mais seremos separados dele; pois “assim estaremos para sempre com o Senhor”. João nos diz no mesmo capítulo do Apocalipse que na N ova Jerusalém “não vi templo algum na cidade, pois o Deus Todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo” (21.22); e sabemos que então terá sido atendida a oração do Senhor Jesus Cristo: “Para que todos sejam um, Pai, como tu está em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós” (Jo 17.21). E possível, portanto, que esse templo futuro seja Cristo e a sua igreja. Quando A dão caiu, o Senhor disse: “Agora o homem se tornou como um de nós” (Gn 3.22); e por isso o expulsou para longe da árvore da vida. Mas a oração de Cristo em João é “que também sejam um em nós”; e no Apocalipse o homem é acolhido de volta à árvore da vida, e a oração de Cristo é atendida. Ao estudarmos essas habitações — o Tabernáculo, o Templo, nosso Senhor mesmo, e a igreja — podem os rastrear m uitos pensamentos a respeito de cada um deles, e os comparar e contrastar entre si. Primeiro, há o modelo para cada um deles. Moisés é ordenado a fazer o Tabernáculo, e todos os seus utensílios, segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte (Êx 25.9, 40). Quando Davi deu a Salomão o projeto para todas as partes do Templo, ele disse: “Tudo isso a mão do S e n h o r me deu por escrito [...] para executar todos esses projetos (lC r 28.19)”. Sabemos que o Senhor Jesus Cristo é a imagem exata da pessoa de Deus, e que cada membro da igreja deve ser conformado com a imagem do seu Filho, “até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atinginda a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4-13). N a habitação de Deus, não há lugar para os projetos, desígnios ou invenções do homem. O padrão para todos é o próprio Cristo. Existe preparação em cada um dos casos. Forçosam ente, o Tabernáculo estava na mente de Deus quando mandou o povo pedir aos egípcios jóias de ouro e jóias de prata, e quando colocou

no coração daqueles que tinham sido seus opressores a disposição de lhes entregar tudo quanto pediram. Deus dissera a A braão que os israelitas “ sairiam com muitos bens” ; e, portanto, quando em Êxodo 25 Deus lhes mandou trazer contribuições, estavam bem supridos. Q uando, portanto, Deus nos pede que lhe entreguemos alguma coisa, ele sempre a dá primeiramente a nós. Ele faz os preparativos, e depois nos deixa dizer que nós “lhe pre­ pararemos habitação”. Q uando os materiais tinham sido en tre­ gues, Deus chamou Bezaleel, a quem encheu “do Espírito de Deus, dando-lhe destreza, habilidade e plena capacidade artística [...] para todo tipo de obra artesanal” (Èx 35.31-33), e o dispôs a ensinar outros, a fim de que a obra fosse realizada segundo o m o­ delo de Deus. Davi fez muitos preparativos para o Templo; pois disse: ‘“O Templo que será construído para o S e n h o r deve ser extraordina­ riamente magnífico, famoso e cheio de esplendor à visa de todas as nações. Por isso deixarei tudo preparado para a construção.’ Assim, Davi deixou tudo preparado antes de morrer” (lC r 22.5). Seis vezes em lCrônicas 29 esses preparativos são mencionados; pois quando Davi preparou, o povo também fez preparativos, e podiam dizer, assim como seus pais no deserto podiam ter dito: “Toda essa riqueza que ofertamos para construir um templo em honra ao teu santo nome vem das tuas mãos, e toda ela pertence a ti” (v. 16). Este é o sentido bíblico da consagração — encher nossa mão da parte da mão de Deus, e depois oferecer de volta a ele (lC r 29.5,14). Salom ão também, conforme já vimos, fez preparativos cuidadosos antes de começar a construir a casa. Q uando o Senhor Jesus veio e viveu (“tabernaculou”) entre os seres humanos, disse: “Um corpo tu me preparaste”. Sua saída era certa “como a alva” (Os 6.3, a r c ) ; e Simeão podia dizer: “ 0 Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo. Pois os meus já viram a tua salvação, que preparaste à vista de todos os povos (Lc 2.29-31)”. Agora Deus habita num “povo preparado para o Senhor” — na terra em humilhação, assim como no Tabernáculo; e posteriormente na glória, assim como no Templo, quando, então, “tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória” (Rm 9.23). Existem, também, preparativos para a habitação futura

de Deus. Em Isaías 2.2 lemos: “Nos últimos dias o monte do templo do S e n h o r será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele”; e em Apocalipse 21.2,3 João vê “a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido”; e ao mesmo tempo, ouve “uma forte voz vinda do trono, dizendo: Agora o Tabernáculo de Deus está com os homens’”. A cim a do Tabernáculo repousava a nuvem da shekiná que indicava a presença de Deus. Lemos que, quando Moisés armou o Tabernáculo, “Então a nuvem cobriu a Tenda do Encontro, e a glória do S e n h o r encheu o Tabernáculo. Moisés não podia entrar na Tenda do Encontro, porque a nuvem estava sobre ela, e a glória do S e n h o r enchia o Tabernáculo” (Êx 40.34,35). Terminadas todas as obras que Salomão, todos os objetos foram levados para dentro e colocados nos seus devidos lugares, e o Templo foi dedicado a Deus: “O s que tocavam cornetas e os cantores, em uníssono, louvaram e agradeceram ao S e n h o r . A o som de cornetas, címbalos e outros instrumentos, levantaram suas vozes em louvor ao S e n h o r e cantaram: ‘Ele é bom; e seu amor dura para sempre.’ Então uma nuvem encheu o templo do S e n h o r , de forma que os sacerdotes não podiam desempenhar o seu serviço, pois a glória do S e n h o r encheu o templo de Deus” (2Cr 5.13,14). Um a nuvem brilhante apareceu sobre o Senhor Jesus no monte da Transfiguração; e assim como no deserto Deus falou a Israel a partir da nuvem, assim também falou aos discípulos. D a nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado em quem me agrado. O uçam -no!”. A nuvem foi vista de novo quando o Senhor Jesus ascendeu; pois enquanto os discípulos estavam reunidos em seu redor no monte das Oliveiras, “foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles” (At 1.9). Lemos em ICoríntios 10.2 que todos os israelitas “estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no m ar”. Isso parece indicar que a nuvem era um tipo do Espírito Santo, pois “por um só Espírito todos nós fomos batizados em um só corpo”. Finalmente, na visão de João das coisas que virão a acontecer, lemos que “O santuário ficou cheio da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia entrar no santuário” (Ap 15.8).

O ouro, que é entendido como tipificação do divino, acha-se em cada um. A s tábuas no Tabernáculo eram revestidas de ouro; também o altar de ouro, a mesa dos pães da Presença, e a arca, ao passo que a tampa e o candelabro eram de ouro maciço. N ada de madeira, que é considerado representação da hu­ manidade, podia se ver no Tabernáculo nem no Templo; e neste último, “não se via nenhuma pedra”. Tudo era revestido de ouro puro. A respeito de nosso Senhor pessoalmente, lemos: “N o prin­ cípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus”. Era o Deus-homem; e o ouro, o divino, embora estivesse freqüentemente encoberto da vista, via-se, no decurso da totalidade da vida de Jesus, nos milagres que operava e nas palavras que falava. N o monte da Transfiguração, essa glória foi plenamente vista; e mesmo quando Jesus se humilhou e se tornou obediente à morte, à morte da cruz, o centurião e aqueles que estavam com ele disseram: “Verdadeiramente este era Filho de D eus” . A igreja, que é a habitação de Deus agora, também precisa do ouro; e todo membro da igreja precisa estar nascido de novo, e participante da natureza divina. Q uando, em Apocalipse 3, Cristo se lamenta por causa da mornidão dos laodiceus, diz: “Eu o aconselho a comprar de mim ouro refinado no fogo, para que se torne rico, e roupas brancas para vestir [...] e colírio para ungir os seus olhos, a fim de que você veja”; e lemos em ICoríntios 3 que no Tribunal de Cristo, quando, então, as obras dos crentes serão testadas, o ouro, a prata, e as pedras preciosas resistirão ao fogo.1N o templo de Salomão, “revestiu de ouro os pisos, tanto na parte interna como na externa do templo” (lR s 6 .30); e os pés dos sacerdotes pisavam nesse ouro, por contraste com a areia do deserto que servia de piso no Tabernáculo no deserto; ao passo que na N ova Jerusalém, na qual o próprio

'E possível que o ouro, as vestes brancas, e o colírio representem o próprio Deus — Pai, Filho, e Espírito Santo: pois lemos em Jó 22.25: “O Todo-poderoso será o seu ouro”; em Romanos 13.14: “Revistam-se do Senhor Jesus Cristo”; e em ljo ã o 2.20: “Vocês têm uma unção do Santo, e sabem todas as coisas.” Era do próprio Deus que a igreja de Laodicéia precisava; e ele estava disposto a entrar e morar com todo aquele que atendesse à sua voz e abrisse a porta para ele.

Senhor Deus e o Cordeiro são o templo, lemos que as ruas da cidade eram de ouro puro. O exterior dessas habitações merece uma comparação e contraste. O Tabernáculo estava coberto de couros, e ficavam encobertas as belezas por dentro. N ão podia ter havido nada de atraente na sua aparência; e era muito diferente da glória do templo de Salomão, que era “ornamentado com pedras preciosas”. N osso Senhor, enquanto estava na terra, era semelhante ao Tabernáculo, de modo que o profeta podia dizer: “Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada havia em sua aparência que o desejássemos. Foi desprezado e rejeitado pelos homens [...] Com o alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima” (Is 53.2,3) — e assim acontece com a igreja hoje. “O discípulo não está acima do seu Mestre, nem o servo acima do seu Senhor”; e no seu caráter de peregrina, a igreja também é desprezada e rejeitada pelos homens. N ão se considerava que o grupinho em Efeso tivesse muita impor­ tância. Enquanto o apóstolo lhes escrevia a sua carta, e comparavaos com o Templo e com o Tabernáculo, é provável que estivesse pensando naquele outro templo em Efeso, uma das sete maravilhas do mundo, a respeito do qual lemos em Atos 19 que Demétrio tinha m edo de “o tem plo da grande deusa Á rtem is cair em descrédito e de a própria deusa, adorada em toda a Província da Á sia e em todo o mundo, ser destituída de sua majestade divina” (v. 27). Aquele templo foi destruído há muito tempo, e podemos ver seus restos no M useu Britânico; mas os crentes de Efeso formavam parte de um templo que, de modo semelhante ao de Salomão, será “extraordinariamente magnífico, famoso e cheio de esplendor à vista de todas as nações”. Quando Cristo na sua glória ressurreta vier com a sua igreja, para ser admirado entre todos aqueles que crêem, a beleza daquele Templo será vista pelo universo inteiro. Muitos outros pensamentos podem ser rastreados através das habitações de Deus nos vários períodos bíblicos.

7 A

E

ARCA DA ALIANÇA

mbora seja útil comparar os tipos entre si, também é necessário estudar cada um separadamente. Por exemplo, no Tabernáculo é bom exam inar cada peça da mobília, e rastrear por toda a Palavra as várias referências a ela feitas. Notaremos, dessa forma, várias alusões ao candelabro, desde os tempos em que foi feito no deserto até quando foi empregado na festa de Belsazar, e a escrita do juízo foi vista “perto do candelabro”. Trata-se de uma advertência solene para não usar para outros propósitos aquilo que foi dedicado ao serviço do Senhor. D a mesma maneira, veremos o altar de bronze nos tempos de Salomão, de Acaz, e de Ezequias — usado por Salom ão ao oferecer mil holocaustos; deixado de lado por Acaz, que colocou no seu lugar um altar copiado de um rei pagão; e depois restaurado e purificado por Ezequias, em meio a cânticos de regozijo. A condição do povo podia ser julgada a partir do valor atribuído ao altar de Deus, e assim acontece hoje; se, pois, a obra vicária de nosso Senhor Jesus Cristo é tida em pouca estima, forçosamente fica fraca a vida espiritual na igreja ou no indivíduo. A arca da aliança é, porém, o objeto que é mais freqüentemente aludido, e está repleta de ensinos espirituais nos vários incidentes da sua história, à medida que a seguirmos através do deserto e do Jordão até Gilgal, em derredor das muralhas de Jericó, até Siló; depois, até à terra dos filisteus, e de volta através de Bete-Semes, Quireate-Jearim, e a casa de Obede-Edom, até finalmente repousar no seu lugar na tenda em Jerusalém e no templo de Salom ão. A história da nação tinha íntima conexão com a história da arca. Quando a arca estava no cativeiro, os israelitas tinham angústia e

aflição; mas quando ocupava o seu devido lugar, ficavam prósperos e felizes. Embora no Tabernáculo e no Templo tudo proclamasse a glória de Deus, a arca, mais do que qualquer outro objeto ali, parece prefigurar o Senhor Jesus. N ão há dúvida quanto a ela ser um tipo dele mesmo. O propósito para o qual foi feito comprova esse fato; pois Deus disse a Moisés: “A li me encontrarei com você, e me comunicarei com você de cima da tam pa da arca”. Lemos em Romanos 3 a respeito de Cristo Jesus: “Deus o apresentou como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue” (v. 25). [O “sacrifício para propiciação” representa a palavra traduzida por “tampa” no a t ] . Ele mesmo é o trono da graça, onde Deus se reúne com o pecador; é o lugar de encontro entre Deus e o homem. Nota-se que o apóstolo fala dele aqui com o título de “Cristo Jesus”. A ordem do seu nome não é sem relevância; e aqui se trata do ungido e exaltado, que antes era o homem sofredor na terra. O nome Jesus não é usado sozinho aqui — pois nesse caso nos falaria da sua vida de humilhação na terra; nem é colocado em primeiro lugar, como se ainda enfatizasse seu caráter como o Sofredor; pelo contrário, é “o Homem na glória” que agora é o sacrifício para propiciação, para cobrir o passado, e graça para o presente e o futuro. A arca era feita de acácia, revestida de ouro; e isso é geralmente entendido como representação da dupla natureza de nosso Senhor: o humano e o divino. Tem sido dito que os materiais dos quais a arca se compunha representavam a sua pessoa; e os propósitos para os quais a arca era usada, a obra dele. A arca era o lugar no qual as tábuas de pedra foram depositadas em segurança quando Deus lhes deu a Moisés pela segunda vez. N a primeira ocasião em que desceu monte e ouviu o som de gritos no acampamento, jogou as tábua de pedra no chão, e assim as despedaçou — o que simboliza como o povo violava a lei de Deus, con form e o hom em sem pre tem feito. N a segu n da vez, as providências já tinham sido tomadas. A s tábuas eram colocadas diretamente na arca, e Moisés acrescenta: “Ali permanecem”; o que nos faz lembrar de Jesus, a respeito de quem está escrito: “A tua lei está dentro do meu coração” — o único lugar onde ela tem permanecido sem ser quebrada. M as as tábuas de pedra também eram a aliança; e era conforme esse aspecto que Salomão se referiu a

e la s ao dizer: “Construí o templo em honra ao nome do S e n h o r , o

Deus de Israel. Coloquei nele a arca, na qual estão as tábuas da aliança do S e n h o r , aliança que fez com os israelitas”. A s tábuas da aliança estavam em segurança dentro da arca, o que o fez lembrar que Deus era um Deus que guardar as suas alianças (2Cr 6.10,11,14). Israel podia falhar, mas Deus nunca falharia. N ão estamos debaixo da mesma aliança que eles, pois há muito tempo tem sido comprovado que o homem nunca conseguiu cumprir a sua parte; mas Cristo se tornou para nós “garantia de uma melhor aliança”, que é entre ele e o Pai. Por um lado, trata-se de uma promessa da vida eterna, que Deus, que não pode mentir, prometeu ao seu Filho antes dos tempos eternos quando, então, essa dádiva foi dada à igreja (Tt 1.2; 2Tm 1.9); e, por outro lado, a garantia da parte do Filho de que guardaria aquilo que o Pai lhe dera. A aliança com Israel estava em segurança na arca. As promessas de Deus à igreja “nele são sim e amém”. Outras coisas estavam na arca nos dias do Tabernáculo — a vasilha de maná, e a vara de A rão que brotou; comprovantes das provisões que Deus supriu no deserto e da sua escolha do Ungido. Mas no Templo, vemos que já não estão ali dentro; provavelmente porque essas duas coisas tinham sido guardadas diante do Senhor como advertência contra os rebeldes (Nm 17.10), ao passo que, na glória, nada sobrará para nos lembrar disso. Os querubins foram feitos como parte integrante da tampa — sendo tudo uma única peça de ouro maciço. Várias interpretações diferentes são oferecidas para os querubins. Alguns os consideram os atributos de Deus; outros, como seu executivo na terra; e outros, como emblemas do homem redimido. O fato de serem um só com a tampa e de estarem representados no véu e, portanto, de serem rasgados com este, indica preferivelmente essa última interpretação; e as figuras dos seres viventes em Ezequiel e Apocalipse 5 também parecem justificar essa conclusão, por retratarem o ministério perfeito na terra ou na glória. As três pessoas da Trindade, na forma tipológica, estão todas vinculadas entre si em conexão com a arca; pois embora esta prefigurasse a obra e a pessoa do Senhor Jesus, a nuvem que repousa sobre ela parece tipificar o Espírito Santo; e Deus Pai falava ao povo de cima da tampa da arca.

O tipo estaria incompleto se nada houvesse no tocante à tampa para falar da morte de nosso Senhor Jesus Cristo; mas isso também temos, por se tratar de uma “tampa manchada de sangue”. O sangue dos sacrifícios — primeiramente do boi, e depois do bode — era aspergido nela no dia da expiação. Os querubins olhavam para aquele sangue, e o olhar de Deus repousava sobre ele; e, por causa do sangue, podia aceitar o povo. Era uma expiação, ou tampa de cobertura; pois o próprio Deus não olha através do sangue precioso. E um a tampa totalmente suficiente para o nosso pecado, de modo que lemos; “Naquele dia o sacerdote fará expiação por vocês, a fim de purificá-los, a fim de estejam puros dos seus pecados diante do S e n h o r ” . Pode ser dito a respeito deste tipo, o que foi dito na páscoa: “Quando eu vir o sangue, passarei por cima de vocês”. Em cada caso, o sangue era para ser visto por Deus somente; pois ninguém podia entrar no Lugar Santíssim o senão o sumo sacerdote, e mesmo ele, somente nessa única ocasião. A arca nunca foi exposta aos olhares do povo, pois mesmo quando era carregada de lugar em lugar, estava coberta pelo véu, pelos couros, e pelo pano azul. Q uando o Tabernáculo estava para ser removido, o véu era descido sobre a arca, a fim de que ninguém a contemplasse; e da mesma forma, o véu da encarnação cobria nosso Senhor enquanto ele viajava por esta terra. Um duplo sentido é atribuído a esses couros: primeiro, que seu exterior pouco atraente representava a humiliação de nosso Senhor, que encobria a sua glória de tal modo que fosse desprezado e rejeitado pelos homens; em segundo lugar, eram os couros que serviam de proteção contra a contaminação pelo mal — e é provável que haja verdade em ambas as interpretações. Acim a dos couros, havia o pano azul; e quando a arca estava sendo carregada nos ombros dos sacerdotes, aquela única peça azul se destacaria no meio da congregação, pois era o único objeto do Tabernáculo a ser coberto assim. O azul é sempre tom ado por representação do celestial; e sabemos que enquanto o Senhor Jesus estava na terra, esse era realmente o seu caráter (Jo 3 .13). Enquanto o levam os consigo agora, nosso testemunho deve ser, acima de tudo, celestial. A arca devia ser o centro do acampamento — “Jesus no meio”; e quando o acampamento viajava, cada um devia avançar segundo a posição que ocupava ali. Se cada um adotar sua posição certa

com relação ao próprio Senhor, também estará na posição certa com referência aos seus colegas cristãos. Um a só vez, nas peregrinações no deserto, ouvimos falar da arca deixar sua posição central e sair defronte do povo; e mesmo então, foi como repreensão a Moisés por sugerir que precisavam de outra pessoa, que não fosse o próprio Deus, para ser “o nosso guia” (Nm 10.32). Deus não aprovou de outra pessoa escolher o cam in h o do seu p o v o , e assim altero u a ord em do seu acampamento. “A nuvem do S e n h o r foi à frente deles durante aqueles três dias para encontrar um lugar para descansarem” (Nm 10.33). Deve também haver aqui um retrato daquilo que nosso Senhor tem feito pessoalmente ir à frente do seu povo naquela viagem maravilhosa, de três dias de duração, da sua morte e ressurreição. Realmente, por meio dessa viagem, ele achou para os seus um lu­ gar para descansarem, e foi adiante para lhes preparar lugar. Temos, em seguida, o relato da arca no Jordão. A s palavras de Josué 3: “Q uando virem a arca da aliança do S e n h o r [...] saiam e sigam -na” nos relembra Hebreus 12.1,2: “Corram os [...] tendo os olhos fitos em Jesus” . Aqui, também a arca foi adiante, e perm aneceu “ até que toda a nação o atravessou pisando em terra seca” (v. 18). Cristo é “o A utor e Consum ador da nossa fé” — ele a iniciou e completou; ele é “o A lfa e o Omega, o que é, o que era e o que há de vir” (Ap 1.8). O s israelitas foram ordenados a se santificar; nós, a nos livrar de tudo que nos atrapalha”. A arca entrou no Jordão e ali permaneceu até que cada um entre o povo atravessasse pisando em terra seca; ele, “pela alegria que lhe fora prop osta” — a de levar “m uitos filhos à glória” — “suportou a cruz”. E em estreita associação com essa cena que temos, pela primeira vez, menção de “o S e n h o r de toda a terra” . Ê um título usado somente em íntima relação com os israelitas na sua própria terra. Pela primeira vez como nação, seus pés se estabeleceram ali e, pela primeira vez, Deus adotou esse nome. Em relação com a volta de Israel a essa terra do cativeiro babilónico, quando, então, em Jesus, se tornarão o centro de bênção da terra inteira, o título volta a ser usado em Isaías 54.5; Miquéias 4.13; Zacarias 4.14 e 6.5. Durante o cativeiro, Deus é chamado, repetidas vezes, “o Deus do céu”.

Imediatamente depois da travessia do Jordão, lemos a respeito da arca sendo levada para dar uma volta ao redor da cidade, um vez por dia, até que, no sétimo dia, os sacerdotes rodearam a cidade sete vezes com a arca, o muro caiu. Jericó, segundo se nos diz, significa “fragrante com especiarias”, e talvez represente as seduções do mundo que são tão freqüentemente apresentadas diante do crente depois de este ter atravessado o Jordão e se colocado em pé na terra. N ão fomos ordenados a lutar contra o mundo, mas a levar Cristo conosco contra as tentações, e assim teremos a vitória. João diz: “O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que venceu o mundo; a nossa fé. Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (ljo 5.4,5). Nessa última frase, temos sua dupla natureza; e esta, conforme já vimos, era representada na madeira de acácia e no ouro do qual a arca era feita. Pouco depois de Jericó ter sido conquistada, lemos do fracasso em A i por causa da excessiva autoconfiança do povo, que subes­ timou o inimigo; e quando Josué fica totalmente esmagado pelo fracasso e derrota dos israelitas, prostra-se em terra diante da arca, em confissão. Sabemos que o trono da graça e o lugar para onde podemos comparecer a fim de obter misericórdia pelas derrotas passadas, e graça para as vitórias futuras. Em Josué 8.33,34, vemos que a arca está no meio quando a bênção e a maldição é lida diante do povo, “segundo o que está escrito no Livro da Lei”. Aquele que é simbolizado pela arca estará no meio como juiz, no dia em que Deus determinou, “em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou” (At 17.31); e agora ele está andando no meio dos candelabros, julgando as suas obras, e pronunciando bênçãos e advertências. Em ISam uel 4, temos uma descrição da arca caindo nas mãos dos filisteus. “A arca de Deus foi tomada”; ou, conforme o salmista descreveu o acontecimento, Deus “abandonou o tabernáculo de Siló, a tenda onde habitava entre os homens. Entregou o símbolo do seu poder ao cativeiro, e o seu esplendor, nas mãos do adversário” (SI 78.60). E assim que lemos que o Senhor Jesus foi capturado. Assim como os filisteus, assim também os inimigos do Senhor Jesus Cristo: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te

fosse dada de cima” (Jo 19.11). Tanto a respeito da arca, quanto a respeito de Cristo, a quem prefigurava, podia ser dito: “Vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram” (At 2.23). Os israelitas “fugiram, cada homem para a sua tenda”; e a Jesus “todos o abando­ naram e fugiram”. M as embora leiamos no capítulo 4 de 1Samuel que os filisteus revelaram ser mais fortes do que Israel, no capítulo 5 lemos que o Senhor era mais forte que Dagom. Esse ídolo caiu quando a arca de Deus foi colocada no templo; e, da mesma forma, quando Cristo entra no coração os ídolos caem. E semelhante àquilo que o hino diz: “Todos os ídolos foram arrancados do meu coração, agora ele me guarda pelo seu poder”. E somente a presença de Cristo que pode fazer isso. O homem forte e armado pode guardar a sua casa, mas quando entrar o mais forte do que ele, aquele é dominado. N ós não conseguimos expulsar o homem forte, nem derrubar os seus ídolos. Mesmo se conseguíssem os esvaziar a casa, m as não a en chêssem os da presença de Cristo, o espírito maligno voltaria de novo. N ão b as­ tam as nossas melhoras; precisa haver Cristo no coração. Quando, no jardim, os chefes dos sacerdotes entraram para prendê-lo, bastou Jesus proclamar seu próprio nome: “Sou e u ” , “eles recuaram e caíram por terra” (Jo 18.5); e assim foi demonstrado que nele habitava o mesmo poder que na arca nos tempos antigos. A história da arca naquela ocasião nos fornece uma ilustração maravilhosa da verdade em 2Coríntios 2.15,16: “Para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo. Para estes som os cheiro de m orte; para aqueles fragrância de vida”. Durante os sete meses que a arca permaneceu na terra dos filisteus, só produzia morte e destruição. Era levada de lugar em lugar; mas os castigos se tornavam cada vez piores. Que constraste com a história da sua permanência na casa de ObedeEdom, onde ela só trazia bênçãos! (2Sm 6.10). Para os filisteus, era “cheiro de morte para os que estão perecendo”; e para ObedeEdom, “fragrância de vida para os que estão sendo salvos”. “Tudo que lhe pertencia” recebia sua parte na bênção; e a notícia se espalhou, até o rei ouvir a respeito. Assim acontecerá naquele em cujo coração o Senhor Jesus fizer a sua habitação — outros ouvirão falar a respeito, e desejarão obter a mesma bênção. Nessas alturas,

o tipo é insuficiente, pois Obede-Edom precisou perder a presença da arca na sua casa quando Davi a levou para Jerusalém, embora não se nos diz que aquele perdeu a bênção. “Viremos a ele e habitaremos com ele”, é a promessa feita a todo aquele que ama a ele e guarda as suas palavras; e se outros ganharem a bênção através de nós, não sairemos perdendo com isso. Os juizes que caíram em conexão com a arca são muito sugestivos. O s homens de Bete-Semes foram feridos por olharem para dentro dela; o que demonstra que era demasiadamente sagrada para ser olhada com olhos curiosos. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai”; e o mistério de sua encarnação e da sua divindade não deve ser sujeitado a nossa tentativa de perscrutar com intimidade demasiada. Q uantas pessoas se desviaram na tentativa de se intrometer nessas coisas! Se Moisés não tinha permissão para se aproximar da sarça em chamas para ver “por que” não se queimava — pois Deus disse: “N ão se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa” (Ex 3.3-5) — decerto esse mistério muito maior deve ser tratado por nós com reverência ainda mais profunda. O juízo que caiu sobre Uzá nunca teria acontecido se as instru­ ções de Deus tivessem sido obedecidas. Ao enviarem para casa a arca, os goverantes dos filisteus a tinham colocado numa carroça nova puxada por duas vacas que deram cria; e “as vacas foram diretamente para Bete-Semes, mantendo-se na estrada e mugindo por todo o caminho; não se desviaram nem para a direita nem para a esquerda” (ISm 6.11,12). A o buscar a arca em Quiriate-Jearim, D avi abandou o modo “antiquado” que Deus ordenara. Deus ordenara que fosse carregada nos ombros dos sacerdotes, mas Davi usou um carroção novo, imitando os filisteus. Q uando os bois tropeçaram, a arca foi sacudida, e Uzá esticou o braço para segurálo, e foi ferido diante da arca (2Sm 6.3-7). O que Deus tolera entre seus inimigos não serve para o seu povo que possui a sua Lei. C on­ forme disse alguém: “Quanto mais perto de Deus uma pessoa ficar, com tanta mais gravidade e rapidez será julgado por qualquer iniqüidade: o julgam ento precisa com eçar na casa de D eus” . Procurar melhorar aquilo que Deus instituiu, por meio de imitar a religião do mundo, provocará juízo certeiro; mas quantos estão fazendo assim nos dias atuais!

Davi ficou com muito medo diante dessa manifiestação de poder, e ficou como Pedro quando este gritou “Afasta-te de mim, Senhor, pois sou pecador”; mas aprendeu a lição que Deus quis transmitir: pois em ICrônicas 15 vêmo-lo dizendo ao povo que caiu o juízo porque “não o tínhamos consultado sobre como proceder” (v. 13). E lhes diz que “Somente os levitas poderão carregar a arca de Deus, pois para isso o S e n h o r o s escolheu, para ficarem sempre a seu serviço” (v. 2); assim “os levitas carregaram a arca de Deus apoiando as varas da arca sobre os ombros, conforme Moisés tinha ordenado, de acordo com a palavra do S e n h o r ” ( v . 15). Dessa vez, “Deus havia poupado os levitas que carregavam a arca” (v.26), pois sempre ajuda aqueles que seguem as suas instruções. Referência é feita no salmo 132 à ocasião em que a arca foi trazida da casa de Abinadabe: “Soubemos que a arca estava em Efrata (Belém ), m as nós a encontram os nos cam pos de Ja ar (Quiriate-Jearim )”. Davi estava cheio de júbilo diante da perspec­ tiva da a ter na sua posse. Sempre há regozijo quando podemos di­ zer, juntam ente com Filipe: “N ós o acham os”. (O assunto do ministério diante da arca é amplo demais para ser tratado aqui.) Quando o homem segundo o coração de Deus foi rejeitado por Jerusalém, e o usurpador foi acolhido no seu lugar, a arca de Deus foi levada para fora de Jerusalém, e atravessou o ribeiro Cedrom juntamente com o rei rejeitado; o que nos relembra Jesus que, na hora mais sombria da sua rejeição, atravessou com seus discípulos o vale do Cedrom 0 o 18.1). Quando o Templo foi completado e dedicado ao Senhor, vemos que a arca foi levada ao lugar do seu repouso, e colocada no centro do cenários que prefigurava tão maravilhosamente o dia em que o Templo de Deus estiver completado, e os redimidos se reunirão em redor do próprio Deus. João, na sua visão, teve um vislumbre da arca; pois “foi aberto o santuário de Deus no céu, e foi vista dentro do seu templo a arca da sua aliança” (Ap 11.19). Q uando chegar aquele dia, já “não haverá necessidade de carregar o Tabernáculo, nem qualquer utensílio para o seu serviço” ; pois o Senhor Deus terá “dado repouso ao seu povo”. Assim como Deus escolheu os levitas na antigüidade, assim ele escolheu a nós para levarmos o seu nome agora; mas naquele dia futuro, nosso testemunho terá chegado ao fim.

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A SÉPTUPLA PROVISÃO DE DEUS PARA A PURIFICAÇÃO

A

o estudarm os os tipos ligados com o Tabernáculo e seu serviço, é bom agruparmos, não somente aqueles que se assemelham mutuamente quanto à forma externa — tais como as ofertas etc — , mas também considerar, ao mesmo tempo, aqueles que parecem ter sido instituídos visando propósitos semelhantes, embora estejam bastante diferentes em si mesmos. Um a série importantíssima de tipos nos é apresentada naqueles que representam a provisão que foi feita para lidar com a impureza. È impossível obtermos uma vista nítida do seu significado espiritual se forem considerados apenas individualmente; mas ao examinarmos essa maravilhosa prefiguração sétupla da provisão divina, vemos com quanta perfeição Deus cumpriu suas próprias exigências, e satisfez às nossas necessidades, mediante a morte do seu Filho. Segue-se a lista desses sete tipos, e do caráter específico de impureza para a qual cada um foi designado. 1. O grande Dia da Expiação era o dia em que a culpa de A rão e da sua casa, e da congregação inteira, era removida. 2. A oferta pelo pecado era uma satisfação pelos pecados de ignorância “contra qualquer dos mandamentos do Senhor”. 3. A oferta pela culpa era provisão a)por escutar juramentos falsos, sem testemunhar contra eles (o pecado da nação em M ateus 26.60,61); b) por tocar em coisas impuras sem o saber; c) por fazer um juramento precipitado; d) pelos pecados da ignorância nas coisas santas do Senhor; e) por determinados pecados contra o oitavo, o nono, e do décimo mandamento. 4. As cinzas da novilha vermelha eram antídoto para a impureza provocada pelo contato com a morte.

5. A purificação de leproso lidava com a impureza deixada pela lepra. 6. A bacia era para lavar as mãos e os pés, a fim de remover a contaminação do contato com a terra, etc. 7. A lâmina de ouro n o t u r b a n te d o su m o s a c e r d o t e , c o m su a in s c r iç ã o : “ S a n t i d a d e a o S e n h o r ” , d e v ia se r u s a d a n a s u a t e s ta , p a r a e le “ le v a r a in iq ü id a d e d a s c o is a s s a n t a s q u e o s is r a e lit a s c o n s a g r a r ã o e m t o d a s a s s u a s d á d iv a s s a n t a s .”

Os quatro primeiros nos oferecem aspectos diferentes da obra no Calvário; o quinto, conforme já vimos, acrescenta a esta o conceito da ressurreição; o sexto representa a lavagem na água pela Palavra; e o sétimo representa a obra do sumo sacerdote. Embora todos esses tipos falem em Cristo, a impureza que é para ser removida e os métodos da purificação variam muito entre si. N ão se pode dizer, portanto, que um deles relega outro; porque cada um tem um ensino distinto a transmitir. Nenhum deles deve ser omitido, pois só assim teremos um quadro completo da provisão divina para a nossa necessidade; e quanto mais os estudarmos, tanto mais completa será a nossa vista da santidade de Deus, da sua estimativa do pecado, e da nossa necessidade constante da purificação. 1. O primeiro tipo dessa série, o grande Dia da Expiação, tinha um aspecto coletivo e nacional, e a culpa do acúmulo de todas as iniqüidades, transgressões e pecado de um ano inteiro era posta de lado. O culto do dia é dividido em duas partes — a oferta dos dois bodes a favor de A rão e a sua casa, e a oferta dos dois bodes a favor da congregação, e é provável que haja dupla doutrina nisso. Arão e sua casa parecem ter referência especial à igreja; ao passo que a congregação de Israel representaria a própria nação, para a qual o D ia da Expiação terá seu cumprimento mais literal no grande dia da sua hum ilhação nacional, quando olharem para aquele que traspassaram, e se lamentarão por causa dele. Isso se vê claramente em Levítico 23, onde se vê que o Dia da Expiação vem depois da Festa das Trombetas — a convocação da nação e a Festa das Cabanas — o Reino de Cristo na terra. Mas além dessa interpretação judaica, há uma aplicação para nós agora. Segundo parece, referência é feita a esse tipo em Hebreus 9, onde o escritor fala dos três aparecimentos do Senhor. Primeiro, no passado: “ele apareceu uma vez por todos

[...] para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo” (v. 26) — representado pelo sacrifício do boi e do bode; agora, no presente, “se apresenta diante de Deus em nosso favor” (v. 24) — com o o sum o sacerdote, ao entrar com o sangue no Lugar Santíssimo; e finalmente, no futuro, “não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam” (v. 28) — saindo com bênçãos, como A rão na antigüidade, tendo sido resolvida a questão do pecado para todos aqueles em favor dos quais levara para dentro o sangue — cada um dentre a hoste dos redimidos do seu povo. 2 e 3. A oferta pelo pecado e a oferta pela culpa são freqüen­ temente consideradas juntas; mas embora estejam muito sem e­ lhantes entre si, diferem em certos aspectos. A oferta pelo pecado, conforme se nota tão freqüentemente, lida com a própria raiz do pecado, e não somente com os pecados e as transgressões, que são o seu fruto; mas é importante notar que cada uma incluía os pecados da ignorância. Se um israelita se desculpasse, dizendo que não conhecia a lei de Deus, isto não o isentaria da responsabilidade. “Embora não o soubesse, não deixa de ser culpado”. Nós, também, são estamos livres de culpa aos seus olhos, mesmo quando for por ignorância que deixamos de praticar a sua vontade. Essas ofertas comprovam que não basta ficaramos satisfeitos conosco, pensando que estamos andando “segundo nossa consciência”; devemos, pelo contrário, buscar “a plenitude do conhecimento da sua vontade”, sabendo que qualquer coisa menos do que isso tem a certeza de nos levar ao pecado. Paulo se chamava “o principal dos pecadores”, embora seu pecado tivesse sido cometido com ignorância e incredulidade. A palavra traduzida por “pecado” significa ser insuficiente, ou errar o alvo. Segundo The englishmans hebrew concordance, a expressão usada em Juizes 20.16: “cada um deles podia atirar com a funda uma pedra num cabelo sem errar”, poderia também ser traduzida por “não pecar”. Existem duas maneiras de errar um alvo — podemos mirar numa direção errada, ou podem nos faltar forças para atirar tão longe. Muitos deixam desapercebida essa última maneira de errar o alvo, e acham que se mirarem corretamente, não há pecado. Somos advertidos quanto ficarmos aquém da glória de Deus (Rm 3.23), da graça de Deus (Hb 12.15), e do repouso de Deus (Hb 4-1). “Aquele que de mim se afasta, a si mesmo se agride”

(Pv 8.36), por contraste com o versículo anterior, que diz: “Todo aquele que me encontra, encontra a vida”. Seguem-se algumas das definições bíblicas do pecado: “o pecado é a transgressão da Lei” (ljo 3.4); “Toda injustiça é pecado” (ljo 5.17); “tudo que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23); “pecado, porque os homens não crêem em mim” (Jo 16.9); “quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4.17); e lemos que “A vida de pecado dos ímpios se vê no olhar orgulhoso e no coração arrogante” (Pv 21.4); “A intriga do insensato é pecado” (Pv 24.9); também é pecado ser injusto com um irmão pobre (Dt 15.9; 24.15); e defraudar a Deus (Dt 23.21). 4- A purificação por meio da novilha vermelha parece, à primeira vista, assemelhar-se em certos aspectos à oferta pela transgressão, pois ambas eram estipuladas no caso de se tocar em coisa impura; e, portanto, por falta de estudar as duas juntas, a purificação por meio da novilha vermelha é geralmente considerada a substituição da oferta pela transgressão. Repetidas vezes, lemos nos comentários que a novilha vermelha era para a impureza no deserto; e nenhuma distinção é feita entre ela e as ofertas pelo pecado e pela culpa. Segundo parece, era providenciada para lidar com um tipo diferente de impureza; e embora enfatize o conceito de o sacrifício ter sido oferecido de uma vez por todas, outras verdades se destacam nos demais tipos. Dessarte, a purificação do leproso parece ser o único entre esses sete tipos que, além de falar da morte de Cristo, também fala da sua ressurreição; e a oferta pela culpa acrescenta o pensamento da reparação a Deus e aos homens. N a realidade, cada um dos sete acrescenta alguma verdade que é omitida nos demais. N a ordenança da novilha vermelha, em Números 19, nada existe para indicar que a impureza foi contraída por ignorância ou por descuido, que é o caso da oferta pela culpa. Poderia ter sido necessária e legítima; pois forçosamente alguém estaria junto na tenda quando uma pessoa morresse ali (v. 14); seria necessário alguém tocar no corpo (v. 11,13); seria necessário fazer o sepultamento; mas embora o contato fosse necessário, era contraída a impureza, e Deus estipulava uma oferta pelo pecado (Nm 19.9) para lidar com essa impureza. O único registro histórico do uso das cinzas da novilha parece confirmar esse pensamento. Em Números 31, os israelitas foram

ordenados a se armar e atacar os midianitas para “executarem a vingança do S e n h o r contra os midianitas”; e tendo feito isso, “Todos vocês que mataram alguém ou que tocaram em algum morto” são ordenados a se purificar segundo a lei em Números 19. Isso parece indicar que a impureza removida pela purificação pela novilha vermelha pudesse ser necessária e legítima; mas não deixava de ser impureza, e somente podia ser removida mediante a aplicação do remédio estipulado. N a nossa vida diária, e nos nossos trabalhos para o Senhor, estamos constantemente obrigados a entrar em contato com a morte espiritual; de modo que não podemos deixar de contrair a impureza, que prejudicará a comunhão, a não ser que vivamos no poder da obra consumada por Cristo; isso porque existe uma afinidade entre o pecado que em nós habita e o pecado que anda solto no mundo. A s cinzas falam da obra consum ada; pois dem onstram que o sacrifício foi aceito. Parece que referência é feita a esse tipo em Hebreus 9.13, e possivelmente em Hebreus 10.22. A sugestão de que a novilha vermelha era a provisão de Deus para a contam inação inevitável, não subentenderia que oferecesse uma desculpa pelo pecado, nem que fosse necessário ceder diante da tentação; ensinaria, pelo contrário, que tamanha é a santidade de Deus, que nosso coração, no contato com a morte espiritual ao nosso redor, fica contaminado, e que a morte de Cristo é o remédio que Deus oferece para isso, bem como todas as outras formas do pecado. Esse é um tipo de contaminação bem diferente daquela para a qual provisões foram oferecidas nos demais tipos desse grupo. Ê provável que a novilha vermelha tenha uma aplicação judaica especial em conexão com a culpa de sangue dos israelitas por causa da morte do seu Messias. Em Números 19, devia ser usada para a purificação individual, e não foi instituída como ordenança nacional, conforme acontecia no grande Dia da Expiação; mas as duas passagens proféticas que se referem a esse tipo parecem falar nele como uma purificação nacional, em conexão com o futuro de Israel. Em Ezequiel 36.24,25, lemos: “Pois eu os tirarei dentre as nações, os ajuntarei do meio de todas as terras e os trarei de volta para a sua própria terra. Aspergirei água pura sobre vocês e ficarão puros; eu os purificarei de todas as suas impurezas”; e em Zacarias

13.1: “Naquele dia uma fonte jorrará para os descendentes de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para purificá-los do pecado e da impureza”. Já vimos que a água da purificação, que era usada com as cinzas da novilha vermelha, era para a purificação da contam inação provocada pelo contato com a morte. Ageu nos diz que Israel, como nação, ficou contam inada assim diante de Deus: “Em seguida perguntou Ageu: ‘Se alguém ficar impuro por tocar num cadáver e depois tocar em alguma dessas coisas, ela ficará impura?’ ‘Sim’, responderam os sacerdotes, ‘ficará impura’. Ageu transmitiu esta resposta do S e n h o r : ‘É o que acontece com este povo e com esta nação. Tudo o que fazem e tudo o que me oferecem é impuro”’. O povo de Israel se tornara impuro por causa do sangue que derramou. O mesmo capítulo de Ezequiel que conta a respeito de serem aspergidos com água pura, oferece essa mesma razão pelo derramamento da ira de Deus sobre eles (Ez 36.18). A promessa de um a fonte que jorrará “para purificá-los do pecado e da impureza” , em Zacarias 13.1 (a mesma palavra usada no tocante à novilha vermelha em Números 19.13), segue imediatamente após a menção da culpa da nação por ter assassinado o seu Messias, pois os versículos finais do capítulo 12 falam em olharem para aquele que traspassaram, e chorarem por ele. Em seguida lemos: “Naquele dia uma fonte jorrará para os descendentes de D avi e para os habitantes de Jerusalém”. Os judeus disseram: “Seu sangue seja sobre nós e sobre nossos filhos”; mas Jesus orou: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem” — e aqui Deus faz provisão para purificá-los da contaminação. Se um indivíduo tivesse m atado um hom em na batalha, precisava da purificação da novilha vermelha; se tivesse meramente tocado no cadáver de um homem, sem depois se purificar, lemos que “será eliminado de Israel. Ficará impuro porque a água da purificação não foi derramada sobre ele; sua impureza permanece sobre ele”. Assim, Israel como nação foi eliminada. “Impuro por tocar algum cadáver” (Nm 9.10), não consegue observar a Festa da Páscoa; mas aqui uma fonte foi aberta para purificá-los do pecado e da impureza. De fato, eram assassinos do seu Messias; eles mesmos o “traspassaram ”, e nenhum sacrifício nas ofertas levíticas era providenciado no caso do pecado do assassinato; mas Jesus orou:

“Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem”. N o mesmo dia em que eles olharão para aquele que traspassaram, e lamentarão para ele, certam ente Jesus, assim como José, consolará seus irmãos culpados, e lhes dirá: “N ão foram vocês que me mandaram para cá, mas Deus”; e lhes dirá que Deus quem o feriu, o mesmo Deus que dissera: “Levante-se, ó espada, contra o meu Pastor, contra o meu Com panheiro!”. Com o resposta à oração de Moisés, Miriã foi curada da sua lepra; e em bora fosse considerada im pura, sua im pureza foi considerada muito menos do que aquela que realmente contraíra. E possível, portanto, que como resposta à oração do grande Intercessor, de quem Moisés era um tipo, Israel como nação, embora fosse eliminada por algum período, seja julgado impuro, mas não como assassinos — como se apenas tivessem estado presentes na morte do seu Messias. Os habitantes de Jerusalém são mencionados de modo especial em Zacarias 13; e nos surge à lembrança o cerimonial estipulado em Deuteronôm io 21, no caso de um cadáver ser achado nos campos, quando, então, as distâncias até às cidades vizinhas deviam ser medidas, e as autoridades da cidade mais próxima ao morto deviam levar uma novilha e matá-la num vale não cultivado. A novilha, assim como aquela que é mencionada em Números 19, devia ser uma que não tinha sido usada em nenhum serviço, e que não arara com jugo: “Então todas as autoridades da cidade mais próxima do corpo lavarão as mãos sobre a novilha cujo pescoço foi quebrado no vale, e declararão: A s nossas mãos não derramaram este sangue, nem os nossos olhos viram quem fez isso. A ceita, S e n h o r , esta propiciação em favor de Israel, o teu povo, a quem resgataste, e não consideres o teu povo culpado do sangue de um inocente’. Assim a culpa do derramento do sangue será propiciada. D esse m odo vocês elim inarão de vocês mesm os a culpa pelo derramamento de sangue inocente, pois fizeram o que o S e n h o r aprova” (v. 6-9). Naquele dia, os habitantes de Jerusalém, a cidade mais próxima do Homem morto, não poderá apresentar a petição supra, pois suas mãos derramaram o seu sangue; apesar disso, a fonte será aberta para eles, e serão aspergidos de água pura. Fica bem evidente que, no caso de Israel, bem como em nosso próprio caso, o aspecto da novilha vermelha na obra de Cristo não substituirá a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa. Depois da

volta dos israelitas do cativeiro para a terra prometida, temos muitas referências aos sacrifícios; e são mencionados a Páscoa, os holocaustos, as ofertas de cereal, as ofertas de comunhão, as ofertas de bebida e os primeiros frutos. Devem ser oferecidos como antes; e em Ezequiel 40.26 temos uma sugestão do uso individual da água da purificação. 5. A purificação do leproso. A lepra é sempre considerada uma tipificação do pecado; pois era uma doença incurável. Somente podia ser removida por poder milagroso; de modo que quando pediram ao rei de Israel que curasse Naam ã, exclamou: “Porventura sou Deus, para matar e para dar vida?”. Os vários milagres de cura que nosso Senhor realizou durante seu ministério público colocam diante de nós os aspectos diferentes da ruína provocada pelo pecado e por Satanás, e demonstram como Cristo consegue vencer o poder deles, desfazer a obra deles, e restaurar aquilo que ele não tirara. Três vezes, ressuscitou um morto, como sinal de que sua voz podia alcançar aqueles que estavam mortos nos seus delitos e pecados — a morte natural era apenas uma figura da morte espiritual. A paralisia pode ser tida como representação do enfraquecimento provocado pelo pecado; a febre, da inquietude e contágio do pecado; a cegueira, da ignorância à qual leva o pecado; a possessão demoníaca, da inimizade que é o pecado; a surdez, da incapacidade de escutar; e a mudez, da inca­ pacidade de testificar. N o homem com a mão atrofiada, vemos a incapacidade de trabalhar; no aleijado, a incapacidade de andar; na mulher encurvada com o espírito de enfermidade, a tendência do pecado à degradação e à depressão. Muitas dessas enfermidades são negativas no seu caráter; mas a lepra representa a corrupção do pecado, e nos fala da sua atividade e progresso. O s dois capítulos em Levítico que tratam a respeito (13 e 14) estão repletos de ensinos tipológicos; mas existe uma grande diferença entre os dois. N o capítulo 13, quem tivesse algo que pudesse ser “sinal de lepra” devia ser levado ao sacerdote, a fim de este declarar se era lepra, ou não. Várias instruções são dadas, segundo as quais o sacerdote pudesse distinguir essa praga de alguma coisa que lhe fosse semelhante a ela, sendo que o teste individual mais importante era se ela se propagava. Se, depois de ser observada durante alguns dias, revelasse ser a lepra mesmo, o homem será

declarado impuro, e morar “fora do acampamento”. Se a doença não se espalhasse, ou se cobrisse o corpo inteiro sem haver carne viva (v. 12,13), o sacerdote saberia que não era a lepra verdadeira; e que só precisaria lavar as suas roupas. O cerimonial estipulado em Levítico 14 não era, nem para o leproso que é descrito no capítulo 13.45,46, nem para o homem que o sacerdote declarara puro, por não ser leproso. Esses ritos não podiam remover a praga, mas eram destinados para aquele que sofrera da lepra e que fora curado. Eram para “o dia da sua purificação”, e subentendiam a sua confissão de que tinha sido leproso, e que Deus o curara (v. 2,3). Forçosamente, deve ter havido um milagre para transformar o homem descrito nos versículos 45 e 46 do capítulo anterior no ofertante curado em Levítico 14. N o capítulo 13, era vítima de uma doença abominável e morava sozinho — “fora do acampamento”; no capítulo 14, depois da cura da lepra, o sacerdote “sairá do acampamento” até ele, e depois de seguir a regulamentação acerca da purificação, o declarará puro, e o apresentará “diante do S e n h o r ” — expressão esta que é empregada oito vezes no capítulo 14. Esse capítulo 14, portanto, não parece ensinar (do modo que é geralmente declarado) que a aplicação da morte e ressurreição de Cristo possa remover a lepra do pecado. Esse último fato é apre­ sentado diante de nós em outros textos da Bíblia. Aqui, o conceito é mais da justificação do que do perdão. A s várias ofertas pelo pecado às quais já nos referimos falam da remoção da culpa do pecado; o presente capítulo nos conta que o pecador mais vil que é purificado por Cristo é tornado digno da presença do Deus justo que “justifica o ímpio”. N ão basta o pecador ser perdoado — passa a ser contado por justo. N a ave viva que foi solta em campo aberto temos um belo retrato da ressurreição e ascensão do Senhor; e este é apenas um desses sete tipos que parecem referir-se à ressurreição. Isso é muito significante se o pensamento principal do capítulo é a justificação — pois Jesus “foi ressuscitado para a nossa justificação”. E notável que não tenham nenhum registro do uso desses ritos a não ser quando veio o nosso Senhor pessoalmente e, tendo curado os leprosos, ordenou que fossem se mostrar ao sacerdote, e “oferecer pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que lhes sirva de testemunho” (Lc 5.14). N osso Senhor diz: “H avia

muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado: somente N aam ã, o sírio” (Lc 4-27); e ele não queria prestação à purificação cerimonial exigida pela Lei de Moisés. Outros profetas podem ter tido esse mesmo poder dado por Deus, mas não recebemos notícia dissso; e o próprio silêncio a respeito de outros possíveis casos de leprosos curados enfatiza o fato de ser necessário um milagre para remover essa doença terrível. A s leis ordenadas por M oisés eram, em todas as ocasiões, testemunho do ódio que Deus sente pela corrupção e pela conta­ minação, assim como também da vinda de Jesus, o único que tinha poder para curar o leproso. Davi, no salmo 51, provavelmente se refere a esse tipo, embora seja freqüentemente tomado como referência à “novilha vermelha”. Ora: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais bran­ co do que a neve serei” (v. 7). Em ambas as cerimônias, era usado o hissopo, a água e o sangue; e em Levítico 14 o sangue era literalmente aspergido no impuro. A lepra deixava a pessoa “branca como neve” (2Rs 5.17). D avi orou para que fosse purificado, de modo que, figuradamente, se tornasse “mais branco que a neve”. N os versículos anteriores desse salmo 51, confessa sua própria corrupção, e anseia pela remoção da sua lepra. N a sua confissão, acrescenta “de modo que justa é a tua sentença” (v. 4); e aqui vemos, assim como na história do publicano em Lucas 18.14, que quando o pecador justifica a Deus, Deus justifica o pecador. O leproso devia “morar sozinho”, conforme já contamos; por outro lado, aquele que seria purificado devia ser apresentado “diante do S e n h o r , ” e por isso Davi ora: “N ão me expulses da tua presença” (S I 51.11). O óleo que toca nos membros e é derramado sobre a cabeça parece estar lindamente sugerido na sua oração: “Faze-me ouvir de novo júbilo e alegriaf...] nem tires de mim o teu santo Espírito. D evolve-m e a alegria da tua salvação e sustenta-m e com um espírito pronto a obedecer” (v. 8,11,12). O óleo da alegria e do E spírito San to pousa sobre aqu eles “que foram ju stificad o s livremente pela sua graça” ; e que, pelas misericórdias de Deus, são conclam ados a apresentar os seus corpos como “sacrifício vivo”.

N o caso do leproso purificado, deviam ser tocados a orelha, a mão, e o pé; mas Davi também sentia a necessidade de ser purificado o seu coração (v. 10). A purificação do leproso também tinha que ser acompanhada pelos sacrifício, “conforme os seus recursos” (Lv 14.30), aos quais D avi parece se referir em Salm os 51.16,17,19. Precisaria da purificação mediante a novilha vermelha por ter morto Golias, e por todas as demais conquistas que tinham sido realizadas por meio do derramento de sangue (lC r 27.3); mas ela não cobriria a situação do assassinato de Urias, nem da culpa dos crimes de sangue — não havia propiciação por semelhante culpa (Nm 35.31); mas Davi achava que seu pecado o tornara impuro como leproso diante de Deus. 6. A bacia de bronze. A interpretação de cenário em João 13 parece ser a explicação da bacia de bronze; e, tendo como base o comentário de nosso Senhor sobre seu próprio ato de lavar os pés dos discípulos, vemos que ambos tipificavam sua provisão para manter a comunhão com o seu povo. A bacia de bronze falava da preparação para o serviço e o culto no Lugar Santo. Os sacerdotes já tinham se lavado, e não precisavam lavar as mãos e os pés. Os discípulos estavam limpos, pois tinham tomado banho, mas não podiam ter comunhão com seu Senhor sem lavarem os seus pés. N ão existe nesses dois incidentes uma sugestão de uma aliança diferente? — pois suas mãos não foram lavadas em João 13. N a Lei, fala-se muito naquilo que devemos fazer; ao passo que, segundo a graça, tudo foi feito em nosso favor; e se andarmos corretamente, a nossa obra será aceita. Havia bem poucas instruções a respeito da construção da bacia de bronze. N ão é citado o seu tamanho também, nem a quantidade de água que continha. Tipificada por ela, havia uma provisão ilimitada. Efésios 5.25 é prefigurado pelo altar de bronze, onde “Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela”. O versículo seguinte apresenta o antítipo da bacia de bronze: “para santificála, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra”; ao passo que o versículo 27 representa a igreja no futuro: “e apresentála a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante”; já não ficará no pátio externo, onde fivacam o altar

de bronze e a bacia de bronze, mas no Lugar Santíssimo, “dentro do véu, para onde o precursor entrou por nós” (Hb 6.20). A bacia de bronze era feita de espelhos (Ex 38.8) e representava um espelho. Existem duas pessoas que podemos ver no espelho da Palavra de Deus: primeiro, a nós mesmos, e depois, a ele mesmo. “A ssim como a água reflete o rosto (Pv 27.19), assim também nas águas vivas da verdade revelada o homem vê sua própria imagem”. O apóstolo Tiago nos diz que “Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e imediata­ mente se esquece da sua aparência” (Tg 1.23, 24). Paulo nos conta, em ICoríntios 13.12, a respeito de outra Face que podemos ver no mesmo espelho; por mais obscura que pareça, por enquanto, mas ao olharmos para ela, exclamamos como os discípulos no passado: “Que tipo de homem é este?”. “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas então, veremos face a face.” Em 2Coríntios 3.18, Paulo nos diz qual é o resultado de olhar assim: “E nós, todos os que com a face descoberta contemplamos [ou refle­ timos como em espelho] a glória do Senhor [na face de Jesus Cristo, 4.16], segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez m aior”. Nós mesmos nos transformamos em espelho para refletir a sua imagem. Já foi feita referência aos vários significados da água; e já vimos que, quando são referidas as suas propriedades purificadoras, ela simboliza a Palavra. “Agora vocês são limpos pela Palavra que lhes falei.” “Santifica-os na verdade; a tua Palavra é verdade.” (Jo 17.17) “Como pode o jovem manter pura a sua conduta? Vivendo de acor­ do com a tua palavra.” (SI 119.9) 7. O último n a n ossa lista é o turbante do sum o sacerdote, com seu diadema de ouro, na qual era gravado: “C on sagrado ao S e n h o r ” . A o usar o diadem a, lem os que: “assim ele levará a culpa de qualquer pecado que os israelitas com eterem em rela­ ção às coisas sagradas, ao fazerem todas as suas ofertas. Estará sempre sobre a testa de A rão, para que as ofertas sejam aceitas pelo S e n h o r ” (E x 28.38). Em toda a nossa adoração e em todo o nosso serviço existe pecado; e assim precisamos do nosso gran­ de sumo sacerdote para com parecer na presença de D eus em nosso favor.

“Por isso ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles.” (Hb 7.25) Podemos nos aproximar do trono da graça com toda a confiança, mas, conforme nos ensina a expressão “assim sendo”, em Hebreus 4.16, e por causa de ele, e não nós, estar sem pecado. Segundo o modo belo de dr. Bonar expressar esse fato: Há perdão, não somente para nossas omissões de dever, mas também para nossos próprios deveres; não somente para nossa falta de oração, mas para nossas orações; não somente por termos rejeitado a Cristo durante longo tempo, mas pelos nossos pecados ao nos chegarmos a ele; não somente pela nossa incredulidade, mas pela nossa fé; não somente pela nossa inimizade no passado, mas pelo nosso atual amor frio; não somente pelos pecados que levamos a Cristo, mas pela nossa maneira de os levar; não somente pelos pecados que levamos ao altar do holocausto, e colocamos sobre o sacrifício sangrento, mas pelo modo imperfeito de os levar, pelos motivos impuros que macularam o nosso serviço, e também pelos pecados que se misturaram em nossa adoração quando estivermos em pé dentro do véu, no santuário onde a majestade do Santo fez a sua habitação. Se houvesse mais estudo desses sete tipos, não ouviríamos tão freqüentemente alguns cristãos dizerem estar isentos do pecado; pois mediante esses quadros vemos quantas formas de impureza existem, como são abomináveis para Deus, mas, mesmo assim, como ele fez provisão para todas elas no Senhor Jesus Cristo. N unca superaremos a necessidade dessa provisão até acordarmos na sua semelhança.

9 AS OFERTAS

O

método de pôr vários tipos um ao lado do outro é bíblico, conform e vem os nos primeiros capítulos de Levítico. O próprio Espírito Santo adotou esse plano nessa parte da Bíblia e nos ofereceu um grupo maravilhoso que representa a obra e a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo em vários aspectos. Muitos escreveram sobre as ofertas, e os que mais as estudaram talvez concordem que estão apenas começando a ver a beleza delas. “Jesus Cristo, e este crucificado” é o assunto que elas nos apresen­ tam. E parece estranho que o crente que ama a Bíblia deixe essas páginas inexploradas. O estudo das ofertas é uma grande salvaguarda contra opiniões confusas a respeito da santidade, da santificação, do pecado, etc. Ê impossível subestimar o que o pecado é de fato, depois de estudar as exigências de Deus e sua provisão. Nenhum exame geral dos tipos seria completo sem pelo menos um breve olhar nesse tesouro inexaurível. Por isso, aqui se oferecem algumas reflexões, colhidas de muitas fontes, que se revelaram úteis nesse estudo. Vários aspectos dessas idéias já foram aludidos em capítulos anteriores. A ordem das ofertas em Levítico é segundo o ponto de vista de Deus. Primeiro, há o holocausto, depois, a oferta do cereal; a oferta de comunhão; a oferta pelo pecado; e a oferta pela culpa. Quando comparecemos diante de Deus como pecadores, temos vislumbres dos vários aspectos da obra de Cristo na ordem oposta a essa. Em primeiro lugar, ficamos sabendo que precisamos de perdão pelos atos específicos de pecado que cometemos, e nossa necessidade é atendida na oferta pela culpa. Em seguida, ficamos sabendo que não

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